No cenário atual de volatilidade econômica, um dos maiores gestores de fundos do mundo está fazendo previsões ousadas sobre o futuro do mercado. Nicolai Tangen, diretor executivo do Norges Bank Investment Management (NBIM), que administra o gigantesco fundo soberano da Noruega, com ativos de US$ 1,8 trilhão, sugere que investidores devem desafiar a sabedoria convencional e considerar uma reviravolta radical: vender ações das gigantes de tecnologia dos Estados Unidos e apostar na recuperação da economia chinesa.
Tangen, durante uma entrevista ao fórum econômico de Davos, na Suíça, destacou a oportunidade de seguir uma abordagem contrária à maioria do mercado. “A melhor coisa a fazer é sempre o oposto de todos os outros”, afirmou Tangen, provocando reflexões sobre a tendência predominante no mercado financeiro global. Para ele, isso significa não só vender ações de tecnologia dos EUA, mas também aumentar investimentos na China, cujas ações ainda são vistas por muitos como fora de moda, especialmente após o endurecimento das políticas de Pequim.
Estratégia ousada diante da crise de confiança
O executivo do fundo soberano norueguês, que comanda uma das maiores carteiras de ações públicas do mundo, reconhece que essa estratégia não é fácil de ser implementada, dado o atual cenário global.
“É muito, muito difícil de fazer, porque se você for contrário e diferente de seus benchmarks, haverá períodos em que seu desempenho será inferior e todos questionarão sua sanidade”.
admitiu.
A postura de Tangen reflete uma visão de longo prazo e a disposição de ignorar tendências momentâneas do mercado. Embora o fundo não tenha confirmado uma movimentação concreta para reduzir suas participações em ações de tecnologia dos EUA ou para aumentar a exposição à China, ele deixou claro que está convencido de que a diversificação para mercados não tradicionais oferece uma resposta sólida ao atual ciclo de incertezas.
Política monetária e as ameaças ao mercado global
O foco de Tangen na China também se dá em um momento de crescente tensão geopolítica e econômica. No mesmo evento, ele comentou sobre as possíveis consequências de políticas internas nos EUA e na Europa. “Um segundo governo do Presidente Donald Trump que reduza a regulamentação pode ser realmente bom para nossas empresas nos Estados Unidos, enquanto as tarifas afetarão negativamente a Europa”, afirmou.
Além disso, Tangen destacou o impacto das altas taxas de juros no mercado. “Pode haver um momento em que, dado o alto nível da dívida pública, os investidores decidam repentinamente que querem um cupom muito mais alto para emprestar aos governos”, alertou, destacando um possível aumento nas taxas de juros que poderia pressionar negativamente os mercados financeiros.
Desafios imprevistos e a gestão de riscos
Tangen também mencionou a crescente dificuldade de modelar eventos imprevistos que desestabilizam o mercado. Referindo-se a crises como a financeira global de 2008, a pandemia de COVID-19 e o terremoto e tsunami de 2011 no Japão, o executivo afirmou que “são as coisas que não podem ser modeladas que realmente desestabilizam os mercados”. Isso, segundo ele, é o maior risco para os investidores a longo prazo, já que eventos inesperados podem mudar radicalmente a dinâmica do mercado.
Com uma gestão focada no longo prazo, Tangen tem alertado que a inflação continuará a pesar sobre os retornos financeiros nos próximos anos, colocando em questão a sustentabilidade dos ganhos em ativos tradicionais, como as ações de tecnologia dos EUA.
Governança e comunicação como pilares da estratégia
Sob a liderança de Tangen, o NBIM tem reforçado seu compromisso com questões ambientais, sociais e de governança (ESG). A transparência em suas decisões tem sido uma prioridade, como a divulgação antecipada de intenções de voto e participação em conselhos internacionais. Tangen acredita que essa abordagem ajudará o fundo a manter sua relevância, especialmente em tempos de crescente escrutínio sobre o impacto social e ambiental dos investimentos.
O fundo, que possui participações em quase 9.000 empresas ao redor do mundo, está também investindo em estratégias de comunicação, com o objetivo de aumentar sua visibilidade tanto no mercado global quanto dentro da Noruega. “Quando as coisas mudam, você precisa mudar de ideia”, disse Tangen, destacando que agilidade e adaptação são essenciais para um bom investidor.
A liderança de Tangen à frente do Norges Bank
O futuro do Norges Bank sob a liderança de Tangen permanece um tema de debate. Ele afirmou que pretende continuar no cargo após o fim de seu mandato em setembro de 2024, sem planos imediatos para transitar para a política ou assumir outro cargo em fundos de investimento. Sua visão estratégica e a ousadia de desviar da norma podem ser os diferenciais para manter o fundo soberano norueguês relevante em tempos de mudança no cenário financeiro global.
Essa perspectiva de contrarianismo, ao mesmo tempo que é desafiadora, propõe um novo olhar sobre mercados tradicionalmente dominados por gigantes do setor de tecnologia, além de colocar a China como uma potência a ser observada. A hora de investir pode, de fato, ser agora – mas, como Tangen disse, “é preciso coragem para fazer o oposto de todo mundo”.