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O cenário delineado pela invasão da Rússia à Ucrânia e pelos efeitos da pandemia indica que a chamada hiperglobalização pode ter um arrefecimento.
Em meio às transformações geopolíticas e seus efeitos no equilíbrio internacional e nas alianças entre nações e blocos, o Brasil tem ótimas oportunidades de estabelecer novas relações comerciais, contemplando a agenda da diversidade e da sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Crises, principalmente as relativas às guerras e surtos de doenças, são muito dolorosas, causando irreparáveis perdas. Assim, no seu rescaldo é fundamental que, pelo menos, aprendamos as lições.
Nesse sentido, alguns países estão levando novamente a indústria para dentro de suas fronteiras, num movimento inverso ao que fizeram no advento da hiperglobalização, nas duas últimas décadas do Século 20. Adotam a medida para garantir a segurança alimentar, o suprimento nas cadeias produtivas mais estratégicas e a integridade das telecomunicações e da cibernética.
Nesse contexto, o Brasil tem um terreno muito fértil para desenvolver uma política industrial moderna e avançada, alinhada às demandas suscitadas pelas transformações do mundo.
Um exemplo é o aparato têxtil, que inclui, dentre outros, os técnicos e tecnológicos, com aplicação em várias indústrias, como a eólica, de geotêxteis, infraestrutura e de fardamentos.
Há todo um espaço de integração com os polos que vão se consolidando no desenho geopolítico internacional, como o das Américas, o da Europa e da Ásia.
Visando capitalizar todo esse potencial, seria importante que os órgãos econômicos do governo e suas áreas de pensamento estratégico, assim como o setor privado já está fazendo, observassem o que os países desenvolvidos estão realizando. A iniciativa é importante para que possamos estabelecer os fundamentos de uma nova política industrial, recuperação e fomento do setor.
Alguns acreditam que o único fator para que a indústria brasileira torne-se mais dinâmica seja a abertura unilateral. Discordo dessa tese, principalmente devido ao grande abismo, sintetizado pelo “custo Brasil”, que temos em relação às vantagens competitivas de numerosas nações.
Porém, acredito e considero necessários um novo movimento de integração, a ativação de acordos como o do Mercosul com União Europeia e relações bilaterais com os Estados Unidos, Canadá e outras nações e blocos.
A ideia é promover uma reinserção do Brasil na economia global, considerando as transformações dos polos geopolíticos, mas sem discriminar ninguém.
Nesse processo, a indústria têxtil e de confecção, que é planetária e de alta concorrência, poderá criar, nas Américas, um cluster muito relevante, abrangendo não apenas o segmento de vestuário, cama, mesa e banho, mas também o tecnológico, que atende as áreas de saúde, energia, militar, esportes, mobilidade e várias outras aplicações.
Este é apenas um bom exemplo do potencial da manufatura de contribuir para a retomada do crescimento econômico e para reposicionar nosso país como protagonista na nova geopolítica internacional.
*Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.
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