Varejo endividado

Varejo perde R$ 103 bi após impactos das apostas no comércio brasileiro

Estudo da CNC revela que o redirecionamento de recursos das famílias para as apostas online está gerando endividamento ao comércio nacional.

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  • Em 2024, o varejo brasileiro perdeu R$ 103 bilhões devido ao aumento das apostas online, que consumiram R$ 240 bilhões das famílias
  • A falta de regulamentação adequada das apostas online tem permitido seu crescimento descontrolado, causando problemas como lavagem de dinheiro
  • Cerca de 1,8 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes por conta das apostas, especialmente entre famílias de baixa renda, impactando a economia

O setor varejista brasileiro registrou perdas de R$ 103 bilhões em 2024 devido ao redirecionamento de recursos das famílias para as chamadas “bets”. Conhecidas como: “as plataformas virtuais de apostas esportivas” e de cassino online.

O estudo, intitulado O Panorama das Bets, foi divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). E, portanto, apresenta dados preocupantes sobre os efeitos das apostas na economia brasileira.

De acordo com a CNC, as famílias brasileiras destinaram cerca de R$ 240 bilhões para apostas online ao longo do ano passado. Assim, o que gerou um impacto significativo no consumo em outros setores, como o varejo.

O estudo aponta que as apostas online têm se tornado uma das principais opções de entretenimento, especialmente entre as classes de menor renda. Dessa forma, o que tem resultado em um aumento de endividamento e vício.

Crescimento das bets e a falta de regulação

O levantamento revelou que as apostas esportivas e de cassino online, legalizadas no Brasil pela Lei Federal 13.756 de 2018, têm crescido rapidamente no país.

Esses sites de apostas têm investido pesadamente em publicidade, patrocinando clubes de futebol e alcançando uma grande base de consumidores.

Uma das maiores preocupações da CNC é o crescimento das modalidades de cassino online, como o Jogo do Tigrinho, que estão presentes em muitas dessas plataformas.

Cerca de 80% dos pagamentos feitos pelos usuários das apostas online são destinados a jogos de cassino, o que demonstra a popularidade dessa modalidade em relação às apostas esportivas.

No entanto, a falta de regulamentação adequada sobre os cassinos online tem gerado um “limbo regulatório”, permitindo que esses sites se proliferem sem um controle mais rigoroso. Para os economistas da CNC, isso não só prejudica a economia formal, como também facilita práticas ilegais, como a lavagem de dinheiro.

Impacto no endividamento e na inadimplência

Outro dado alarmante do estudo é o aumento da inadimplência entre os brasileiros, em grande parte devido ao consumo desenfreado em plataformas de apostas.

Estima-se que aproximadamente 1,8 milhão de brasileiros tenham entrado em situação de inadimplência em 2024 por causa das apostas online.

A CNC destaca que muitos consumidores deixam de cumprir suas obrigações financeiras para realizar apostas, especialmente entre as famílias de baixa renda.

O estudo comparou dois grupos de renda, um com famílias que ganham entre 3 e 5 salários mínimos e outro com rendas entre 5 e 10 salários mínimos. Entre novembro de 2023 e 2024, o primeiro grupo viu a inadimplência aumentar de 26% para 29%, enquanto o segundo grupo apresentou uma queda de 2,6 pontos percentuais, fechando em 22%.

A CNC alerta que o aumento da inadimplência pode resultar em uma redução no consumo, desaceleração da economia e instabilidade financeira, impactando toda a sociedade.

Ações do governo e regulação do setor

Em resposta aos impactos negativos das apostas online, o governo federal tem tomado algumas medidas para regular o setor.

Em setembro de 2024, o Banco Central divulgou uma nota técnica que apontou gastos de R$ 3 bilhões em bets por beneficiários do Bolsa Família, o que gerou discussões sobre o uso de recursos públicos para apostas online.

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o governo federal adotasse medidas para impedir que os beneficiários do programa usassem os recursos para apostar.

Além disso, o governo anunciou um pente fino nos sites de apostas e a divulgação de uma lista de empresas autorizadas a operar no Brasil. O Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria de Prêmios e Apostas, também criou novas regras, como a proibição de publicidade que promova as bets como meio de enriquecimento e a proibição de crédito para apostas.

Essas ações têm como objetivo evitar que os consumidores se endividem ainda mais e garantir que as apostas não sejam utilizadas como um mecanismo de especulação financeira.

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