
- Brasil lidera a América Latina com 433 mil milionários, mas é apenas o 19º no ranking global.
- Volume de heranças nos próximos 25 anos será o segundo maior do mundo, superando até a China.
- Desigualdade extrema: país lidera ranking global de concentração de renda, com Gini de 0,82.
O Brasil lidera a América Latina em número de milionários, mas também figura como o país mais desigual do planeta, segundo relatório global do banco UBS. A análise, que cobre 56 nações, evidencia uma realidade contraditória: enquanto 433 mil brasileiros detêm mais de US$ 1 milhão em patrimônio, a distribuição de renda continua extremamente concentrada, com Índice de Gini de 0,82 — o maior entre os países analisados.
Milionários em alta: um retrato do topo da pirâmide
De acordo com o levantamento, o Brasil ocupa a 19ª posição no ranking global de milionários em dólares. O número de brasileiros com fortuna acima de R$ 5,5 milhões (equivalente a US$ 1 milhão) cresce ano após ano, seguindo uma tendência mundial impulsionada pelo desempenho de ativos financeiros e pelo dinamismo de determinados setores da economia.
Esse cenário coloca o país à frente de grandes economias como Rússia, México, Dinamarca e Noruega, e revela o avanço da concentração de capital. Além disso, o estudo aponta que os Estados Unidos lideram com folga: só em 2024, mais de mil americanos por dia ingressaram nesse seleto grupo, totalizando 379 mil novos milionários.
Portanto, o Brasil, embora mais distante nesse ritmo, apresenta uma dinâmica que preocupa quando analisada em conjunto com sua desigualdade estrutural.
Um tsunami de heranças: Brasil à frente da China
Outro dado alarmante é o volume de riqueza que será transferido nos próximos 25 anos. Estima-se que mais de US$ 83 trilhões mudarão de mãos globalmente — e o Brasil figura como o segundo país com maior volume de heranças, atrás apenas dos Estados Unidos.
A previsão é de que US$ 9 trilhões circulem entre gerações no Brasil, superando inclusive a China, que terá cerca de US$ 5,6 trilhões em repasses patrimoniais. O envelhecimento da população brasileira e a alta concentração de riqueza em famílias abastadas são os principais fatores que explicam esse número.
Essas heranças representam tanto uma oportunidade de renovação quanto um risco de perpetuação das desigualdades. Sem mecanismos eficientes de redistribuição, como uma reforma tributária progressiva, a tendência é que o fosso social aumente ainda mais.
O país mais desigual do mundo, segundo o UBS
Apesar do crescimento na base rica da população, o relatório do UBS destaca que o Brasil tem o pior índice de desigualdade entre as 56 economias analisadas. Empatado com a Rússia, o país alcança um Gini de 0,82, o que significa que a renda está fortemente concentrada nas mãos de poucos.
Na comparação internacional, países como Alemanha (0,68), Suíça (0,67) e China (0,62) exibem cenários bem mais equilibrados. Mesmo outras nações frequentemente marcadas por contrastes sociais severos, como África do Sul e Emirados Árabes Unidos, apresentam indicadores um pouco mais baixos.
Essa concentração extrema afeta diretamente o acesso da população a saúde, educação e oportunidades econômicas, dificultando o crescimento sustentável e inclusivo. Como alerta Paul Donovan, economista-chefe do UBS, “a forma como a riqueza é distribuída e transferida moldará as oportunidades, as políticas e o progresso”.
Descompasso entre riqueza e bem-estar social
O relatório mostra que apenas 1,6% dos adultos no mundo têm patrimônio líquido superior a US$ 1 milhão. Ainda assim, mais de 80% dos adultos analisados possuem menos de US$ 100 mil.
Além disso, a chamada “Grande China”, que inclui China continental, Hong Kong e Taiwan, lidera em adultos com patrimônio entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão, mas os Estados Unidos continuam dominando o topo.
Enquanto a riqueza média por adulto cresce globalmente, no Brasil, a falta de políticas públicas voltadas à redução da desigualdade torna essa prosperidade restrita. E mais grave: o crescimento do número de milionários ocorre à revelia da maioria da população.