Proteção local

China está desovando carros no Brasil, diz Anfavea

Leite, presidente da Anfavea, pede o retorno imediato da alíquota de importação para proteger a indústria da competição com modelos chineses.

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  • Leite, presidente da Anfavea, criticou a redução temporária da alíquota de importação de veículos elétricos e o impacto dessa política nas montadoras brasileiras
  • Leite acusou as montadoras chinesas de “desova” de veículos no Brasil, aproveitando alíquotas reduzidas para exportar grandes volumes, especialmente modelos elétricos
  • A Anfavea defende estratégias para aumentar as exportações de veículos brasileiros, visando recuperar o market share global e reequilibrar a balança comercial

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, fez duras críticas à política tributária do Brasil e ao flerte do governo com as montadoras chinesas. Que, segundo ele, estariam realizando uma “desova” de carros no país.

A declaração foi feita em uma entrevista à Bloomberg Línea, publicada nesta terça-feira (14). E, reflete, no entanto, a preocupação da entidade com a crescente invasão de modelos chineses no mercado brasileiro, especialmente os veículos elétricos.

De acordo com Leite, o aumento das importações de veículos, que cresceu 33% em 2024, foi impulsionado principalmente pelos modelos elétricos vindos da China.

As montadoras asiáticas se anteciparam ao aumento gradual dos tributos sobre os carros importados, que começará a valer em 2025 e continuará até 2026.

Alíquota de importação

Com isso, as empresas chinesas aproveitaram a alíquota reduzida de importação para exportar grandes volumes de veículos ao Brasil. No entanto, segundo Leite, tem prejudicado a competitividade das montadoras locais.

O governo reduziu temporariamente a alíquota para importação de veículos elétricos nos últimos anos, mas em 2025, elevará o imposto para 18%, com previsão de aumento gradual até atingir 35% em 2026.
O que, é o teto estabelecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Para os híbridos plug-in e híbridos leves, o aumento também será progressivo. Contudo, atingindo a mesma taxa máxima de 35% no mesmo ano.

Leite não poupou críticas a essa política, destacando que a situação é desvantajosa para os fabricantes nacionais.

“Nós, como fabricantes locais, muitas vezes utilizamos esse mecanismo de importação, mas não podemos perder competitividade em razão das alíquotas baixas”, afirmou o presidente da Anfavea.

Ele ainda alertou para o fato de que as montadoras chinesas, com suas operações agressivas, anteciparam a exportação de grandes volumes de veículos ao Brasil. Assim, provocando um desequilíbrio no mercado.

As consequências

Esse movimento das montadoras chinesas já trouxe consequências visíveis. Em dezembro de 2024, os portos brasileiros estavam com cerca de 70 mil veículos elétricos não vendidos. No entanto, número que foi reduzido para cerca de 50 mil no começo de 2025.

A empresa chinesa BYD, uma das líderes nesse processo de expansão no Brasil, recentemente adquiriu a antiga fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia. Dessa forma, intensificando ainda mais a presença chinesa no país.

Além da crítica às importações, a Anfavea também tem se posicionado sobre a necessidade de estratégias para aumentar as exportações do setor automotivo brasileiro.

Em 2024, o Brasil exportou 398,5 mil veículos, uma queda de 1,3% em relação ao ano anterior. Para Leite, a recuperação do setor não passa apenas por um controle mais rigoroso das importações. Mas, também, pela retomada da competitividade internacional, uma vez que o Brasil tem perdido participação no mercado global.

“Temos que reequilibrar a balança comercial, retomar as exportações. Estamos perdendo market share no mundo”, destacou Leite, ressaltando que o fortalecimento das exportações é essencial para garantir a sobrevivência e o crescimento da indústria nacional.

A crítica de Leite reflete uma crescente preocupação do setor automotivo brasileiro em relação ao impacto da concorrência externa, especialmente das montadoras chinesas, e à necessidade de uma política tributária mais eficaz que proteja as empresas locais enquanto estimula a competitividade.

O futuro da indústria automotiva no Brasil, portanto, depende não apenas de medidas para conter a “desova” de veículos estrangeiros, mas também de estratégias robustas para aumentar as exportações e recuperar a participação do país nos mercados internacionais.

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