- A CVM finalizou a apuração sobre insider trading envolvendo ex-executivos da Americanas. Contudo, incluindo o ex-CEO Miguel Gutierrez e outros sete diretores
- Durante a investigação, a CVM requisitou informações de corretoras, incluindo ordens de compra e venda de ações e notas de corretagem
- A prática de insider trading, conforme a Resolução 44 da CVM, proíbe o uso de informações não divulgadas para obter vantagens em negociações financeiras
- Os ex-executivos devem apresentar suas defesas à CVM. Enquanto a investigação abrange mais processos administrativos relacionados ao rombo contábil de R$ 20 bilhões na Americanas
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autoridade federal encarregada de regular o mercado de capitais no Brasil, anunciou nesta sexta-feira (18) a conclusão das investigações sobre o uso indevido de informações privilegiadas (insider trading) por ex-executivos das Americanas. A apuração surge em meio a um contexto de crises financeiras e contábeis que abalaram a confiança dos investidores na companhia.
Durante a investigação, a CVM solicitou informações a corretoras de valores, buscando documentos cadastrais de investidores, registros de ordens de compra e venda de ações da Americanas e notas de corretagem. A comissão também analisou transações financeiras e realizou entrevistas com investidores para entender a dinâmica das operações suspeitas.
Os ex-gestores
De acordo com a CVM, o insider trading, conforme definido pelo artigo 13 da Resolução 44, proíbe o uso de informações relevantes não divulgadas publicamente para obter vantagens financeiras em negociações de valores mobiliários. A investigação identificou oito ex-gestores da Americanas envolvidos no caso:
- Miguel Gutierrez (ex-CEO)
- Ana Christina Ramos Saicali (ex-diretora)
- Marcio Cruz Meirelles
- José Timotheo de Barros
- Fabio da Silva Abrate (diretor-executivo não estatutário)
- Marcelo da Silva Nunes (diretor-executivo não estatutário)
- João Guerra Neto (diretor-executivo não estatutário)
- Fellipe Arantes Lourenço Bernardazzi (superintendente de contabilidade)
Miguel Gutierrez, apontado como um dos principais envolvidos, se mudou para a Espanha após o escândalo que eclodiu em janeiro de 2023. Ele foi preso em Madri em junho, mas liberado sob condições restritivas. Já Ana Saicali, que havia viajado para Portugal, teve sua prisão revogada pela Justiça brasileira.
Defesas à CVM
Os ex-executivos agora têm a responsabilidade de apresentar suas defesas à CVM. Além disso, a comissão está conduzindo outros dois inquéritos administrativos e diversos processos sancionadores relacionados ao caso, refletindo a complexidade e a gravidade das alegações.
Essas investigações fazem parte de um esforço mais amplo para apurar as irregularidades contábeis na Americanas, que entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023 após a revelação de um rombo contábil estimado em R$ 20 bilhões. O desdobramento desse caso levanta questões significativas sobre governança corporativa e a responsabilidade de executivos em grandes empresas.
Relembrando o “caso Americanas”
No dia 11 de janeiro de 2023, a varejista Americanas revelou um rombo contábil alarmante. Identificando “inconsistências em lançamentos contábeis” que totalizavam quase R$ 20 bilhões. Sergio Rial, que havia assumido a presidência da empresa após a saída de Miguel Gutierrez, deixou o cargo apenas nove dias depois. Dessa forma, em meio à crise.
A notícia causou uma onda de pânico entre os investidores, tanto pessoas físicas quanto institucionais, levando a uma venda maciça das ações da companhia, que despencaram quase 80% em um único dia, com a pressão vendedora persistindo nos dias seguintes.
Em uma conferência após sua demissão, Rial afirmou que o problema não se tratava de valores fora do balanço, mas sim de uma inadequada documentação contábil ao longo dos anos.
Diante da gravidade da situação, no dia 19 de janeiro, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro e teve suas ações suspensas da B3. O plano inicial de recuperação foi apresentado em março, mas a aprovação final só ocorreu em 19 de dezembro, quase um ano depois. No processo, a empresa revelou uma dívida total superior a R$ 50 bilhões, incluindo R$ 82,9 milhões em débitos trabalhistas e uma fraude de resultado estimada em R$ 25,2 bilhões ao final de 2022.