Impactos

Com dólar a R$ 6, produtos básicos enfrentam alta de preços

Mercado reage a declarações de Haddad sobre meta fiscal e produção industrial mostra crescimento

Arte: GDI
Arte: GDI | Arte: GDI

O dólar caiu e a Bolsa de Valores subiu nesta quarta-feira (04) após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o compromisso do governo em cumprir a meta fiscal para 2024 e 2025. A fala do ministro teve impacto imediato no mercado financeiro, que oscilava de forma instável até então.

Por volta das 15h, o dólar comercial registrava queda de 0,58%, cotado a R$ 6,022, enquanto a moeda para o turismo era negociada a R$ 6,289, com desvalorização de 0,12%. Já o índice Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, subia 0,12%, alcançando os 126.287 pontos.

A oscilação do câmbio ao longo do dia foi revertida com o pronunciamento de Haddad durante o Fórum Jota – O Brasil em 10 anos, realizado em Brasília. O ministro enfatizou a importância de cumprir as metas fiscais, destacando o esforço de sua equipe: “Não vou ignorar que teve gente que teve que ser medicada durante o ano para conseguir atingir esse objetivo. O povo lá trabalhou e cumpriu (a meta para 2024) e vai cumprir o ano que vem de novo”, afirmou Haddad.

Ele também fez duras críticas ao nível de gasto tributário e ressaltou ações de transparência, como a divulgação por CNPJ das empresas beneficiadas com incentivos fiscais. A fala reflete o esforço do governo em demonstrar compromisso com o controle das contas públicas.

Expectativas e desafios fiscais

A semana foi marcada por um pacote fiscal do governo, que busca reduzir em R$ 70 bilhões os gastos públicos em dois anos. No entanto, a proposta não agradou completamente os investidores, que consideraram o valor insuficiente para equilibrar as finanças do país. Além disso, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais também foi mal recebida no mercado.

O economista sênior do Inter, André Valério, projetou ao portal UOL que o dólar deve terminar o ano cotado a R$ 5,80, afirmando que não há condições para uma valorização consistente do real. “Não vemos as condições necessárias para que o real aprecie de maneira consistente. Por isso, temos o câmbio oscilando ao redor dos R$ 6,05, ainda reagindo à incerteza sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) no Congresso”, disse Valério.

Produção industrial e perspectiva econômica

Além das flutuações cambiais, o Brasil recebeu dados importantes sobre a produção industrial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial brasileira registrou um aumento de 5,8% em outubro de 2024 em relação ao mesmo mês do ano passado. No entanto, houve uma queda de 0,2% em comparação com setembro, quando o índice teve uma expansão de 1,1%.

O mercado esperava um crescimento de apenas 0,1% para o mês de outubro. O desempenho da produção industrial segue em linha com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que avançou 4% no terceiro trimestre de 2024, impulsionado pelo consumo das famílias. Contudo, economistas alertam para um risco inflacionário, já que o aumento da demanda pode não ser acompanhado pela produção, resultando em escassez e aumento dos preços.

A produção de investimentos foi outro dado relevante. O aumento de 2,1% nos investimentos no último trimestre mostra que o país está criando mais capacidade instalada, um fator importante para o crescimento sustentável. No entanto, economistas apontam que a resposta do setor produtivo pode demorar a se concretizar, além do impacto negativo dos juros altos, que tendem a atrapalhar os investimentos no curto prazo.

Expectativas de juros e mercado financeiro

Com a inflação em alta, as expectativas de juros futuros aumentaram significativamente. A taxa DI para janeiro de 2027 avançou para 14,39%, o que reflete a pressão sobre o Banco Central para manter os juros elevados em um cenário de incertezas fiscais e inflação persistente.

Em paralelo, a Bolsa de Valores segue enfrentando uma disputa com os investimentos em renda fixa, uma vez que a alta da taxa de juros pode atrair mais recursos para esses ativos mais seguros. O clima de incerteza continua a afetar a confiança do mercado e as expectativas para o próximo ano.