O Banco Central (BC) do Brasil enfrenta um cenário de grandes desafios fiscais e uma economia superaquecida, o que exige medidas drásticas como o recente aumento de juros. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou que a política monetária está sendo levada a um extremo, com o BC “remando contra a corrente”. A medida adotada, segundo Ramos, era essencial, mas o sucesso dependerá de um ajuste fiscal robusto.
“Se a política fiscal não mudar, a tarefa do BC será quase impossível”, afirmou Ramos, destacando que, enquanto o governo mantém uma postura fiscal expansionista, a economia brasileira enfrenta o risco de um crescimento de apenas 1%, inflação de 6% e câmbio a R$ 7,00. Para ele, o pacote fiscal atual é insuficiente e o investimento estrangeiro no Brasil já reflete o pessimismo crescente.
Desajuste fiscal: um pacote insuficiente
Alberto Ramos foi incisivo ao criticar a estratégia fiscal do governo, comparando-a com ações de países vizinhos, como a Argentina, que eliminou seu déficit fiscal com um ajuste de 5% do PIB. “O Brasil não cortou gastos de forma significativa, apenas tentou conter despesas. O pacote fiscal é de 0,2% do PIB e não é suficiente para enfrentar o problema fiscal do país”, disse.
O problema central, segundo Ramos, é a alta do déficit primário, que continua a crescer enquanto o Brasil registra uma dívida elevada, com aumento anual de três a quatro pontos porcentuais. Ramos questiona como o país pode manter esse ritmo com um crescimento menor da receita, especialmente se o PIB desacelerar.
O futuro da economia brasileira: riscos e desafios
O economista também projetou um futuro incerto, com risco de desaceleração abrupta se o governo continuar a resistir a um ajuste fiscal mais severo.
“Estamos em um momento crítico. Se não corrigirmos o rumo fiscal agora, poderemos enfrentar uma desaceleração econômica mais profunda em 2025”.
alertou.
Ramos também criticou a abordagem do governo na transição política, que priorizou o aumento de gastos sem considerar os efeitos a longo prazo. Para ele, a solução está em um ajuste fiscal mais consistente, complementando a política monetária do BC e evitando que a economia sobreaqueça.
A Visão do mercado
O mercado, segundo Ramos, já antecipa as dificuldades à frente, com a percepção de que o governo não está disposto a implementar as reformas necessárias. “Investidores estrangeiros já estão deixando o Brasil. Isso é um sinal de alerta”, concluiu o economista, reiterando que a recuperação do grau de investimento parece cada vez mais distante sem uma mudança na política fiscal.