É fato que o Pix se tornou muito popular no Brasil em pouco tempo. Esse sistema de pagamentos criado pelo Banco Central fez as transferências de dinheiro ficarem muito mais rápidas e práticas. Isso facilitou a vida de muitos e, recentemente, um sistema parecido está em criação, mas para transferência de dinheiro entre diversos países diferentes. Entenda como funciona o Pix Internacional, saiba se cai na hora, se tem taxa e tudo sobre.
Pix Internacional é um apelido dado pelos brasileiros ao Projeto Nexus. Esse projeto está sendo desenvolvido pelo BIS (Banco das Compensações Internacionais), ou em inglês, Bank for International Settlements, dentro do centro de inovações.
O BIS é uma espécie de banco central do mundo, pois é ele quem define as regras para o sistema bancário mundial. Por isso, com um projeto vindo deles podemos esperar grandes inovações para o mundo todo.
No mais, o apelido Pix Internacional existe pois o Projeto Nexus quer tornar possível os pagamentos feitos na hora para qualquer lugar do mundo, convertendo as moedas e tornando as transferências mais simples. Hoje, já existe um sistema para trocas internacionais, o SWIFT, mas ele passa por um tempo de processamento que pode levar dois dias. Então, um sistema similar ao Pix seria ideal.
A ideia surge pois os sistemas de pagamento instantâneos conta a conta no mesmo país – como o Pix – já está presente em cerca de 60 países, funcionando por 24 horas, 7 dias por semana. Então o BIS quer usar desses sistemas para entregar um novo, mais rápido e barato, tendo em vista também as taxas cobradas para pagamentos entre países.
Índice de conteúdo
Benefícios do Pix Internacional
O BIS lista os benefícios de existir um sistema de pagamento instantâneo a níveis internacionais, alegando que o pagamento instantâneo além das fronteiras supera o tradicional, principalmente na questão de velocidade, custo, transparência e acesso. Veja os pontos mais significativos abaixo.
Velocidade
Em geral, os pagamentos entre países tradicionais dependem dos sistemas de Liquidação Bruta em Tempo Real, que costumam funcionar apenas em horários comerciais. Então, é preciso esperar os bancos estarem abertos para receber o dinheiro. Com o sistema instantâneo, a velocidade do pagamento pode levar até 60 segundos, com base no processamento dentro de cada país e de cada banco.
Custo
Já sabemos que fazer um Pix, aqui no Brasil, é gratuito. Em geral, o pagamento instantâneo dentro do próprio país é grátis. Com isso, espera-se que o valor para pagamentos entre países seja baixo, uma vez que para os pagamentos internacionais padrão exigem que o banco tenha uma conta correspondente no outro país, o que torna o processo mais caro e demorado.
Acesso
O BIS também alega que se todos os meios instantâneos de pagamento estiverem conectados, a maioria dos cidadãos podem fazer pagamentos entre países, através do banco ou de algum provedor do serviço de pagamento. Então, o nível de acesso em um país dependeria do nível de inclusão financeira e da quantidade de pessoas que têm contas bancárias naquele país.
Transparência e Certeza
Na maioria dos pagamentos entre países, a pessoa que envia o dinheiro muitas vezes não sabe quanto a outra pessoa irá receber até o pagamento chegar a ela por conta das taxas cobradas. Agora, se os pagamentos instantâneos do mundo todo se juntassem, essas longas cadeias de correspondentes bancários deixaria de existir, podendo então calcular as tarifas antes.
Além disso, quem faz o pagamento instantâneo consegue saber na hora se deu certo ou se falhou. Já nos pagamentos entre países tradicionais, as falhas podem surgir dentro de alguns dos estágios da cadeia de pagamento, podendo surgir horas depois do pagamento já ter sido feito.
Segurança
O Pix e outros pagamentos instantâneos contam com fortes sistemas de gestão de risco para mitigar crédito e para riscos de liquidação dentro do sistema. Então, o Pix Internacional pode se aproveitar desse sistema e nele construir quadros de gestão.
Fácil de Usar
É simples entender como funciona o Pix Internacional. Os usuários não precisarão se inscrever diretamente no Projeto Nexus. Espera-se que os apps dos bancos apresentem a opção aos usuários, que então poderão usar.
