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- A meta de corte de emissões do Brasil (59% a 67% até 2035) é considerada insuficiente para cumprir o Acordo de Paris
- Especialistas afirmam que o Brasil deveria reduzir 92% das emissões até 2035 para alinhar-se com os objetivos globais
- A ausência de um plano definido para reduzir o uso de combustíveis fósseis gerou preocupações sobre a seriedade do compromisso
- Analistas aguardam a apresentação completa do plano do Brasil na COP29 para avaliar seu real compromisso climático
Na noite de sexta-feira (8), o governo brasileiro anunciou o principal parâmetro de seu novo plano nacional de descarbonização: uma meta de redução das emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035, em comparação com os níveis de 2005. Embora o número tenha sido divulgado antes de a estratégia completa ser apresentada – o que está previsto para ocorrer durante a COP29, que começa nesta segunda-feira (11) –, o anúncio gerou críticas de especialistas e analistas que consideram a meta insuficiente diante da urgência climática e do que é exigido pelo Acordo de Paris.
O Brasil, que presidirá a COP30 no próximo ano, em Belém do Pará, se comprometeu a liderar as negociações climáticas globais e a ser um exemplo para os demais países. No entanto, segundo organizações especializadas, o plano divulgado está aquém das necessidades do momento. Os 197 países signatários da Convenção do Clima da ONU têm até fevereiro de 2025 para submeter suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que descrevem os compromissos climáticos de cada país.
No entanto, especialistas acreditam que a ambição climática do Brasil precisa ser maior, especialmente em um momento crucial para o futuro do planeta.
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Críticas à meta e ao formato de anúncio
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, afirmou que os números apresentados no novo plano de descarbonização estão desalinhados com a “contribuição justa” do Brasil. Contudo, para estabilizar o aquecimento global em 1,5°C, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris.
Para alcançar esse objetivo global, a organização estima que a redução de emissões do Brasil deveria ser de pelo menos 92% até 2035, partindo de 2005. Isso significaria uma queda das emissões de 2,44 bilhões de toneladas de CO2 equivalente para apenas 200 milhões de toneladas. Portanto, um objetivo bem mais ambicioso do que os 850 milhões a 1,05 bilhão de toneladas previstas pela nova NDC.
O governo brasileiro, por sua vez, defende que a meta reflete um “amplo processo de avaliação” envolvendo a sociedade e as autoridades do país. Ainda, reconhecendo a urgência do combate à crise climática. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que representará o Brasil na COP29, justificou a proposta ao afirmar que o Brasil reconhece a necessidade de ações mais rápidas e coordenadas para enfrentar as mudanças climáticas.
No entanto, a falta de uma estratégia clara de transição energética e a definição da meta em uma faixa, ao invés de um número exato, têm gerado desconfiança entre especialistas.
Ausência de clareza sobre a transição energética
A ausência de uma trajetória clara para reduzir a dependência de combustíveis fósseis também foi um ponto crítico destacado por analistas. Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa e colunista do Reset, alertou que a meta em faixa – que varia entre 59% e 67% – pode ser uma forma de flexibilizar o compromisso. Ainda, sem garantir ações concretas para a descarbonização total da economia brasileira.
Além disso, Unterstell afirmou que o silêncio do governo sobre o processo de transição energética levanta dúvidas sobre a seriedade do plano. Já que o país depende fortemente do setor de petróleo e gás, cujas emissões de carbono são as maiores do Brasil.
Expectativa de uma resposta mais robusta
Embora as críticas sejam significativas, muitos analistas ainda aguardam a apresentação da estratégia completa para avaliar o compromisso do Brasil com a luta contra as mudanças climáticas.
“Esperamos uma surpresa positiva”, disse Unterstell. Ainda, destacando que o país tem capacidade para apresentar uma proposta mais ambiciosa que combine a redução das emissões com o desenvolvimento sustentável.
Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, também expressou preocupação com o formato do anúncio. Ainda, com uma declaração feita em uma sexta-feira à noite, o que, segundo ele, envia um “sinal político preocupante”. Especialmente em um contexto global instável, como o de uma possível eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o que poderia afetar os compromissos climáticos globais.
Próximos passos: COP29 e o futuro climático do Brasil
Com a COP29 prestes a começar, o Brasil tem uma oportunidade crucial de demonstrar seu compromisso com o Acordo de Paris. No entanto, para que o país seja considerado um líder em questões climáticas, será necessário apresentar um plano mais robusto e bem estruturado. Portanto, que não apenas defina metas de emissões, mas também apresente uma estratégia clara de transição energética.
O futuro do clima global depende da ação coletiva dos países, e o Brasil, como uma das maiores economias emergentes do mundo, tem um papel fundamental a desempenhar.
Se o governo brasileiro realmente pretende ser um exemplo de liderança climática, como se propôs ao assumir a presidência da COP30, será necessário revisar e ajustar suas metas. Assim, para refletir um compromisso mais sério com a redução das emissões e a proteção do meio ambiente.
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