O déficit primário das empresas estatais brasileiras atingiu R$ 7,76 bilhões entre janeiro e outubro de 2024, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (3) pelo Banco Central (BC). Esse é o maior valor já registrado para o período desde o início da série histórica, em 2002, superando em quase três vezes o resultado negativo de R$ 2,86 bilhões apurado no mesmo intervalo do ano passado.
Os números excluem empresas como Petrobras e Eletrobras, bem como bancos públicos, incluindo Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal.
As empresas estatais federais foram as principais responsáveis pelo resultado, acumulando um déficit de R$ 4,452 bilhões até outubro deste ano. O aumento é expressivo em comparação com o mesmo período de 2023, quando o déficit somou apenas R$ 286 milhões.
Nas empresas estaduais, o déficit também cresceu, passando de R$ 2,257 bilhões em 2023 para R$ 3,355 bilhões em 2024. Por outro lado, os números das estatais municipais apresentaram uma leve melhora, registrando um superávit de R$ 41,6 milhões, revertendo o déficit de R$ 325 milhões no acumulado do ano passado.
Apesar de os dados não considerarem a inflação, especialistas indicam que o aumento reflete o incremento nos investimentos das empresas estatais federais, uma tendência já destacada em análises anteriores do BC.
Comparação com Período Pré-Pandemia
O resultado negativo de 2024 ultrapassou valores registrados mesmo durante a pandemia de COVID-19, quando os déficits das estatais foram fortemente influenciados por medidas emergenciais. “É um cenário que demanda atenção porque a economia já está em processo de recuperação, e um déficit tão elevado não era esperado”, disse Mariana Duarte, analista da consultoria econômica Tendências.
Para Duarte, a situação das empresas estatais federais contrasta com os números positivos das estatais municipais, que apresentaram melhoria em suas contas. “Isso mostra que a gestão local, em alguns casos, tem sido mais eficiente na administração de recursos”, destacou.
Repercussões Políticas e Econômicas
O aumento expressivo no déficit das estatais deve acirrar o debate no Congresso Nacional em torno da gestão financeira das empresas públicas. Parlamentares da oposição já criticaram a política de investimentos adotada pelo governo.
Por outro lado, o Ministério da Economia defendeu os investimentos como essenciais para o crescimento sustentável do país.