
A maré virou no tabuleiro sul-americano. Em poucos dias, Argentina, Paraguai e Equador apertaram o cerco contra o ditador Venezuelano Nicolás Maduro e se alinharam aos Estados Unidos, classificando o chamado “Cartel de los Soles” como organização terrorista e defendendo cooperação imediata contra o narcotráfico.
Nesse mesmo movimento, o Brasil ficou fora do coro. Ao insistir numa linha mais branda com Caracas, o governo Lula aparece isolado, perde tração diplomática e abre espaço para vizinhos ocuparem um protagonismo que já foi do país.
O que mudou nesta semana
Os sinais se multiplicaram. O Equador veio primeiro, por decreto presidencial, e cravou o “Cartel de los Soles” como grupo terrorista do crime organizado. Logo depois, o Paraguai replicou a medida, amparado por seu Senado, e prometeu redobrar esforços contra o crime transnacional. Em seguida, a Argentina de Javier Milei também classificou o grupo como organização terrorista, reforçando a coordenação com parceiros regionais e multilaterais.
Esse alinhamento ganhou impulso com declarações duras de Washington e com a narrativa de que a rota de drogas pressiona fronteiras e alimenta redes criminosas na região. A leitura é simples e direta: a segurança voltou ao centro da agenda, e quem sinaliza firmeza ganha capital político.
Ao mesmo tempo, a Guiana expressou “profunda preocupação” com o avanço do crime organizado e defendeu cooperação internacional mais robusta. O tabuleiro se reorganizou rapidamente e reposicionou os protagonistas.
Por que o Brasil fica isolado
O Brasil sustenta uma diplomacia de diálogo com o ditador Maduro, prioriza negociação e evita adesões automáticas a listas terroristas definidas por terceiros. Essa escolha tem custos. Quando a maioria dos vizinhos muda o tom, quem fica parado parece andar para trás. Assim, a imagem de “ponte” esbarra na percepção de condescendência.
Além disso, o cenário doméstico brasileiro cobra coerência. Ao pedir liderança regional, o país precisa calibrar discurso e ação para não soar hesitante. Sem sinais práticos de alinhamento mínimo em segurança, o Brasil perde poder de agenda nos fóruns multilaterais e fica refém do noticiário.
Enquanto isso, a oposição venezuelana comemora o endurecimento dos vizinhos e pressiona ainda mais por respostas contundentes. Cada novo gesto na região amplia o contraste com Brasília.
Impactos imediatos para negócios e diplomacia
Investidores e empresas medem risco por sinais. Com a região convergindo para uma política de segurança comum, o Brasil tende a ser visto como ponto fora da curva, o que encarece negociações e alonga prazos de due diligence. Parceiros preferem ambientes previsíveis, e previsibilidade nasce de coordenação.
No front diplomático, a assimetria reduz o poder de barganha brasileiro em mesas que importam, da integração energética à cooperação policial. Ao não compor a mesma partitura, o país troca influência por neutralidade que pouco entrega resultados.
Consequentemente, projetos binacionais e iniciativas de fronteira podem migrar para arranjos liderados por quem fala a mesma língua estratégica — e isso significa menos protagonismo brasileiro no curto prazo.
O que pode acontecer agora
Se Brasília seguir na linha atual, o isolamento tende a persistir e a região consolidará um bloco “pró-segurança” com laços mais diretos com os EUA. Nesse caso, o Brasil passará a reagir a decisões alheias, em vez de pautá-las.
Se o Brasil ajustar a rota e anunciar cooperação operacional específica — inteligência, fronteiras, ações conjuntas contra o financiamento do crime — pode recuperar espaço sem romper canais com Caracas. Pequenos passos concretos mudam a percepção com rapidez.
De todo modo, a janela é curta. A narrativa já está formada, e quem mover primeiro dita os termos da conversa. Liderança regional se conquista com gesto claro, timing e consistência.
Três pontos principais
- Brasil perde protagonismo regional ao manter postura branda com Caracas
- Vizinhos se alinham aos EUA e elevam a segurança ao topo da agenda
- Sem ajuste rápido o país troca influência por neutralidade que pouco entrega