Decorridos 2 anos da conclusão da compra do Twitter (agora X) por Elon Musk, a operação tem se mostrado um péssimo negócio para os bancos e coinvestidores que auxiliaram o homem mais rico do mundo a obter os 46,5 bilhões necessários para o fechamento da transação.
Desde a compra do Twitter por Elon Musk, a plataforma sofreu uma queda vertiginosa de valor. A Fidelity, um dos investidores, reduziu a avaliação da empresa para menos de 25% do valor pago, resultando em uma desvalorização total de 78,7%.
Para os bancos que financiaram a compra do Twitter, a operação tem sido desastrosa. Os US$ 13 bilhões em empréstimos concedidos a Musk permanecem nos balanços das instituições financeiras, já que o fraco desempenho financeiro da plataforma impede que essa dívida seja revendida sem grandes prejuízos.
Desvalorização de 78% da empresa
Apesar de ter comprado as ações do Twitter com um grande ágio – e retirado a Companhia do mercado aberto de ações -, alguns fundos ainda investem no X (Ex-Twitter). Em razão do investimento desses fundos, os quais devem publicar suas demonstrações financeiras, o mercado consegue acompanhar a evolução do valor da plataforma.
Um relatório recente do fundo Fidelity Blue Chip Growth Fund, da Fidelity, que detém uma participação acionária no X (antigo Twitter), mostrou que o fundo ajustou novamente o valor de sua participação.
De acordo com os cálculos da Fidelity, o valor da plataforma X agora é inferior a 25% dos US$ 44 bilhões que Elon Musk pagou por ela.
Quando Musk adquiriu o Twitter, a Fidelity investiu US$ 19,66 milhões. Até o final de julho, essas ações foram avaliadas em apenas US$ 5,5 milhões. Essa redução coloca a avaliação total do X em aproximadamente US$ 9,4 bilhões.
Em meio à deterioração financeira, a empresa fechou sua sede em São Francisco e se mudou para o Texas. A Fidelity já havia reduzido sua avaliação do X em março e janeiro deste ano, e com a marcação mais recente, o valor de sua participação no X foi rebaixado em um total de 78,7%.
Pior negócio para os Bancos
A compra da rede social também foi um mau negócio para os bancos que financiaram a aquisição de Elon Musk. De acordo com o Wall Street Journal, a aquisição do Twitter se tornou o pior financiamento bancário para fusões desde a crise financeira de 2008-2009.
Sete bancos, incluindo Morgan Stanley e Bank of America, concederam um empréstimo de US$ 13 bilhões para a transação que totalizou US$ 46,5 bilhões (você entenderá esse número mais abaixo).
Geralmente, os bancos revendem essas dívidas rapidamente a outros investidores, limpando os seus balanços, mas o fraco desempenho financeiro do X impossibilitou a revenda sem perdas significativas. Os empréstimos permanecem “pendurados” nos balanços dos bancos, gerando baixas contábeis e impactando a remuneração de equipes de fusões e aquisições.
A dívida do Twitter permaneceu nos balanços dos bancos por mais tempo do que qualquer operação semelhante desde a crise de 2008, de acordo com a PitchBook LCD. O fascínio por financiar a pessoa mais rica do mundo inicialmente protegeu os bancos, mas o valor da empresa caiu drasticamente desde a compra.
Os bancos chegaram a discutir uma renegociação da dívida em 2024, reduzindo juros e pagamentos, mas essas negociações não avançaram. Os bancos enfrentam um dilema: manter a relação com Musk, apesar de suas outras empresas, ou tentar se desfazer da dívida com perdas. As declarações públicas de Musk complicam o cenário, exacerbando as dificuldades em revender os empréstimos.
Queda nas receitas
No final de 2023, a consultoria alemã Statista projetava que a empresa encerraria o ano com uma receita de US$ 3,31 bilhões provenientes de campanhas publicitárias, sua principal fonte de faturamento. Esse valor representa uma queda de 30% em relação aos US$ 4,73 bilhões gerados em 2022.
A consultoria também previa uma queda sequencial da receita do antigo Twitter com publicidade, pelo menos até 2027, quando o resultado deve somar US$ 2,7 bilhões por ano
Essas projeções, aliadas à saída de grande patrocinadores da plataforma como Walt Disney, Warner Bros, Lionsgate, Paramount, Coca-Cola e outros, bem como a suspensão do acesso à rede social pelo STF este ano (o Brasil representa a quarta maior base de usuários do Twitter no mundo, com 19,05 milhões de usuários, em dados disponibilizados em 2022), não são um bom sinal para as finanças da plataforma.
Em uma publicação na rede social, em julho/2023, Elon Musk afirmou que o endividamento e a queda na receita com anunciantes têm mantido o balanço do Twitter no vermelho.
Negócio ruim para outros financiadores da compra
Contudo, não são somente os grandes bancos e fundos de Wall Street que estão sofrendo com a queda de valor da rede social, outros financiadores que emprestaram dinheiro para Elon Musk também estão vendo seu investimento derreter.
Relembrando o caso: a compra do Twitter por Elon Musk envolveu cifras no montante de US$ 46,5 bilhões (US$ 44 bilhões pelo pagamento das ações e US$ 2,5 bilhões em custos relacionados ao acordo no processo movido pelo Twitter).
Do montante global (US$ 46,5 bilhões), (i) US$ 13 bilhões vieram dos bancos; (ii) US$ 7,14 bilhões foram fornecidos pelos coinvestidores; e (iii) US$ 26,36 bilhões vieram do próprio Musk (principalmente da venda de ações da Tesla ao longo de 2022).
A lista de coinvestidores é bastante variada:
Larry Ellison | Co-fundador da Oracle Corporation |
Andreessen Horowitz | Empresa de capital de risco |
Sequoia Capital | Empresa de capital de risco |
Binance | Exchange de criptomoedas |
Príncipe saudita al-Waleed bin Talal | Mantendo sua participação no Twitter |
Vy Capital | Empresa de capital de risco |
Brookfield | Empresa de gestão de ativos |
Fidelity Management & Research Company | Empresa de gestão de investimentos |
AH Capital Management (também conhecida como a16z) | Outra entidade relacionada à Andreessen Horowitz |
Sequoia Capital Operations | Entidade relacionada à Sequoia Capital |
DFJ Growth | Empresa de capital de risco |
Key Wealth Advisors | Empresa de gestão de patrimônio |
Soroban Capital | Fundo hedge |
Witkoff Group | Empresa de imóveis e investimentos |
Fundo time100 de Marc Benioff | Fundo de investimento |
Autoridade de Investimento do Qatar | Fundo soberano de riqueza |
Balyasny Asset Management | Fundo hedge |
Hindenburg Research | Não é tipicamente um investidor, mas envolvido neste contexto |
Aliya Capital Partner | Empresa de investimentos |
Dentro os nomes, é de se destacar a participação da Aliya Capital Management. A Aliya foi cofundada pelo brasileiro Emmanuel Hermann, ex-sócio do BTG e fundador da Leste Capital, uma gestora de ativos alternativos com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Londres e Miami.
A criação da Aliya ocorreu quando Ross Kestin, um americano com mais de 15 anos de experiência em gestão de fortunas e com histórico em club deals no setor de venture capital, se juntou aos executivos da Leste. A gestora de venture capital foca em empresas em estágio avançado, com ênfase em investimentos pré-IPO.
A relação da Aliya com Musk começou quando a gestora de Emmanuel investiu na SpaceX. Em dezembro de 2022, a Aliya Capital esperava ganhar até 5 vezes com seu coinvestimento para a compra do Twitter.