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A companhia anunciou o pedido de recuperação judicial em setembro.
Na última terça-feira (01), a Agrogalaxy divulgou que foi proferida a decisão da 19ª Vara Cível e Ambiental da Comarca de Goiânia deferindo o processamento do pedido de recuperação judicial da companhia e de suas subsidiárias.
Segundo comunicado, a companhia anunciou o pedido de recuperação judicial em setembro destacando que nos últimos meses se manteve de esforços para lidar com desafios significativos relacionados a eventos climáticos e deterioração das condições de mercado.
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Sinal vermelho para FIIs após pedido de recuperação judicial da Agrogalaxy
A Agrogalaxy anunciou que entrou com um pedido de recuperação judicial, após não ter conseguido efetuar o pagamento de uma amortização de R$ 70 milhões que venceu na véspera. A empresa, que opera uma vasta rede de mais de 100 lojas de insumos agrícolas, enfrenta uma dívida líquida superior a R$ 1,5 bilhão, composta por compromissos com bancos e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). No entanto, sua dívida total é ainda mais significativa, ultrapassando os R$ 4 bilhões, quando incluídas as obrigações com fornecedores.
As ações da Agrogalaxy, que já estavam sendo negociadas em patamares próximos ao mínimo histórico, despencaram mais de 13% após o anúncio, refletindo o impacto negativo da notícia no mercado. A situação da companhia se agravou ainda mais com a renúncia do CEO e de cinco dos nove membros do conselho de administração, deixando a governança da empresa em uma posição frágil e levantando preocupações sobre o seu futuro.
O pedido de recuperação judicial da Agrogalaxy não surpreendeu, mas reflete a deterioração financeira observada desde a mudança no setor agrícola em 2023. A empresa, controlada pela Aqua Capital, adotou nos últimos anos uma estratégia de crescimento agressiva, baseada na aquisição de revendas e fusões financiadas por uma combinação de capital e dívida. Esse movimento elevou significativamente seu nível de alavancagem.
“Os anos de 2020, 2021 e 2022 foram muito bons para a agricultura e para o setor de insumos. As margens das distribuidoras estavam muito altas e elas formavam muito estoque porque esse estoque só se valorizava,” disse um gestor de Fiagro.
“Isso fez com que as distribuidoras pisassem no acelerador.”
Mercado agrícola favorável
Durante o período em que o mercado agrícola estava favorável, o elevado endividamento permaneceu “camuflado”, uma vez que os preços das commodities agrícolas, como soja e milho, estavam em alta.
No entanto, em 2023, a queda acentuada no valor dessas commodities e a retração dos produtores rurais, que passaram a desacelerar suas atividades, afetaram diretamente a Agrogalaxy.
“Para o produtor foi a tempestade perfeita. Ele tinha comprado o fertilizante no high, por conta da guerra na Ucrânia, e depois teve que vender a soja no low,” disse outro gestor.
Como grande parte das suas vendas é realizada a prazo, com pagamento somente após a colheita, o aumento nos atrasos e inadimplências dos produtores pressionou ainda mais a liquidez da companhia.
Diante dessa crise no setor, o pedido de recuperação judicial surge como uma tentativa da Agrogalaxy de reestruturar suas operações e renegociar suas dívidas, em um cenário de incertezas que também acendeu o alerta no mercado de FIIs e FIAGROS, já que muitos desses fundos estão expostos ao setor agrícola e podem sofrer os reflexos dessa crise.
Dupla pressão em anos de safra ruim
Essa dinâmica faz com que a Agrogalaxy enfrente uma dupla pressão em anos de safra ruim: além de lidar com o aumento de inadimplência em sua carteira de crédito, a empresa ainda sofre com a queda nos pedidos para a próxima safra. Com margens já apertadas, a empresa viu seus resultados financeiros passarem a operar no vermelho.
Tradicionalmente, o setor opera com margens EBITDA entre 5% e 6% e margens líquidas de 2% a 3%. Nos anos de crescimento, a Agrogalaxy chegou a registrar margens EBITDA acima de 10% e margens líquidas superiores a 5%, criando a falsa impressão de que seu nível de endividamento era sustentável. No entanto, nos últimos dois anos, essas margens se tornaram negativas. No segundo trimestre deste ano, a margem EBITDA da empresa foi de -7,9%, piorando em relação aos -4% registrados no mesmo período do ano anterior.
Outro fator que contribuiu para a crise, segundo gestores consultados pelo Brazil Journal, foi a dificuldade da Aqua Capital em integrar as revendas adquiridas pela Agrogalaxy. A proposta inicial era unificar as operações, mas o que ocorreu foi a criação de “clusters” separados. “A revenda do Centro-Oeste, por exemplo, não seguia a mesma política de crédito da revenda no Paraná”, comentou um gestor.
Apesar dos esforços para se ajustar ao novo cenário, como a redução de despesas operacionais (SG&A) e a tentativa de capitalização, a empresa não conseguiu reverter a situação. Em dezembro, a Aqua Capital fez um aporte de R$ 150 milhões na Agrogalaxy, mas, segundo um investidor, “foi como jogar água em uma frigideira quente”, refletindo o impacto limitado da injeção de capital frente ao tamanho dos desafios da companhia.
“Nesse nível de juros, com a alavancagem que eles estavam, e com a forma como veio essa inversão de mercado, era muito difícil reverter a situação,” disse o gestor de Fiagro.
Credores
Os principais credores bancários da Agrogalaxy são o Santander, Citi e Banco do Brasil. No mercado de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), fundos como os Fiagros da Capitânia, JGP e XP Asset possuem exposição relevante à dívida da empresa. Para esses fundos, o impacto da recuperação judicial será significativo. O CPTR11, gerido pela Capitânia. E, tem 7% de seu patrimônio líquido atrelado à Agrogalaxy, enquanto o XPCA11, da XP Asset, apresenta uma exposição ainda maior, de 8,2%. Já o JGPX11, da JGP, possui 8% de seu portfólio em CRAs da companhia.
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