Diante desses benefícios, vemos que o sistema é muito positivo, e busca trazer mais segurança, praticidade e baixo custo para o mercado mundial. Além disso, visa digitalizar o mesmo. Sobre o assunto, João Paulo Weller, economista e sócio-fundador da SWAP Câmbio resume o sistema da seguinte maneira:
A ideia é fazer uma ponte, utilizar a estrutura do banco central daquele país para que converse com o banco central de outro país na mesma linguagem, garantindo a transferência eletrônica 24 horas por dia, sete dias na semana, em até 60 segundos
Obstáculos do Pix Internacional
Em geral, o BIS diz que vincular os pagamentos instantâneos entre países não é uma tarefa fácil, sendo muito mais complicados que os domésticos. Isso porque algumas etapas adicionais são necessárias, como a conversão de moeda e verificações de conformidade contra atos ilícitos.
Além disso, é necessário criar uma linguagem que se comunique entre todos os países, afim de compartilhar dados e instruções de pagamento. Isso porque cada “Pix” pode usar diferentes:
- Formato de dados, padrões e campos obrigatórios;
- Sequência de etapas dentro de um pagamento;
- Política de dados e privacidade;
- Processo de confirmação do usuário
Dessa forma, quanto mais países se juntarem ao sistema de união, mais difícil se torna, pois, por exemplo: Três países exigem apenas três links de país para país, mas uma rede de 20 países exigiria 190 links de país para país. Veja isso ilustrado no esquema abaixo, apresentado pelo BIS e traduzido pelo Guia do Investidor
Sendo assim, esse é um processo considerado difícil para a área de TI e desenvolvimento de software. Então, o maior obstáculo é de fato, criar uma linguagem que comporte tudo isso.
Entretanto, o Projeto Nexus tem trabalhado com um esquema padronizado, desenvolvendo um software que busca atender essa dificuldade com base nos pagamentos domésticos. Então, cada pessoa que tiver o sistema do Nexus tem seu celular se comunicará com o endereço de IP da outra, para um pagamento de sucesso.
Como funciona o Pix Internacional?
Sabendo os benefícios do sistema de “Pix” internacional, vamos entender o que o projeto entrega e um passo a passo de como ele vai funcionar.
- Conversão de moeda: O Pix internacional cai na hora na conta da pessoa, e o Nexus entra em contato com os provedores de câmbio para que a moeda de quem recebe o pagamento seja trocada. Assim, esses provedores irão concorrer para dar a menor taxa. O que responde mais uma questão: o Pix internacional tem taxa, sim.
- Mensagens: O Nexus se compromete em traduzir os diferentes formatos de mensagens usado em cada endereço de IP, garantindo que não existe perda de dados.
- Pré-validação: Ainda mais, o Nexus irá verificar todos os fatores que possam causar uma falha na transação, ajudando os bancos a resolver o problema. Então, assim que a pessoa enviar o pagamento, já poderá relaxar, pois as chances do pagamento falhar serão mínimas.
- Conformidade: Se necessário, o Nexus pegará informações a mais sobre quem está pagando ou quem recebe o pagamento para possíveis verificações.
Passo a passo
As imagens a seguir foram retiradas do projeto apresentado pelo BIS.
Passo 1
Primeiramente, a pessoa deve entrar no seu app do banco. Não terá um app específico para o Nexus, e sim, o banco ou fintech deverá escolher se quer ou não oferecer esse serviço.
Na imagem de exemplo, o app se encontra na sessão “Enviar Dinheiro” – o que aqui, seria a área do Pix. Veja que a sessão está dividida em “Internacional” e “Doméstico”.
Assim, na aba “Internacional”, o usuário deve escolher para qual país quer enviar dinheiro.
Passo 2
No exemplo, o país selecionado para enviar dinheiro foi a Índia. Assim, após o usuário fazer a seleção, o seu banco irá apresentar o acordo de nível de serviço do destino que vai enviar o valor, usando o sistema de detecção de intrusos.
Isso é para que ele possa pedir ao cliente os dados corretos, como o nome ou número de conta.
Além disso, o seu banco também vai pedir ao Nexus as cotações do país destino. Então, ele pode apresentar a melhor cotação possível ou o melhor provedor de câmbio, incluindo si próprio.
Sendo assim, a pessoa que envia vê a taxa de câmbio atual (mostrada nas letras pretas abaixo do país de destino). Logo, coloca o valor que deseja enviar na moeda de origem ou então o valor que quer que a pessoa receba na moeda dela.
Por fim, o destinatário vai receber exatamente o valor indicado, sendo basicamente um Pix internacional que cai na hora. Mas o banco dele pode acabar cobrando separadamente pelas taxas de pagamento.
