Um estudo recente realizado pelo CryptoISAC (Crypto Information Sharing and Analysis Center) revelou que criminosos preferem utilizar dinheiro, em vez de Bitcoin e outras criptomoedas, em suas operações ilegais. Apesar da associação histórica das criptomoedas com atividades criminosas, como a lavagem de dinheiro e o tráfico de drogas, as evidências mostram que o uso de moedas digitais para esses fins é significativamente inferior ao uso de moeda fiduciária e métodos mais tradicionais.
De acordo com um documento de 108 páginas do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, citado no estudo, “o uso de ativos virtuais para lavagem de dinheiro permanece muito abaixo do uso de moeda fiduciária e métodos mais tradicionais.” Esse dado rebate as críticas de que as criptomoedas são amplamente usadas por criminosos, mostrando que as finanças tradicionais continuam a ser o principal meio de movimentação de recursos para atividades ilícitas.
A história das criptomoedas, no entanto, não esteve sempre livre de controvérsias. Nos primeiros anos, o Bitcoin era frequentemente associado a atividades ilegais, principalmente por meio da plataforma Silk Road. Esse mercado ilegal online foi responsável, em seu auge, por quase 20% das transações diárias de Bitcoin, movimentando cerca de 435 milhões de dólares com base no preço da época. A Silk Road foi um dos maiores mercados ilegais da “deep web”, permitindo a compra e venda de drogas e outros itens proibidos usando Bitcoin como meio de pagamento. O estudo da CryptoISAC destaca que esse período inicial contribuiu para a associação do Bitcoin à ideia de um instrumento financeiro irrastreável e amplamente utilizado para o comércio ilícito.
Porém, com a prisão do fundador da Silk Road e o subsequente encerramento do site, a utilização do Bitcoin para essas atividades foi reduzida drasticamente. Hoje, grande parte dos bitcoins apreendidos pelo governo dos Estados Unidos está ligada a essa operação. A prisão e o confisco dos ativos mostraram que, ao contrário do que muitos pensavam, as criptomoedas não eram tão seguras ou anônimas quanto os criminosos imaginavam. A transparência inerente às transações registradas na blockchain – que pode ser acessada e analisada por qualquer pessoa – tornou mais fácil para as autoridades rastrearem e apreenderem fundos relacionados a atividades criminosas.
Esse fator fez com que os criminosos se afastassem gradualmente das criptomoedas e voltassem ao uso do dinheiro, que oferece anonimato e flexibilidade muito maiores. De acordo com a CryptoISAC, apenas 0,34% de todas as transações de criptomoedas em 2023 estavam ligadas a alguma forma de atividade ilegal. Esse percentual se manteve quase estático ao longo dos últimos seis anos, com um pico de 1,29% registrado em 2019. Comparado ao uso generalizado de dinheiro em atividades criminosas, esses números reforçam que o uso de criptomoedas para crimes representa uma fração muito pequena das transações globais.
“O dinheiro oferece anonimato e flexibilidade para atores mal-intencionados, permitindo que eles movimentem fundos sem deixar um rastro digital que possa ser facilmente rastreado pelas autoridades”, destaca o estudo da CryptoISAC.
Essa característica do dinheiro o torna o método preferido para movimentação de recursos, principalmente entre organizações criminosas e grupos terroristas. Diferentemente das transações com criptomoedas, que são registradas em um livro-razão público (a blockchain), o uso de dinheiro não gera registros que possam ser facilmente analisados por investigadores.
Outro relatório mencionado pelo estudo, desta vez da DEA (Drug Enforcement Administration), a agência antidrogas dos Estados Unidos, corrobora essa posição. Segundo a DEA, o dinheiro continua a ser o método mais amplamente utilizado para transações no comércio de drogas, destacando a preferência dos traficantes por uma ferramenta de pagamento que é praticamente impossível de rastrear.
Embora o Bitcoin tenha sido amplamente usado no passado pela Silk Road e outros mercados ilegais, vale notar que esses casos representavam apenas uma pequena fração dos crimes cometidos no mundo. Além disso, as autoridades aprenderam rapidamente a lidar com o rastreamento de criptomoedas, tornando-as menos atrativas para criminosos que buscam anonimato absoluto. Hoje, a utilização de criptomoedas em atividades ilegais não só é menor do que muitos imaginam, como também está em constante declínio, à medida que as autoridades se tornam mais proficientes no monitoramento e na aplicação da lei nesse setor.