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- Quem está acompanhando a economia brasileira nos últimos tempos assistiu de camarote as movimentações do Banco Central para tentar conter a inflação.
- A pandemia causou danos severos nas escalas globais de produção, e quando o cenário parecia melhorar, uma guerra eclodiu entre Rússia e Ucrânia, prejudicando ainda mais a oferta das commodities no mercado global e “encarecendo” os processos de produção.
- O resultado? Crises inflacionárias ao redor do globo, e no Brasil não foi diferente. No entanto, segundo alguns analistas o “pior da inflação já passou”.
Os novos números da inflação anunciados nesta manhã indicam que a alta de preços perdeu força no atacado, o que deve reduzir a pressão por repasses no varejo e trazer um alívio ao consumidor.
O IGP-M de junho, divulgado hoje cedo pela FGV, mostrou uma variação de 0,59%, abaixo do esperado pelos analistas do mercado, que era 0,7%.
Nos últimos doze meses, a alta ficou em 10,7%, o que representa uma desinflação dramática em relação ao mesmo período do ano passado. Em junho de 2021, o IGP-M acumulado em 12 meses havia atingido 35,75%. Além disso, a partir do próximo mês haverá o impacto do corte nos tributos dos combustíveis e das tarifas públicas.
O resultado dessa virada poderá ser uma freada na indexação inflacionária, o ciclo vicioso de retroalimentação dos preços futuros com base nas altas passadas. A boa notícia no IGP-M de hoje foi a diminuição da alta na componente de preços ao produtor (atacado) – a variação foi a menor em quase dois anos. No índice da FGV, essa componente tem 60% de peso no cálculo final.
O custo das matérias-primas brutas, incluindo produtos agropecuários, teve deflação pelo segundo mês seguido.
“Depois de o mercado ter sido surpreendido no passado por tantas notícias negativas na inflação, começaram a surgir as surpresas positivas”, disse a economista Tatiana Nogueira, da XP. “A alta menor dos custos agropecuários e industriais deverá chegar ao consumidor final.
Poderá haver essa transmissão.” Nas próximas semanas, começarão a aparecer nos índices os efeitos do alívio tributário. Os bancos estão revendo as estimativas, e o IPCA – o índice oficial de inflação e referência para as metas do BC – deve chegar ao fim do ano abaixo do estimado anteriormente.
No Inter, a economista Rafaela Vitória estima que a limitação do ICMS nos serviços essenciais em 17% (o PLP 18) deverá reduzir em 12% as tarifas de energia a partir de julho. Haverá ainda o efeito sobre o preço dos combustíveis. Como resultado, o IPCA deve ter variação negativa no próximo mês.
“A desaceleração nos preços das commodities e a diminuição nos tributos terão efeitos significativos na redução da indexação inflacionária”, disse Rafaela. “No Brasil, por causa da indexação, quando sobe o preço dos alimentos sobe o preço da eletricidade.”
O Inter esperava 8,9% de IPCA para 2022; agora prevê 7,7%. A XP reviu o índice de 9,2% para 7%. O Citi também atualizou recentemente a projeção, diminuindo de 9,3% para 8%. Já no Itaú a revisão foi de 8,7% para 7,5%. Apesar da melhora, a inflação fechará o ano bem acima da meta oficial de 3,5%. Além disso, paira a dúvida sobre até que ponto não haverá uma rebote dos preços no próximo ano, caso parte do alívio tributário seja transitório.
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