- Mercado reverte alta e fecha em queda após pacote fiscal do governo
- Congelamento de R$ 31,3 bi e aumento do IOF elevam desconfiança com cenário fiscal
- Especialistas alertam que medidas são temporárias e não resolvem problema estrutural
O mercado financeiro brasileiro viveu uma montanha-russa nesta quinta-feira (23) após o governo anunciar um pacote de medidas fiscais que incluiu o congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas do orçamento. Além do aumento repentino do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Inicialmente, a notícia provocou uma reação positiva nos ativos: o Ibovespa subiu e o dólar caiu abaixo de R$ 5,60. No entanto, o clima de alívio durou pouco.
No fim do pregão, o humor dos investidores mudou radicalmente. O Ibovespa encerrou o dia com queda de 0,44%, aos 124.200 pontos, e o dólar à vista ganhou força, avançando 0,35%, para R$ 5,66.
Especialistas apontam que a euforia inicial deu lugar a um receio maior sobre a real capacidade do governo de cumprir a meta fiscal sem recorrer a soluções improvisadas.
Daniel Teles, analista da Valor Investimentos, foi direto:
“As reações negativas são justamente uma resposta à tributação elevada. O governo congela gastos, mas aumenta imposto. Isso mostra que, sem medidas estruturais, não consegue equilibrar as contas públicas.”
Para ele, o aumento do IOF é um sinal claro de desespero arrecadatório, que compromete o ambiente de negócios e o planejamento de empresas e investidores.
Elevação da alíquota
A medida que mais chamou atenção foi a elevação da alíquota do IOF sobre operações internacionais. Contudo, que inclui remessas ao exterior, uso de cartões no exterior, empréstimos de curto prazo fora do país e aplicações financeiras internacionais.
A expectativa do Ministério da Fazenda é arrecadar mais de R$ 60 bilhões com a medida nos próximos dois anos, ajudando a viabilizar a meta de déficit primário zero em 2025.
Mas a meta em si virou motivo de desconfiança. O governo trabalha com um limite de tolerância de até 0,25% do PIB, o que equivaleria a um déficit de cerca de R$ 31 bilhões. Para muitos no mercado, a decisão de mirar o teto dessa meta — e não um resultado mais austero — reforça a percepção de improviso.
“A meta pode ser até ambiciosa, mas o caminho para atingi-la ainda é frágil. Não vimos reformas estruturais, apenas ajustes pontuais que podem perder efeito rapidamente”, disse Pablo Spyer, economista e conselheiro da Ancord.
“O investidor não quer medidas paliativas, quer estabilidade e previsibilidade. E não é isso que temos agora.”
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, compartilha da mesma visão. Ela, no entanto, afirma que o congelamento de gastos foi maior do que o mercado esperava, o que poderia ser um ponto positivo. Porém, o uso de instrumentos temporários e a falta de cortes reais geram desconfiança.
“Não é ajuste estrutural, é um remendo. Isso não atrai capital de longo prazo”, afirmou.
Com o aumento do IOF e o corte orçamentário, o governo, portanto, tenta mostrar responsabilidade fiscal, mas enfrenta resistência crescente dos investidores, que esperam medidas mais sólidas e permanentes.
O temor é que o Brasil entre em um ciclo de aumento de impostos sem controle dos gastos, o que compromete a recuperação econômica e a atratividade do país como destino de investimentos.