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As altas temperaturas e as queimadas que devastaram grande parte do país pode ter diminuído com a chegada da primavera, mas as consequências econômicas desse cenário podem ser sentidas nos próximos meses. A produção agropecuária, que é sensível às variações climáticas, sofreu impactos significativos e a recuperação do setor depende, agora, de um novo período produtivo com clima favorável o necessário para retomar o seu pleno potencial.
O raciocínio econômico é simples: com mau tempo, a produção agropecuária tende a ser menor e, com menos produtos no mercado, se a demanda permanece no mesmo nível, a consequência é o aumento dos preços. É o exemplo clássico de inflação gerada por choque na oferta. Mas será este o cenário que se desenha para as festas de fim de ano?
Nos últimos dados divulgados pelo Risco de Seca na Agricultura Familiar, dois municípios do Paraná apresentaram condição de seca severa, e outras 120 cidades, de seca moderada. Tais categorias de estresse hídrico sinalizam a existência de algum impacto na produção, sobretudo em culturas que estavam no meio do ciclo. Nesses casos, quase sempre indicam quebra de safra. Segundo o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, cerca de 270 mil estabelecimentos produtivos são classificados como de agricultores familiares. Eles representam 80% das propriedades agropecuárias do estado e destacam-se na produção de suínos, aves, peixes, ovos, grãos, olerícolas e frutas.
Por outro lado, a reação do mercado pode ser observada ao analisar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em agosto, a variação acumulada em 12 meses do IPCA da carne suína foi de 4,68%, o que contrasta com a dos anos de 2023 (-1,79%) e de 2022 (-3,30%), descartando assim qualquer possível sazonalidade para este item. Dinâmica semelhante foi apresentada pelo abacate (23,94% em 2024, -13,9% em 2023 e -0,14% em 2022) e a abobrinha (24,44% em 2024, -9,3% em 2023 e -25,72% em 2022).
No entanto, este não é o único movimento. O alho que tinha apresentado variação de preços acumulada nos 12 meses, sendo 4,37% em agosto de 2022 e de 5,89% no de 2023, disparou com 23,44% em 2024. No top cinco deste indesejado ranking, há índices ainda maiores: tangerina com 88,94%, laranja-lima 53,95%, batata-inglesa 50,72%, laranja-pera 47,56% e laranja-baía com 45,93%.
Isso também revela que as frutas cítricas podem ser as mais impactadas, pois com o clima seco, uma doença bacteriana conhecida como cancro cítrico tende a avançar sobre as culturas, derrubando a produção. Contudo, o preço do limão parece ir na contramão, uma vez que acumula queda de -23,92% nos últimos 12 meses, perdendo apenas para o tomate cuja deflação é de -25,32% para o mesmo período.
Podemos incluir também o subgrupo das hortaliças e verduras no IPCA acumulado em 12 meses que registrou alta de 10,87% em 2024, frente aos 7,18% de 2023 e aos 15,64% de 2022, indicando que no mix de produtos a alta dos preços já é sentida e que, em média, a demanda permanece em nível estável.
Portanto, os desafios para uma ceia de Natal menos “salgada” parecem ser dois: tempo bom e redução do nível da demanda. E, como os humanos só podem ter algum sucesso satisfatório sob o último repto com a tecnologia atual, as festividades de fim de ano podem sair mais caro do que o esperado.
Por Pedro Henrique Pontes é professor do curso de Ciências Econômicas da Uninter. Economista e mestre em economia.
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