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- Fundos exclusivos reduziram alocação em ações brasileiras para 4,21%, o menor nível desde 2015
- 52,98% dos fundos dos super-ricos estão em títulos públicos, com forte crescimento nas debêntures
- Investimentos em setores como saneamento e utilities continuam atraentes, focados em previsibilidade e repasse inflacionário
Os investidores “super-ricos”, conhecidos por suas grandes fortunas e portfólios exclusivos, estão cada vez mais cautelosos com o cenário econômico do Brasil.
A combinação de pessimismo doméstico, risco de dominância fiscal e a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos minaram o apetite a risco. Dessa forma, levando a uma drástica redução na exposição ao mercado de ações.
Dados da plataforma ComDinheiro-Nelogica, obtidos pelo E-Investidor, revelam que, em dezembro de 2024, os fundos exclusivos de investimentos alocaram apenas 4,21% de seu capital em ações brasileiras. Assim, o menor patamar desde dezembro de 2015, quando a participação era de 4,78%.
Redução no apetite por risco
Nos últimos anos, os investidores super-ricos demonstraram maior interesse em ações brasileiras, especialmente durante os anos de 2019 a 2021, quando a exposição em ações variou entre 7% e 10%, em um período de forte valorização da Bolsa e juros mais baixos.
No entanto, o cenário mudou com o agravamento das incertezas fiscais no Brasil e o impacto político da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Em 2024, a exposição dos fundos exclusivos à Bolsa brasileira caiu drasticamente, com os investidores preferindo opções mais seguras, como os títulos públicos.
Aposta em renda fixa
Em contraste com a redução nos investimentos em ações, a renda fixa se consolidou como a principal estratégia de alocação dos super-ricos. Dados apontam que, em dezembro de 2024, cerca de 52,98% do capital desses fundos estava alocado em títulos públicos, um aumento significativo em relação aos 51,84% observados quase 10 anos atrás.
Esse movimento de maior cautela reflete a busca pela preservação do patrimônio em um momento de estresse nos mercados financeiros.
Além disso, as debêntures, que antes não representavam uma fatia significativa dos portfólios, agora ocupam uma parcela importante, com uma alocação de 4,69% entre 2015 e 2024.
Esse crescimento nas alocações em debêntures mostra que os investidores estão cada vez mais apostando em ativos com rentabilidade previsível, como forma de proteção contra as incertezas fiscais e políticas.
Cenário econômico
O desempenho do mercado em 2024 ajudou a justificar o movimento dos super-ricos. O Ibovespa, principal índice da B3, registrou uma queda de 10% no acumulado do ano, fechando 2024 aos 120.750,96 pontos.
Além disso, o dólar disparou no último trimestre, superando pela primeira vez a marca de R$ 6,00 após o anúncio do pacote de corte de gastos, elaborado pela equipe econômica do governo, que não atendeu às expectativas do mercado.
Por outro lado, os títulos do Tesouro Direto, especialmente os prefixados e os indexados ao IPCA+, apresentaram desempenhos expressivos.
Os títulos prefixados encerraram o ano com prêmios superiores a 15%, enquanto os indexados ao IPCA+ apresentaram rentabilidades próximas a 8% de ganho real.
Esse cenário de alta rentabilidade na renda fixa impulsionou ainda mais o movimento de alocação dos super-ricos, que estão mais focados na preservação de seu patrimônio do que em correr riscos em um ambiente incerto.
Estratégias de investimentos
Apesar da cautela generalizada, algumas ações permaneceram nos portfólios desses investidores. A estratégia de investimento foi concentrada em setores menos suscetíveis aos ciclos econômicos domésticos.
André Leite, CIO da TAG Investimentos, destacou que, em 2024, a empresa manteve uma alocação menor em Bolsa e multimercados do que a média do mercado, optando por aumentar a exposição a títulos públicos de inflação à medida que as taxas de juros subiam.
Entre as poucas ações que se mantiveram nos portfólios dos super-ricos, destaque para os setores de saneamento, utilities e imobiliário (especialmente shopping centers).
Esses setores foram escolhidos por sua previsibilidade de receitas, capacidade de repasse inflacionário e, por estarem atualmente descontados, oferecem boas oportunidades de retorno mesmo em tempos de instabilidade econômica.