- A varejista francesa prepara uma carta de retratação, assinada por seu CEO, para resolver a crise com a indústria de carnes brasileira
- Mais de 20 frigoríficos brasileiros, incluindo JBS e Marfrig, suspenderam o fornecimento de carne ao Carrefour após declaração de Bompard
- O embaixador francês no Brasil, Emmanuel Lenain, está intermediando as negociações entre o Carrefour e o governo brasileiro
- O boicote afetou mais de 150 lojas do Carrefour no Brasil, com escassez de carne nas prateleiras, prejudicando os consumidores
O Carrefour está se preparando para enviar uma carta de retratação ao Brasil após a crise gerada pela declaração do CEO global da empresa, Alexandre Bompard, sobre a suspensão da compra de carne proveniente do Mercosul para as lojas francesas do grupo. O anúncio, feito na última quarta-feira (20), causou um impacto negativo tanto no Brasil quanto na França, levando a uma série de reações, incluindo o boicote por parte de frigoríficos brasileiros e a convocação para negociações entre os governos envolvidos.
A carta de retratação já foi redigida e será assinada por Bompard, com previsão de entrega ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, ainda dependendo da agenda do ministro. De acordo com informações dos jornais Estadão e Folha de S.Paulo, o embaixador francês no Brasil, Emmanuel Lenain, está intermediando as negociações entre o Carrefour e o governo brasileiro para ajudar a apaziguar a crise. Em entrevista à TV Globo, Fávaro comentou que o embaixador se ofereceu para mediar uma proposta para resolver o impasse.
O estopim da crise
A crise teve início com a decisão de Bompard de suspender as compras de carne do Mercosul para as lojas Carrefour na França, como resposta a protestos de agricultores franceses contra o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. A declaração gerou uma forte reação no Brasil, especialmente entre os frigoríficos, que interpretaram a atitude como um golpe contra a indústria de carnes brasileira.
Em resposta, mais de 20 frigoríficos, incluindo gigantes como JBS, Marfrig e Masterboi, suspenderam o fornecimento de carne para as lojas do Carrefour no Brasil. De acordo com fontes do setor, o boicote já afeta mais de 150 unidades da rede no país, com consumidores relatando escassez de carne nas prateleiras.
Reações no Brasil e intermediação diplomática
O ministro Carlos Fávaro, por sua vez, manifestou apoio aos frigoríficos, embora tenha deixado claro que não solicitou o boicote. Ele classificou a declaração de Bompard como “desproporcional”, e destacou a importância do agronegócio brasileiro para a economia do país. Fávaro também elogiou a reação dos frigoríficos, que consideraram a suspensão do fornecimento como uma forma de defesa da indústria nacional.
Diante da escalada do conflito, o embaixador francês Lenain se reuniu com o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luís Rua, na segunda-feira (25), para discutir a situação. Durante esse encontro, o embaixador apresentou a carta de retratação de Bompard e sugeriu a mediação da França para resolver as tensões com o Brasil.
O impacto do boicote e os próximos passos
Embora a declaração de Bompard tenha sido direcionada exclusivamente às lojas do Carrefour na França, a rede varejista no Brasil se viu afetada pela repercussão do episódio. Em nota oficial, o Carrefour Brasil lamentou os impactos negativos do boicote, afirmando que a suspensão do fornecimento de carne prejudica seus clientes, que confiam na empresa para oferecer produtos de qualidade.
“A suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, afirmou o Carrefour em comunicado.
Com a crescente pressão sobre o Carrefour, uma nova rodada de negociações está prevista para a terça-feira (26), quando o embaixador francês e o ministro Fávaro devem discutir a questão. A expectativa é que a carta de retratação de Bompard seja oficialmente apresentada, buscando restaurar as relações comerciais entre a empresa e a indústria de carnes brasileira, além de normalizar o fornecimento de carne nas unidades do Carrefour no país.