O dólar à vista registrou uma expressiva queda de 2,29% nesta quinta-feira (19), fechando a R$ 6,1243, após uma sessão marcada pela volatilidade. O movimento foi influenciado pelo avanço da proposta fiscal no Congresso, com a aprovação em primeira votação da PEC que restringe o acesso ao abono salarial. A medida, parte do pacote de ajuste fiscal do governo, aguarda mais deliberações até o fim do ano, criando incertezas sobre o cumprimento da meta fiscal.
Variação cambial e intervenções do Banco Central
O Banco Central (BC) seguiu atuando fortemente no mercado cambial, com a venda de US$ 5 bilhões em leilões de dólares. Este foi o sexto leilão da semana e o segundo da sessão de hoje. Com as operações realizadas, a autoridade monetária já somou mais de US$ 20,75 bilhões vendidos desde a quinta-feira passada, uma série de intervenções com o intuito de suavizar a pressão sobre o real.
Ao longo do dia, o dólar à vista alcançou uma máxima de R$ 6,30 e uma mínima de R$ 6,14. Já na B3, o contrato de dólar futuro com primeiro vencimento registrava queda de 2,07%, sendo negociado a R$ 6,125 às 17h03.
Projeções econômicas e Temores sobre a Inflação
O cenário fiscal segue no centro das preocupações dos investidores. No mesmo dia, o Banco Central divulgou uma revisão negativa em suas previsões para o cumprimento da meta de inflação, agora estimando quase 100% de chance de o índice ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta. Essa revisão impacta diretamente as expectativas em relação à taxa de juros.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,39% em novembro, acumulando uma alta de 4,87% nos últimos 12 meses. Para que o IPCA encerre 2024 com uma variação de 4,5%, a inflação mensal de dezembro precisaria ser inferior a 0,20%. Esse cenário levou analistas a aumentarem a probabilidade de um aumento da Selic em 1,75 ponto percentual na reunião de janeiro, apesar das expectativas anteriores de uma alta menor.
Influência externa e câmbio global
No exterior, o movimento do dólar também foi impactado pela decisão do Federal Reserve (Fed), que anunciou na quarta-feira (18) a redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros. Contudo, o Fed indicou que o afrouxamento monetário será mais cauteloso do que o esperado. De acordo com Jerome Powell, presidente do Fed, “a partir de agora, os riscos estão equilibrados, e é apropriado avançar com cautela para monitorar o progresso da inflação”.
Esse cenário global, aliado à expectativa de rendimentos mais altos dos Treasuries, contribuiu para a valorização do dólar frente a outras moedas, criando um ambiente desafiador para as economias emergentes, como o Brasil.
Preocupações locais e desafios fiscais
A instabilidade no mercado cambial é amplificada pela incerteza em torno das reformas fiscais. A votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o abono salarial foi adiada para esta quinta-feira, após a Câmara já ter aprovado outra proposta de corte de gastos na terça-feira. Os investidores temem que as reformas não sejam concluídas a tempo ou que percam força, o que pode agravar o cenário fiscal e comprometer as contas públicas em 2024.
O impacto desses fatores no câmbio deve continuar a ser monitorado de perto, com o mercado aguardando novas movimentações do Banco Central e decisões políticas no Congresso.