- A desaceleração da China afeta diretamente a demanda por minério de ferro e impacta a Vale
- A queda de 25% nos preços do minério de ferro pressiona os lucros e dividendos da mineradora
- Apesar das dificuldades, investidores ainda veem oportunidades devido ao fluxo de caixa positivo e ao real fraco
A economia chinesa em desaceleração e os preços do minério de ferro em baixa têm gerado turbulência para a Vale, uma das maiores fornecedoras globais do insumo siderúrgico.
Com uma crise persistente no setor imobiliário da China, que impacta diretamente a demanda por minério de ferro, a gigante brasileira enfrenta um cenário incerto que preocupa investidores e derruba suas ações.
No ano passado, a mineradora viu seu valor de mercado despencar em mais de R$ 100 bilhões. Dessa forma, o que levou a Vale a perder a posição de terceira maior empresa da bolsa, uma marca conquistada ao longo dos anos.
Exportações chinesas
A Vale, que depende em grande parte das exportações para a China (aproximadamente 50% de sua receita vem do país), teve que lidar com uma queda nos preços do minério de ferro. Que caiu, portanto, mais de 25% em 2024, fechando o ano em torno de US$ 100 por tonelada métrica.
Esse declínio ocorreu justamente quando as mineradoras estavam aumentando a produção global do insumo. Contudo, em um momento de baixa demanda do mercado chinês, que sofre com a recessão do setor imobiliário e mudanças estruturais na economia.
O impacto é profundo. Para a Vale, que exportou cerca de 185,5 milhões de toneladas métricas de minério de ferro para a China em 2023, o cenário se reflete diretamente nas expectativas de fluxo de caixa e nos dividendos.
Segundo a Bloomberg Intelligence, os dividendos e as recompras de ações da mineradora podem cair pela metade neste ano, podendo não ultrapassar US$ 2,1 bilhões.
O fluxo de caixa operacional, dessa forma, também deve encolher para os menores níveis desde 2016. Assim, o que faz os investidores ficarem ainda mais cautelosos em relação à companhia.
Perspectivas e pressões
A pressão sobre a Vale é ainda maior com o enfraquecimento das perspectivas de crescimento da China. No entanto, que tem voltado sua atenção para um modelo econômico mais sustentável e voltado para a tecnologia de ponta, reduzindo a importância da produção de aço, tradicionalmente dependente do minério de ferro.
O governo chinês também vem buscando estimular a economia, mas as incertezas sobre a efetividade dessas ações geram um ambiente de volatilidade nos mercados.
Florian Bartunek, sócio-fundador da Constellation Asset Management, observou que muitos investidores têm receio de investir na Vale, pois a qualquer sinal de piora na economia chinesa, o preço das ações tende a despencar.
Isso tem causado, portanto, uma retração significativa nas alocações de capital na empresa. Assim, afetando o valor das ações e a confiança dos acionistas. Para Bartunek, o medo de novos prejuízos tem deixado os investidores com “pé atrás” em relação à mineradora.
Desastre na barragem
Apesar dos esforços da Vale para se reestruturar, incluindo a resolução de problemas como a sucessão confusa de liderança e o acordo de indenização pelo desastre na barragem da Samarco, a empresa enfrenta um grande desafio em relação à sua exposição à China.
Josh Rubin, gestor da Thornburg Investment Management, aponta que, mesmo com as melhorias internas, a grande dependência da Vale da economia chinesa continua sendo uma vulnerabilidade que precisa ser observada.
O cenário difícil também se reflete nas comparações com outras gigantes mineradoras. Como: BHP Group e Rio Tinto, que têm um portfólio mais diversificado e estão se reposicionando para o futuro, investindo fortemente em cobre e lítio.
Isso, portanto, coloca a Vale em uma posição mais frágil, com perspectivas de crescimento incertas em um momento de reavaliação do mercado.
No entanto, alguns analistas ainda veem uma possível oportunidade de compra nas ações da Vale. Rodolfo Angele, analista do JPMorgan Chase, acredita que a empresa está bem posicionada para enfrentar um cenário de real mais fraco. Além da geração de fluxo de caixa positivo, apesar dos desafios. Para ele, a desconexão entre o valor das ações e o potencial da empresa pode representar uma oportunidade para investidores de longo prazo.
Mesmo assim, as quedas contínuas nas ações da Vale, que já perderam 24% de seu valor no último ano, deixam claro que o caminho de recuperação da mineradora será longo e repleto de desafios.
Com a perda da terceira posição na bolsa, para a Weg, e a venda de participações por investidores como o conglomerado Cosan, o sentimento de cautela parece dominar o mercado, enquanto a Vale tenta encontrar alternativas para diversificar seus negócios e reduzir a dependência da China.