
- Fundos da Reag aplicaram mais de R$ 1,2 bilhão em CDBs do Banco Master num período de crise de liquidez
- As aplicações estavam fora da proteção do FGC, ampliando riscos de perdas bilionárias em caso de insolvência
- Especialistas classificam as transações como práticas atípicas e veem necessidade de maior fiscalização do Banco Central
A Operação Carbono Oculto voltou a movimentar o coração da Faria Lima, desta vez revelando transações bilionárias entre fundos da Reag e o Banco Master. O caso trouxe à tona como dois fundos ligados à gestora aplicaram mais de R$ 1,2 bilhão em CDBs do banco num momento em que a instituição já enfrentava dificuldades de liquidez.
Embora a Reag afirme que atuou dentro da lei e o Master se declare apenas mais um cliente entre centenas, especialistas alertam que tais movimentações sugerem práticas arriscadas e fora dos padrões comuns de mercado. A exposição de recursos sem cobertura do FGC elevou a preocupação sobre possíveis perdas para investidores institucionais e fundos de pensão.
Como os fundos da Reag financiaram o Master
As investigações apontam que os fundos Reag Growth 95 e Hans 25 concentraram aplicações pesadas em títulos do Master a partir do segundo semestre de 2024. No auge, o Growth 95 chegou a deter R$ 1,28 bilhão em CDBs da instituição. Já o Hans 25 registrou posição de R$ 123 milhões, também em papéis do banco.
Esses aportes ocorreram justamente após o Banco Central restringir a captação via CDBs, antes principal combustível do crescimento acelerado do Master. Ademais, a busca por alternativas levou a instituição a atrair fundos dispostos a assumir risco maior em troca de promessas de rentabilidade acima do mercado.
A Reag, em nota, defendeu que conduziu todas as operações de forma diligente e em conformidade com a legislação. O Master, por sua vez, destacou que a gestora é apenas uma das diversas entidades financeiras que prestam serviços à instituição.
Risco além do limite do FGC
A principal preocupação levantada pelos especialistas é que os CDBs adquiridos ultrapassavam a cobertura de R$ 250 mil do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso significava que, em caso de insolvência do Master, fundos e cotistas ficariam expostos a perdas diretas e bilionárias.
O modelo de crescimento acelerado do banco, baseado em ativos de risco e baixa liquidez, já havia acionado o alerta do regulador. Assim, para manter o caixa em movimento, o Master chegou a recorrer também a fundos de pensão de servidores estaduais e municipais, levantando cerca de R$ 2 bilhões em 2024.
No entanto, com os títulos ficando fora da proteção do FGC, a vulnerabilidade aumentou e o cenário de liquidação do banco chegou a ser cogitado por autoridades financeiras. Desse modo, esse risco só não se concretizou porque o grupo conseguiu acesso a linhas emergenciais do próprio FGC.
Especialistas veem sinal de alerta no mercado
Economistas e analistas consultados afirmam que a forte exposição dos fundos da Reag ao Master foge ao padrão esperado de gestão prudente. Para Cristina Helena Pinto de Mello, professora da PUC-SP, as transações sugerem que o banco buscava desesperadamente parceiros para se financiar em meio à crise de liquidez.
Já Alexandre Ripamonti, perito contábil, classificou como “estranho” o fato de um fundo alocar mais de 10% do patrimônio em papéis de um banco em dificuldades. Além disso, para ele, isso demonstra práticas fora do comum e que elevam a desconfiança sobre a governança da operação.
Enquanto isso, investidores acompanham com apreensão os próximos passos. Portanto, o desfecho dependerá também das negociações em andamento para a entrada do Banco de Brasília (BRB) no capital do Master, operação que ainda enfrenta resistências regulatórias e de mercado.
O que esperar daqui para frente
A conexão entre Reag e Master virou um novo capítulo da Carbono Oculto, operação que revelou brechas graves no sistema financeiro exploradas pelo crime organizado.
Nesse sentido, mesmo sem colocar a legalidade das transações no centro, as investigações expõem como a concentração bilionária em ativos de alto risco evidencia fragilidades capazes de abalar a confiança dos investidores.
Analistas apontam que a crise deve forçar maior fiscalização do Banco Central sobre gestoras e bancos médios. Além disso, a pressão sobre compliance e governança tende a aumentar, encarecendo custos e dificultando a sobrevivência de players menores.
Por fim, se confirmadas práticas fora do padrão de mercado, as consequências podem ir além da imagem. Investidores institucionais podem exigir ressarcimentos e o setor pode enfrentar uma nova onda de regulação.