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Em apenas dois anos desde que foi lançado, em 16 de novembro de 2020, o Pix se tornou o meio preferido de pagamentos pelos brasileiros. Até outubro de 2022, 141,4 milhões de pessoas utilizaram o sistema instantâneo e as chaves cadastradas ultrapassaram meio bilhão, segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com dados do Banco Central (BC). O sucesso é tanto que opções ligadas ao Pix continuam a surgir e para 2023 a tendência é que os bancos ofereçam ainda mais opções aos seus clientes. Assim, poderão atingir quem ainda prefere outras formas de pagamentos e gerar receita com a solução, segundo a Capco, consultoria global de gestão e tecnologia dedicada ao setor de serviços financeiros do Grupo Wipro.
O BC criou o Pix, mas deixa aberto para instituições financeiras, de pagamentos (IPs) e fintechs a possiblidade de criarem serviços sobre ele, diz Alexandre Bueno, gerente sênior da Capco e head do Capco Digital Lab São Paulo. Assim, o executivo lista três tendências principais do setor bancário em relação ao sistema de pagamentos em 2023:
1. O lançamento de serviços e produtos como operações offline e conexão com o Open Finance;
2. Uma melhoria na experiência do usuário (UX), o que inclui reduzir os passos para fazer um pagamento;
3. Novos serviços integrados ao Pix com foco nas pequenas e médias empresas (PMEs).
Além disso, todas essas novidades poderão gerar outras, como a integração do Pix com o real digital, a moeda digital do BC, quando for lançado, e com empresas como a Google Pay, que acaba de receber autorização para ser uma IP no Brasil, e com plataformas de tokens não-fungíveis (NFTs), completa o executivo da Capco.
Primeira tendência: atrair novas faixas de usuários
Bueno lembra que apesar de os números do Pix serem muito positivos, “seu uso está encaixotado na população digital, ou seja, estão de fora alguns grupos de pessoas. Parte delas são as sem acesso à internet por morarem em áreas remotas ou por não terem renda para pagar pelo serviço. Um outro grupo é o das pessoas que embora tenham conta bancária para receberem benefícios, não têm renda para acessarem outros serviços financeiros. Um terceiro é o daquelas que utilizam pouco os serviços digitais”. Por isso a tendência de lançamento de novos produtos e serviços ligados ao Pix pelos bancos tem como foco incluir pessoas quem ainda não usa ou usa pouco a solução.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, 10% das residências brasileiras não tinham acesso à internet no final de 2021. Mas, enquanto o percentual é de 7,7% na área urbana, na rural é de 24,3%, portanto, praticamente 1 em cada 4 casas não tem acesso. Na região Norte, 41,4% das residências rurais não têm acesso e no Nordeste, 14,8% da população não têm internet. Por isso, uma das novidades do Pix poderá ser o pagamento offline. Isso poderia acontecer, por exemplo, por meio de um depósito numa carteira digital e com pagamentos por aproximação. O sistema de pagamentos instantâneo da Índia, o UPI (Unified Payments Interface), permite transações offline desde o início do ano.
A PNAD também mostrou que 42,5% das pessoas com 60 anos ou mais não usam internet. É a faixa etária que menos utiliza o serviço. Isso tem relação com um dos resultados da pesquisa da Capco “Pix no Brasil: Cenários e Oportunidades”, quem mostrou que apesar de representarem 14,6% da população do país, são 4,1% dos que utilizam o sistema de pagamentos instantâneo. Enquanto isso, na faixa de pessoas de 20 a 39 anos, que são 31,9% da população, a adoção é de 64%.
“Por usarem menos a internet no dia a dia, essas pessoas acabam se afastando de serviços digitais por falta de familiaridade. E se afastam ainda mais quando veem, por exemplo, notícias sobre fraudes. O desconhecimento prejudica a inclusão digital delas”, diz Bueno.
Ainda nessa tendência de lançamentos integrados com o Pix, estaria a de conectar serviços como o Pix Garantido, um crédito instantâneo, com o Open Finance. “Assim, os bancos podem utilizar as informações financeiras dos clientes para oferecer recursos com condições mais vantajosas”, afirma o head do Capco Digital Lab São Paulo. O BC, lembra ele, tem dito que as inovações que está implantando seguem etapas que estão ligadas e que incluem o Pix, depois o lançamento do Open Finance e na sequência, o real digital, que está em testes e que pode ter seu primeiro projeto piloto em 2023.
