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Lula critica ricos e aponta desgoverno global

Lula desafiou a elite rica, afirmando que a fome no mundo resulta mais da falta de vergonha dos governos do que de recursos financeiros.

lula presidencia 2023
lula presidencia 2023
  • Durante um evento em Nova York, o presidente Lula criticou a elite rica, afirmando que a fome no mundo resulta mais da falta de compromisso e vergonha dos governos do que da escassez de recursos financeiros
  • Lula enfatizou a importância de criar uma aliança global para combater a fome, destacando que, embora a fundação de Bill Gates seja uma iniciativa louvável, a verdadeira solução está na implementação de políticas públicas eficazes
  • As declarações de Lula geraram uma forte reação entre os presentes, que aplaudiram entusiasticamente sua mensagem sobre a necessidade de ações concretas em vez de apenas doações para resolver os problemas sociais

Na última segunda-feira (23), durante um evento de grande prestígio em Nova York, o presidente Lula fez críticas contundentes à elite rica e alertou para o estado de desgoverno global. Ao lado do cofundador da Microsoft, Bill Gates, Lula enfatizou que a verdadeira causa da fome no mundo não é a falta de recursos financeiros, mas sim a falta de compromisso. Além da vergonha por parte dos governos em lidar com essa questão crítica.

Lula foi ovacionado ao receber o prêmio Goalkeepers, promovido pela Fundação Bill e Melinda Gates, um evento que visa mobilizar recursos para alcançar as metas de desenvolvimento social da ONU até 2030. O palco do Jazz em Lincoln Center se transformou em um verdadeiro espetáculo, onde políticos e líderes se tornaram “popstars”, atraindo a atenção de uma plateia lotada.

Bill Gates, ao apresentar Lula, compartilhou um relato tocante sobre a infância do presidente, mencionando como ele enfrentou a fome em sua juventude. Gates descreveu Lula como uma figura “inspiradora” e destacou a ambição do presidente de ir além das fronteiras do Brasil. Assim, criando uma aliança global contra a fome. Embora Lula tenha elogiado a criação da fundação de Gates como uma iniciativa “louvável”, ele foi claro ao afirmar que a solução para os problemas do mundo não reside apenas em doações. Mas, sim, na implementação de políticas públicas efetivas. Sua declaração gerou uma forte reação da audiência, que o aplaudiu entusiasticamente.

“Eu achava que precisamos passar fome para lutar. Mas isso não leva ninguém à revolução. Isso leva à submissão”, disse.

“Quem precisa são os que não tem oportunidade de estudar, quem não inventou a Microsoft”, afirmou.

Alusões diretas

O presidente não poupou críticas aos bilionários, fazendo uma alusão direta a Elon Musk.

“Os mais ricos do mundo estão fazendo foguete para morar e outro lugar, em outro planeta. E não tem. Vão ter de aprender a cuidar da terra”, disse.

Ele ressaltou que o verdadeiro problema não é a escassez de dinheiro, mas sim a enorme concentração de riqueza. “Trilhões de dólares estão em circulação, com pessoas cada vez mais ricas sem produzir nada, vivendo de especulação”, afirmou, destacando a disparidade econômica que persiste. Lula também lembrou que, em 2023, o mundo gastou impressionantes US$ 2,4 trilhões em armamentos. Segundo ele, se esses recursos fossem direcionados para programas sociais, poderíamos erradicar a fome em várias regiões do planeta.

Com suas declarações contundentes e incisivas, Lula não apenas destacou a urgência das questões sociais, mas também chamou a atenção para a responsabilidade dos governos e da elite em encontrar soluções efetivas para os problemas que afetam a sociedade global.

“A fome não é falta de dinheiro, mas falta dose vergonha na nossa cara de quem governa o mundo”, completou.

“O problema é que temos cinco mega empresários que tem mais dinheiro que dez países”, disse.

“Não sou contra ricos. Mas sou contra existir gente pobre”, insistiu Lula.

“Não é possível uma pessoa sozinha ter mais dinheiro que o Reino Unido ou Brasil”, disse. Ainda, apontando que o mundo conta com 733 milhões de famintos.

Lula provocou risos ao afirmar que “não era um homem radical”, ressaltando que, como líder sindical, defendia uma tese capitalista. Ele explicou que não era marxista, mas apoiava a ideia de Henry Ford de que o trabalhador deve receber um salário suficiente para comprar os produtos que fabrica.

Mundo desgovernado

Um dia antes da abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, Lula utilizou o palco para expressar críticas contundentes à própria organização e à crescente concentração de poder nas mãos de poucos países.

O presidente brasileiro argumentou que conflitos armados, como os ocorridos no Iraque e na Líbia, poderiam ter sido evitados se a ONU tivesse cumprido adequadamente seu mandato de promover a paz e a segurança global.

“O mundo está desgovernado. Ninguém respeita ninguém”, disse.

Lula destacou que uma das questões mais preocupantes atualmente é a falta de governança no cenário internacional. Ele apontou que muitos acordos e compromissos firmados entre nações são frequentemente ignorados, resultando em um vácuo de autoridade e responsabilidade global.

O presidente também criticou a ineficácia da organização em lidar com crises humanitárias e conflitos, ressaltando que a fragmentação do poder e a ausência de um sistema que responsabilize os países têm gerado um ambiente propício para a violência e a desestabilização.

“Não há governança e nem autoridade mundial”, disse.

“Precisamos ter uma autoridade mundial”, insistiu.

“O mundo não pode continuar tendo só cinco países permanentes no Conselho de Segurança. Ninguém mais respeita a ONU”, sentenciou.

Para Lula, é imprescindível que a ONU reassuma seu papel central como mediadora e facilitadora de diálogos, buscando soluções pacíficas e duradouras para os problemas globais.

Essa declaração não apenas reflete a visão de Lula sobre o papel da ONU, mas também ressalta a necessidade de uma governança mais inclusiva e eficaz, capaz de representar os interesses de todos os países, especialmente aqueles em desenvolvimento. A crítica de Lula pode ser vista como um apelo por uma reforma profunda na estrutura da ONU, de modo que ela possa atuar com mais força e relevância na resolução de crises contemporâneas.

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