- O país alcançou a 107ª posição com 34 pontos, a pior colocação desde o início da pesquisa
- O silêncio sobre a agenda anticorrupção e a falta de transparência no Novo PAC pioraram a percepção de corrupção
- A presença crescente do crime organizado nas instituições públicas é uma das principais preocupações apontadas pela Transparência Internacional
O Brasil caiu drasticamente no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2024, divulgado pela Transparência Internacional. O país obteve 34 pontos e ocupou a 107ª posição no ranking mundial, pior desempenho desde o início da série histórica da pesquisa.
Esse resultado representa um retrocesso significativo em relação a 2023, quando o Brasil marcou 36 pontos e ficou na 104ª posição. A pesquisa, que avalia a percepção de corrupção no setor público com base em 13 pesquisas feitas por 12 organizações internacionais, aponta uma série de fatores que contribuem para essa piora na imagem do país.
Fatores que contribuíram para o retrocesso
A Transparência Internacional aponta uma combinação de fatores como responsáveis pela queda no ranking. Entre os mais destacados estão o silêncio do presidente Lula sobre a agenda anticorrupção. Além da falta de transparência no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que dificulta o controle social das ações do governo.
Outro aspecto negativo observado foi a percepção crescente de ingerência política na Petrobras (PETR4). Assim, o que eleva a desconfiança sobre a independência da estatal.
Além disso, o governo tem negado pedidos de acesso à informação, incluindo casos envolvendo a alta cúpula do governo federal. A situação de corrupção também se reflete em escândalos envolvendo desvios de emendas parlamentares e irregularidades no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
A falta de ações efetivas para combater a corrupção também se manifesta nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Contudo, que arquivou e anulou diversos processos, incluindo os que envolvem o Grupo Odebrecht, um dos maiores escândalos de corrupção da história recente do Brasil.
Crime organizado e a corrupção
A Transparência Internacional destaca a crescente influência do crime organizado nas instituições estatais brasileiras. Segundo a organização, o avanço da corrupção no país está diretamente ligado à captura do Estado por grupos criminosos. Dessa forma, que operam em conluio com agentes públicos corruptos.
Esse fenômeno é visto como um estágio avançado no processo de degradação das instituições. Assim, onde a corrupção e o crime organizado se fortalecem mutuamente, prejudicando ainda mais a governança e a confiança da sociedade nas autoridades.
“O Brasil falhou, mais uma vez, em reverter a trajetória dos últimos anos de desmonte da luta contra a corrupção. O que se viu foi o avanço do processo de captura do Estado pela corrupção”, afirmou a Transparência Internacional em seu relatório.
A situação descrita pela organização reflete um cenário preocupante. Dessa forma, grupos criminosos e agentes corruptos minam constantemente o controle estatal e a transparência.
O histórico do Brasil no IPC
O Índice de Percepção da Corrupção, criado pela Transparência Internacional, é uma das principais ferramentas para avaliar a percepção da corrupção nos países. Assim, baseada em uma escala que vai de 0 a 100 pontos, sendo que quanto menor a pontuação, pior a percepção de corrupção.
No Brasil, o melhor desempenho no ranking ocorreu em 2012 e 2014, durante o governo Dilma Rousseff, quando o país alcançou a 69ª posição, com 43 pontos.
Antes de 2024, o pior desempenho do Brasil havia sido em 2019, durante o governo Jair Bolsonaro, quando o país registrou 35 pontos e ficou na 106ª posição. O Brasil, portanto, nunca havia experimentado uma queda tão acentuada quanto a registrada agora.
Necessidades para o futuro
A queda no IPC de 2024 reflete a necessidade urgente de o Brasil adotar medidas concretas para restaurar a confiança da população. E, consequentemente, das organizações internacionais em seu compromisso com a luta contra a corrupção.
Para que o país consiga reverter essa tendência negativa, é fundamental que haja maior transparência nas ações governamentais, controle social efetivo sobre os recursos públicos. E, além disso, um fortalecimento das instituições responsáveis por investigar e punir atos de corrupção.
A melhoria da percepção de corrupção no Brasil depende, ainda, de uma postura mais firme do governo e das autoridades judiciais. Contudo, devem trabalhar de maneira mais articulada para garantir que as investigações sobre corrupção avancem e que os responsáveis sejam punidos, sem a interferência de interesses políticos.