Câmbio pressionado

Queda do dólar é passageira e deve subir para R$ 6,40 em 2025, diz UBS

Mesmo com alívio temporário, especialistas preveem que o câmbio brasileiro continuará pressionado, com risco de nova alta do dólar.

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  • A cotação do dólar atingiu R$ 6,20 no final de 2024 e pode chegar a R$ 6,40 em 2025, segundo especialistas do UBS
  • A falta de reformas fiscais no Brasil mantém a moeda brasileira pressionada, com o país enfrentando desafios fiscais significativos
  • Apesar de um cenário global favorável, o Brasil precisa resolver seus problemas internos para se beneficiar de uma recuperação econômica, mas isso pode levar até 2026

A reta final de 2024 foi marcada por uma forte valorização do dólar, que atingiu seu maior valor histórico desde a implantação do Plano Real, superando os R$ 6,20. Embora a moeda americana tenha recuado mais de R$ 0,30 desde esse pico, a tendência de alívio parece ser apenas temporária.

Especialistas do UBS, incluindo o economista-chefe Arend Kapteyn e o diretor de investimentos de mercados emergentes nas Américas, Alejo Czerwonko, projetam que o dólar pode voltar a subir ao longo de 2025. Ainda, com uma previsão de atingir até R$ 6,40. Para os analistas, o cenário global e os problemas fiscais internos do Brasil continuam a pesar negativamente sobre o câmbio.

Desaceleração global

Em janeiro de 2025, o dólar sofreu uma desaceleração global. Especialmente, frente ao real, impulsionada pela expectativa de que as primeiras ações de Donald Trump como presidente dos EUA seriam menos agressivas do que o mercado temia durante a campanha eleitoral. No entanto, Kapteyn e Czerwonko acreditam que essa redução na cotação pode ser um fenômeno pontual.

“O otimismo inicial, quando parecia que Trump agiria com mais cautela, foi precipitado”, afirmou Kapteyn.

Czerwonko, por sua vez, destacou que a reação do mercado à vitória de Trump tem sido equivocada.

“O movimento recente é tático, considerando o quão mal os ativos brasileiros se comportaram em dezembro de 2024”, disse.

A projeção do UBS para o dólar nos próximos 12 meses está entre R$ 6,20 e R$ 6,40, um valor ainda mais elevado do que o registrado em janeiro. A alta do dólar não se deve exclusivamente às ações dos Estados Unidos, mas também aos problemas estruturais do Brasil.

O país enfrenta um desafio fiscal crescente, e a falta de uma agenda robusta de responsabilidade fiscal tem gerado apreensão no mercado. Czerwonko afirmou que o Brasil tem sido incapaz de implementar reformas significativas que melhorem seu equilíbrio fiscal.

“Sem dúvida, essa é a maior fragilidade do Brasil”, disse, ressaltando que, em 2024, as ações brasileiras tiveram desempenho inferior em 150% às argentinas, quando medidas fiscais mais eficazes foram adotadas pelo governo argentino.

Brasil com benefício?

Apesar das projeções negativas para o câmbio, há uma percepção de que o Brasil poderia se beneficiar de uma conjuntura global mais desafiadora. Contudo, caso conseguisse resolver seus problemas internos.

“Se o Brasil fizer o dever de casa, pode se destacar nas relações com os EUA, China e Europa, e ainda se beneficiar da transição energética e da segurança alimentar”, afirmou Czerwonko.

O Brasil tem os recursos necessários para ser parte da solução em um mundo cada vez mais focado nessas questões. Mas, no entanto, é essencial que o país avance em sua agenda fiscal e reformista.

A má notícia é que, no curto prazo, especialistas do UBS não veem sinais de que o Brasil conseguirá superar suas dificuldades fiscais. Embora as ações brasileiras estejam atraentes, com uma desvalorização de cerca de 40% em relação aos outros mercados emergentes, a falta de um gatilho positivo para reverter a tendência continua a limitar o potencial de recuperação.

Czerwonko projetou que, mesmo com a situação aparentemente ruim dos ativos brasileiros, o mercado tende a seguir estagnado até 2026. Isso só mudaria se as eleições presidenciais de 2026 trouxessem um novo rumo para a política econômica do país.

“Há muito pessimismo já embutido nos preços, mas será necessário muita paciência para que os investidores vejam uma recuperação real”, concluiu o especialista.

Em resumo, o futuro próximo para o câmbio brasileiro parece desafiador, com o dólar podendo voltar a superar os R$ 6,40. A incerteza fiscal do Brasil e a conjuntura global desfavorável à moeda brasileira fazem com que o cenário de alta do dólar continue sendo uma preocupação para a economia.

Para que o país consiga mudar essa trajetória, será preciso uma transformação na política econômica e fiscal. Dessa forma, algo que ainda parece distante, segundo os especialistas do UBS.

Paola Rocha Schwartz
Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativ
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