O Banco Central (BC) anunciou que vendeu US$ 20,8 bilhões em leilões à vista ou de linha durante o mês de dezembro, porém, a cotação do dólar segue em patamares elevados, fechando a quinta-feira, 19 de dezembro, a R$ 6,12, uma queda de 2,3%. Apesar do retrocesso, o dólar manteve-se acima de R$ 6, o que refletiu uma série de desafios econômicos e fiscais enfrentados pelo país.
A moeda americana atingiu um pico nominal de R$ 6,30 na última quarta-feira (18), marcando a quinta alta consecutiva. Contudo, a reação do BC, que conduziu dois leilões de venda de dólares, no valor total de US$ 8 bilhões, causou uma retração no preço do dólar. Esses leilões representaram a maior intervenção cambial em volume desde 20 de março de 2020, período do início da pandemia de COVID-19.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, justificou as ações, destacando um fluxo atípico de saída de dólares do Brasil, especialmente devido ao pagamento de dividendos por empresas brasileiras.
“A atuação no mercado cambial é uma resposta a essa saída de recursos, que impacta diretamente a cotação da moeda”.
afirmou Campos Neto, reforçando a necessidade de manter a estabilidade econômica.
Além disso, a recente instabilidade da moeda também reflete uma percepção negativa dos agentes financeiros em relação às contas públicas, após a apresentação do pacote fiscal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com analistas, o pacote não foi suficiente para reverter as preocupações sobre o equilíbrio fiscal, contribuindo para a desvalorização do real frente ao dólar.
Por outro lado, o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afastou a ideia de que há um “ataque especulativo” no mercado, uma posição que foi vista como um contraponto às críticas de aliados do governo. Em relação às contas públicas, Galípolo destacou que o ajuste fiscal é um processo contínuo e que a proposta do governo não pode ser vista como uma solução imediata. “O pacote fiscal não é uma bala de prata”, disse, reafirmando o compromisso com o equilíbrio fiscal a longo prazo.
O movimento do BC também reflete a postura da autoridade monetária em relação à inflação, que permanece como uma das principais preocupações. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC aumentou a taxa Selic em 1 ponto percentual e sinalizou a possibilidade de mais dois reajustes semelhantes nos próximos encontros.
A atuação do Banco Central para conter a pressão sobre o dólar se intensificou desde que a moeda superou a marca de R$ 6 pela primeira vez em 29 de novembro. Entre os dias 12 e 19 de dezembro, a instituição realizou uma série de leilões, que incluíram 9 operações de venda de dólares, totalizando US$ 15 bilhões.
No entanto, o cenário cambial continua volátil. Para o economista-chefe da XP Investimentos, José Márcio, “apesar da intervenção, a persistência de fatores internos e externos pode manter o dólar em patamares elevados no curto prazo”. Ele se refere ao impacto das incertezas fiscais e da instabilidade política na confiança dos investidores.
O BC segue monitorando a situação do mercado, mas, até o momento, as medidas adotadas não foram suficientes para estabilizar a moeda, refletindo a complexidade do cenário econômico do país.