Passo 3
Ainda mais, a pessoa que envia o dinheiro deve colocar detalhes do pagamento.
Isso serve para fazer a validação da conta, pois o banco de origem precisa checar se o banco do destinatário está apto para receber um Pix Internacional e outros problemas com sua conta
Além desse processo de segurança, veja na imagem que nessa sessão “Detalhes do Pagamento”, você coloca a ID do destinatário, algo que seria semelhante à chave Pix.
Também, você pode deixar escrita alguma referência sobre o pagamento, ou alguma mensagem para quem irá receber no terceiro bloco da imagem.
Com isso, você segue em frente e vá para a checagem dos detalhes do pagamento.
Passo 4
Depois de todos os processos de segurança, você poderá rever a transferência, podendo acessar os detalhes. Note as grandes semelhanças que essa página tem com a do Pix.
“Recipient” significa “Recebedor”. Então ali temos o nome de quem recebeu o dinheiro, sua “chave Pix” e o banco dela. Abaixo, onde havia espaço para escrever algo, a pessoa que enviou deixou escrito “Feliz aniversário”.
Abaixo, você tem acesso ao valor do pagamento e às taxas. Está escrito:
- Você enviou SGD 10,00
- Taxa de câmbio SGD 1 = INR 50
- Eles receberam INR 500
- Nossas taxas SGD 0,20
Abaixo, há uma mensagem dizendo que o “Pix internacional” cai na hora, em cerca de 60 segundos.
No mais, podemos ver a transparência desse método, que deixa bem claro as taxas que foram cobradas e a conversão feita entre o dinheiro de quem (de Singapura) enviou e quem recebeu (da Índia).
Passo 5
Finalmente, uma mensagem confirmando a chegada do pagamento aparece. Note novamente a semelhança dessa mensagem e a de confirmação do Pix.
Abaixo do símbolo verde, está escrito “Seu pagamento chegou”, e a baixo, diz que “Rebeca Moore recebeu exatamente INR 50”.
No botão vermelho, está “Voltar para minha conta”, o que de fato finaliza a transação, que foi realizada em cerca de 60 segundos.
Quando o Pix Internacional chega no Brasil?
Apesar do Projeto Nexus ser muito animador e prometer muitas mudanças no sistema de pagamentos que já conhecemos, ainda não está claro quando o Pix internacional vai começar a funcionar em outros países.
Atualmente, o Projeto está sendo testado pelos bancos centrais da Singapura, Malásia e Itália. O primeiro país citado já trabalha em conexões bilaterais com a Malásia e a Índia. Enquanto isso, a Itália já se conecta com o pagamento doméstico de outros países da Europa.
No mais, além dos 3 países citados e o Brasil, a Índia, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Tailândia, Japão, Reino Unido, Nigéria e México já possuem sistema de pagamento instantâneo.
Mas em geral, o Banco Central do Brasil acompanha o projeto como observador, então ainda não faz parte dos testes. Com isso, a população geral dos países devem receber essa tecnologia para testes no final desse ano de 2023 e início de 2024.
A previsão, então, é que o dito Pix internacional chegue no Brasil em meados de 2025. Ou seja, ainda pode demorar um pouco, mas as chances de acontecer são muito grandes, ainda mais levando em consideração o crescimento do Pix aqui.
Pix internacional x Blockchain
Não podemos deixar de comentar a relação do Pix internacional com a rede blockchain. A princípio, blockchain é a rede que permite rastrear o envio e recebimento de criptomoedas, NFTs e outros produtos virtuais.
Para o pesquisador Ronaldo Lemos, a tecnologia blockchain é o que permite a criação de um projeto como o Projeto Nexus:
Hoje o blockchain está na frente nessa corrida pelo Pix global. Não tenho a menor dúvida de que a popularização das wallets [carteiras digitais na rede] e a integração delas com muitos serviços financeiros irão contribuir para, inclusive, ampliar o acesso a serviços financeiros, até mesmo para quem não tem conta bancária. (…) Com a evolução dessas tecnologias fica mais fácil, rápido e seguro surgir um Pix global
Ronaldo Lemos
Dessa forma, o BIS não estuda somente o Projeto Nexus, como também o mBridge, uma plataforma que permitirá o uso de criptomoedas para pagamentos internacionais.
Enfim, a tecnologia mundial já é bem avançada, e em breve teremos grandes revoluções no mercado. Basta a população aprovar e passar a usar.
Guia baseado no Projeto Nexus disponível aqui.