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Por Marco A. Caruso e Eduardo Vilarim
Os mercados tentam digerir os dados negativos divulgados na China na noite de ontem. Todos os principais indicadores de atividade caíram no mês passado e ficaram abaixo das expectativas, que já eram baixas. Abril foi o primeiro mês a capturar completamente os lockdowns recentes e escancara os danos econômicos das tentativas de controle total/Covid-zero.
A China vive uma dificuldade quase matemática. Tenta encontrar a resposta para mais incógnitas que equações disponíveis. Zerar um vírus altamente transmissivo, manter o crescimento do PIB em 5,5% e ainda imprimir uma desalavancagem saudável do setor imobiliário, altamente endividado e dependente de condições financeiras frouxas. Alguém tinha que ceder e, de fato, cedeu. Ainda no domingo, a China reduziu as taxas de hipoteca para primeiros compradores de casa.
Os ativos têm algumas poucas boias para se apegar: (i) as novas infecções aparentemente diminuem em Xangai, com notícias de reabertura de shoppings, supermercados etc., (ii) o Wall Street Journal traz matéria sobre os preços dos carros usados — um dos símbolos da falta de chips no mundo –, que começam a reduzir; (iii) é difícil achar gatilhos de alta, mas depois de uma queda de 15% no S&P500, por exemplo, é razoável esperar uma redução na velocidade de piora, especialmente se considerarmos o tamanho da desalavancagem e redução de exposição dos hedge funds lá fora.
Ao mesmo tempo, tivemos mais uma notícia na direção da desglobalização que o mundo pode passar no pós-Covid e no pós-Ucrânia com todas as sanções que vieram a reboque. A Índia restringiu boa parte das exportações de trigo, jogando fogo na lenha da escassez de alimentos e a inflação. Em um contexto de fortes altas de combustíveis e alimentos, os governos procuram suavizar os impactos sociais — e eventuais inquietações de suas populações — com políticas protecionistas. Esse é um movimento global que pode gerar maiores consequências econômicas e políticas à frente.
Os ativos brasileiros acompanham as tendências lá de fora, especialmente os ventos que vem da China. Se parte do bom desempenho do Ibovespa e do real nos primeiros meses do ano era justificado pelas commodities, a fraqueza e as incertezas sobre o gigante asiático pesam contra agora. Não há Preço/Lucro baixo que segure o receio de desaceleração mais abrupta do mundo.
Por fim, o noticiário está permeado de notícias sobre os bastidores da relação entre o Executivo e a Petrobras. Segundo o Estado de São Paulo, o presidente Mauro Coelho passa por forte pressão em menos de 1 mês de cargo. A sua saída, no entanto, teria que ser acompanhada pela retirada de todos os integrantes do Conselho eleitos pelo voto múltiplo. A tensão deve estar diretamente ligada à defasagem da gasolina versus os preços internacionais, que hoje atinge quase 40% e indica um reajuste iminente por aqui.
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