Segunda tendência: Menos passos para pagar com Pix
A segunda tendência para 2023 apontada por Bueno — a de melhorar a experiência do usuário, cortando etapas para realizar pagamentos – é uma necessidade, conforme apontaram os entrevistados da pesquisa da Capco. Isso porque essa é a solução que exige mais passos na comparação com outros meios: são 7 para transações por QR Code e 8 por chave. Com cartão são 4 passos com uso de senha e 3 por aproximação.
“Ter passos a mais é irrelevante quando se transfere dinheiro para um fornecedor, mas é uma barreira grande quando se está na fila de uma loja. Por isso, o Pix também não é incentivado pelos comerciantes”, explica o gerente-sênior da Capco. “O resultado disso é que muitas vezes o cliente acaba optando por outra solução, tanto que 28% dos entrevistados na nossa pesquisa disseram nunca ter pago por meio de QR Code, mesmo já tendo usado o Pix. “Os bancos estão cientes disso e estão buscando cortar esses passos”. Na Índia, completa, pagamentos com Pix por aproximação facilitam a usabilidade. Aliás, a união do Pix com carteiras digitais pode ajudar os bancos a rentabilizarem as operações, como já acontece com o Pix Garantido, que é um empréstimo, completou.
Bueno chama a atenção, no entanto, para o fato de que os cartões continuarão a existir mesmo com o avanço do Pix. Um dos motivos para isso é que no Brasil são mais usados por pessoas com renda mais alta.
“Os cartões têm terreno confortável avançando no mundo touchless (sem contato)”, diz ele. Além disso, oferecem benefícios como programas de milhagem para uso em compras e viagens. Agora, “quem não tem cartão de crédito e quem precisa fazer pagamentos para prestadores de serviços, em especial os informais, continua sendo público do Pix”, segundo ele.
Terceira tendência: Aumento do uso por PMEs
A terceira tendência está ligada ao interesse dos bancos de em oferecer mais serviços digitais para as PMEs. De acordo com Alexandre Bueno, “estamos num momento em que bancos estão criando ferramentas para esse segmento, que muitas vezes é informal. Por isso, o Pix pode ser conectado a plataformas de soluções com suporte na gestão do negócio, com tutoriais de gerenciamento de caixa e de criação de produtos, por exemplo. Precisamos lembrar que muitos desses empreendedores não são empresários. Muitos abriram seus negócios como meta de vida, mas sem se prepararem adequadamente para isso, e há quem empreendeu por falta de opção depois que perdeu o emprego”.
A pesquisa da Capco sobre o Pix mostrou que os entrevistados percebem que o sistema é mais aceito ou incentivado em sites na internet, pequenas lojas de rua, prestadores de serviço formais ou informais e campanhas de doação. Por outro lado, a aceitação é menor em mercados, lojas de rede e em shopping centers.
Com base nisso, a Capco identificou quatro pontos críticos, que merecem serem estudados e aprimorados para o uso do Pix como meio de pagamento no varejo.
“Um deles é a insegurança de pequenos lojistas de sofrerem algum tipo de golpe ao recebem com Pix. Entre as fraudes está a do agendamento do pagamento ao invés da transferência do dinheiro, sem que o atendente perceba. Depois, o agendamento é cancelado. Um segundo ponto é a integração do Pix aos softwares de gestão de pagamentos. A quarta é a questão da velocidade, em função das etapas que podem fazer o uso do Pix pode levar duas vezes mais tempo do que outros meios. E por fim, a jornada de telas para pagamentos com QR Code”, diz Alexandre Bueno.
“O ano de 2023 terá muitas novidades no sistema de pagamentos. O Pix vai continuar concentrando a atenção dos usuários porque seus benefícios são muito visíveis. Mas vamos ter também avanços no Open Banking e nos testes do real digital. Tudo isso somado vai certamente fortalecer o Brasil como um hub de inovação financeira e como um mercado a ser acompanhado por outros países”, acredita o Gerente Sênior da Capo.
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