
- Proposta permite abertura de capital nos EUA com nova holding na Holanda
- Nova estrutura pode elevar poder de voto dos controladores para até 85%
- Ambientalistas, políticos e investidores questionam riscos do modelo e lembram escândalos passados
A assembleia geral de acionistas da JBS (JBSS3), realizada nesta sexta-feira (23), aprovou a controversa proposta de listagem dupla da empresa. Assim, autorizando a criação de uma holding na Holanda e a abertura de capital nos Estados Unidos.
A decisão, embora esperada por parte do mercado, reacendeu debates sobre governança corporativa. Além da concentração de poder e os riscos ambientais e reputacionais associados ao movimento.
A aprovação da listagem dupla permite à JBS migrar sua base acionária para um modelo com duas classes de ações.
Esse modelo, amplamente utilizado por empresas nos Estados Unidos, concede maior poder de voto a determinados acionistas, geralmente os fundadores ou controladores.
No caso da JBS, os irmãos Batista (controladores da empresa) poderão ver seu poder de voto saltar dos atuais 48,34% para até 85%. Ainda, mesmo sem aumentar sua participação econômica na companhia.
Mercado reage positivamente
Logo após o anúncio, os papéis da companhia operavam em alta de 2,71%, cotados a R$ 43,41 por volta das 11h, após uma breve paralisação na negociação às 10h17. Analistas financeiros apontam que a listagem nos EUA tende a beneficiar a empresa ao permitir que ela se alinhe às métricas de avaliação de seus concorrentes internacionais, como a Tyson Foods, com maior visibilidade e liquidez global.
O acesso a uma base mais ampla de investidores institucionais também é visto como um atrativo, além da possibilidade de captação de recursos mais vantajosos no mercado norte-americano. Para os acionistas majoritários, a estrutura torna a empresa menos vulnerável a movimentos de governança vindos de minoritários e amplia o controle da gestão no longo prazo.
Críticas ganham força no Brasil e no exterior
A aprovação não veio sem resistência. Consultorias especializadas em governança alertaram que a nova estrutura prejudica acionistas minoritários ao reduzir drasticamente sua capacidade de influenciar decisões estratégicas. A percepção de enfraquecimento da governança pode afastar investidores de perfil mais conservador.
Além disso, críticas mais amplas à reputação da empresa voltaram à tona. O histórico da JBS com escândalos de corrupção — especialmente no contexto da Operação Lava Jato — e os recorrentes questionamentos sobre práticas ambientais no setor de frigoríficos acenderam alertas em diversos setores da sociedade civil.
Nos EUA, senadores de ambos os partidos pediram à SEC que avalie com rigor a listagem da JBS. Eles alertaram para riscos de corrupção e impactos ambientais que a entrada da empresa no mercado americano pode agravar.
BNDES se abstém e abre caminho
Um ponto crucial para a aprovação foi a decisão do BNDESPar, braço de investimentos do BNDES e principal acionista fora da família Batista, de se abster na votação. Essa escolha, anunciada em março, retirou um obstáculo histórico à dupla listagem, uma vez que o banco havia se oposto firmemente à proposta em 2016.
A mudança de postura do banco estatal reflete sua estratégia atual de desinvestimento na companhia, o que acabou favorecendo os interesses dos controladores. A família Batista, que tenta há mais de uma década listar a JBS em Nova York, enfim teve seu plano aprovado, embora sob uma nuvem de desconfiança.