As ações estão muito baratas e tem sido assim há muito tempo.
Nikolaj Lippmann, estrategista-chefe de ações para a América Latina do Morgan Stanley, a bolsa tinha tudo para decolar neste ano de 2024, mas as ações estão muito baratas e tem sido assim há muito tempo e provavelmente continuará assim até encontrarmos uma maneira de baixar as taxas de juros.
Segundo informações, a dinâmica do mercado deverá continuar, com traders apostando em pelo menos 02 pontos percentuais de aumentos adicionais da Selic no Brasil este ano, mesmo com previsão de que o Fed cortará pelo menos meio ponto.
“O investidor estrangeiro fica cansado da volatilidade e o Brasil virou um grande casino”, disse Daniela Da Costa-Bulthuis, gestora baseada em Roterdã. “A política econômica não é consistente e o mercado é muito arriscado e orientado para o curto prazo.”
Os investidores locais e os estrangeiros parecem igualmente pessimistas. Fundos brasileiros reduziram as suas alocações para 8,6%, proxímo do nível mais baixo em sete anos, de acordo com dados compilados pelo Bank of America. Entretanto, os estrangeiros retiraram R$ 1,6 bilhão do mercado de ações em setembro e outros R$ 2,06 bilhões até agora em outubro. As ações domésticas registraram saídas de capital estrangeiro em oito dos dez meses deste ano.
O presidente Lula não tem feito muito para aumentar a confiança dos investidores. A administração aumentou gastos e posterga revisões orçamentais que reforçariam a posição fiscal do país.
“O fato de o Brasil ser a única grande economia do planeta aumentando as taxas de juros impede as pessoas de comprar. A política fiscal do governo faz com que as taxas de juros subam. Se você tirar isso, acho que o dinheiro entra no Brasil rapidamente,” disse Ben Laidler, chefe de estratégia de ações do Bradesco BBI.
Bolsa brasileira não está barata segundo gestor: veja os motivos
A competitividade de uma parte significativa dos bancos e empresas listadas na Bolsa passou por transformações relevantes. Dessa forma, trazendo uma perspectiva menos otimista para quem acredita que o Ibovespa está subvalorizado.
Historicamente, o índice Ibovespa tem um múltiplo P/L médio de cerca de 12 vezes. Enquanto, atualmente, esse indicador está em torno de 10 vezes.
No entanto, para Felipe Guerra, fundador e CIO da Legacy Capital, esse P/L está em linha com o que seria justo para o índice.
“A média histórica é distorcida”, diz o Gestor.
O gestor destaca que setores que representam cerca de 50% do Ibovespa – como bancos, mineração, petróleo, gás e bebidas – mudaram de maneira significativa nos últimos 10 a 15 anos. Assim, impactando seus resultados e perspectivas.
Essas transformações explicam porque as ações desses setores estão sendo negociadas a múltiplos mais baixos em comparação com a média histórica. Guerra, contudo, aponta que a competição no setor bancário se intensificou consideravelmente. Dessa forma, em contraste com o cenário de uma década atrás.
“Além disso, parte do capital foi expatriado, com os papéis de instituições como Nubank, XP e Inter sendo negociados no exterior”, afirma.
Além disso, o setor de petróleo e gás passou por uma reavaliação global, à medida que o mundo caminha em direção às energias renováveis. Assim, pressionando ainda mais as cotações.
“Há uma mudança estrutural em curso. Quem compra ações dessas empresas está atrás de dividendos, não de crescimento,” e o múltiplo de uma pagadora de dividendos é inferior ao de uma companhia que entrega growth.
Expansão mais lenta na economia
As mineradoras também enfrentam um cenário estruturalmente diferente, impulsionado pelo crescimento mais moderado da economia chinesa, o que, segundo Felipe Guerra, justifica os múltiplos mais baixos dessas empresas.
Outro exemplo é a Ambev, que outrora era negociada com prêmios devido à sua capacidade de vender produtos diferenciados e repassar aumentos de custos. Atualmente, no entanto, a companhia enfrenta um cenário de maior concorrência e pressão sobre suas margens operacionais.
“Existem ações baratas na Bolsa brasileira, mas não são as principais do Ibovespa,” acredita Guerra.
A Legacy Capital, gestora de R$ 20 bilhões, está posicionada de forma cautelosa. Seus fundos long & short têm exposição comprada em empresas como Banco do Brasil, Equatorial, Sabesp, Vivara e Azzas 2154, enquanto mantêm posições vendidas em ações com múltiplos acima da média histórica e no próprio Ibovespa.
O net exposure em ações está praticamente neutro, refletindo a visão da gestora sobre dois fatores que pesam sobre a Bolsa: a queda nos preços das commodities, impulsionada pelo temor de uma recessão global, e a expectativa de um ciclo de alta de juros, alimentado pela inflação brasileira acima da meta.
O gestor
Felipe Guerra é o fundador e Chief Investment Officer (CIO) da Legacy Capital, uma gestora de recursos brasileira. Ele tem ampla experiência no mercado financeiro, sendo responsável pelas estratégias de investimento da gestora, que administra bilhões em ativos para clientes.
Guerra é conhecido por sua visão analítica e conservadora em relação ao mercado, com foco em setores-chave da economia, como bancos, mineração e energia.
A Legacy Capital, sob sua liderança, é reconhecida por sua abordagem de fundos long & short e por suas estratégias de gestão de risco