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Muito do que se passou nos últimos dois anos pode fazer lembrar o ditado da “desgraça pouca é bobagem”. Em março de 2020, fomos surpreendidos, e isso a nível global, pela avalanche da Covid-19, e ela trouxe consigo dores que extrapolaram o âmbito sanitário.
Entre elas, as econômicas, caracterizando no Brasil um cenário de inflação e desemprego. Em efeito bola de neve, as consequências de tais impactos são perceptíveis em dados como o dos endividados no país, aferido em pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio) divulgada em janeiro último.
De acordo com a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), o endividamento das famílias brasileiras em 2021 foi recorde nos últimos 11 anos, atingindo a média de 70,9%, 4,4 pontos percentuais superior ao índice de 2020.
A confluência de eventos parece obedecer a certa lógica. Menos renda, preços maiores, dívidas em escalada. Mas mesmo em meio a essa tormenta toda é possível divisar a ponta de um fio que pode ser o da virada. A mesma Peic indica que a média anual de inadimplência das famílias caiu, de 25,5% em 2019 para 25,2% em 2020.
Há uma substancial diferença entre endividamento e inadimplência. Esta ocorre quando a dívida está em atraso, e esse é o grande problema em se tratando de gestão das finanças. O pulo do gato é manter os débitos sob controle, evitando males como o da negativação do nome do devedor.
E, aqui, podemos analisar a situação também sob o viés do acúmulo de circunstâncias, só que, em vez de em desabalada carreira encosta abaixo, no sentido contrário, com algum esforço, em uma combinação de virtudes rumo a um platô de segurança e estabilidade.
Se a própria CNC prenuncia, em suas análises, que em 2022 corremos o risco de ter de enfrentar o aumento da inadimplência no país — uma ameaça delineada já nos números levantados pela confederação no último trimestre de 2021 —, o desafio é saber por onde começar a desenrolar esse fio para que as contas dos brasileiros não se percam em um emaranhado sem fim.
É uma dificuldade que precisa ser atacada simultaneamente por diversos flancos. Um dos lados desse combate é o do equilíbrio do orçamento. Dele faz parte colocar ganhos e gastos no papel, identificando onde as despesas do dia a dia podem ser diminuídas e quais delas são desnecessárias para o momento. É tempo de rever dispêndios supérfluos e, dada a conjuntura, apertar o cinto nesse sentido.
Inteligência estratégica
Tratamos basicamente, então, de educação financeira, já pavimentando o caminho para outro conceito paralelo: o do consumo consciente. Dele fazem parte o corte de desperdícios e a busca por itens que, a curto, médio e longo prazos, favoreçam a harmonia contábil.
Inteligência estratégica é fundamental nesse processo. Um exemplo: trocar a velha geladeira por um modelo que consuma menos eletricidade significaria um investimento inicial, sim, mas que no futuro se pagaria com a economia na conta de energia.
O montante para essa compra do eletrodoméstico, aliás, pode ser obtido mediante um empréstimo, desde que ele não comprometa a saúde orçamentária. Assim, o uso do crédito também é realizado de maneira conscienciosa, tornando-se uma ferramenta eficaz de viabilização de propósitos.
Manter as finanças sob controle acaba sendo mesmo o ponto de partida para uma convergência de perspectivas favoráveis, que incluem, entre outros aspectos, a configuração de um perfil bem-visto pelo mercado em termos de risco, facilitando transações futuras na seara creditícia.
Além disso, torna-se um meio eficiente para romper um paradigma bastante prejudicial: segundo uma pesquisa de 2021 do Banco de Desenvolvimento da América Latina, mais da metade dos brasileiros (53%) conseguiriam saldar suas despesas só com recursos próprios por no máximo três meses se perdessem sua fonte de renda.
Constituir um fundo de reserva é uma prática bastante desejável para enfrentar emergências, e a crise da pandemia deixou isso ainda mais claro. Trata-se, no entanto, de uma providência que demanda empenho e disciplina.
Olhando pelo lado da tarefa, essa questão me remete ao mito de Sísifo, cuja missão era empurrar uma pedra ladeira acima. Mas o desfecho dessa saga, para nossa reflexão, é totalmente oposto ao da mitologia. Quando Sísifo chegava ao topo da montanha, a pedra escorregava encosta abaixo e ele tinha de recomeçar o trabalho todo de novo.
No caso da busca pelo equilíbrio nas contas, o desfecho é outro: o esforço do movimento é compensado, e, a partir do momento em que se chega ao topo, nele é instituída a pedra fundamental da solidez orçamentária.
Mas tal conquista requer atenção plena e constante, para que um escorregão no controle de ganhos e gastos não ponha tudo a perder. Bons hábitos têm de ser lapidados com frequência, especialmente em um contexto geral marcado pelas intempéries.
Sobre Carolina Rezemini
Carolina Rezemini é Diretora Regional de Vendas para a América Latina da Credolab desde janeiro de 2021. Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, atuou tanto na área de cartão de crédito como na de empréstimos pessoais.
Crédito: Credolab
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