Por Marco A. Caruso | Eduardo Vilarim
A virada dos mercados vista ao longo da segunda-feira manteve a tendência positiva na terça. Os catalizadores da melhora não são tão claros, mas passam pelas boias que comentamos no Diário de segunda: (i) início da reabertura de Xangai, (ii) sinais incipientes de que as disfunções da cadeia produtiva deixam seu pior momento para trás; (iii) técnico mais limpo nas bolsas EUA, com caixa dos investidores em níveis máximos desde 11/09 e baixa alavancagem do hedge funds.
Outros dois pontos de relevância duvidosa podem ser acrescidos: a esperança de um cenário regulatório menos restritivo sobre o setor de tecnologia chinês com a reunião de ontem entre funcionários do governo e executivos do setor; o “veja bem” da Índia, que agora afirma que “algum relaxamento” sobre as restrição à exportação de trigo é possível.
Os ativos brasileiros navegam a favor dessa maré externa mais positiva. Destaque maior no câmbio, valorizando 1,7%, com futuro da bolsa avançando 1,4%. Os juros futuros cedem, depois de uma segunda-feira de fechamento mais expressivo.
O principal destaque de segunda foi a fala do diretor de política monetária do BCB, Bruno Serra, declarando sua preferência por um cenário de menos flutuações da taxa de juros; quando o juro já está distante do seu patamar neutro (que não acelera nem contrai a atividade econômica), como é o caso agora, é preferível “flutuar menos”. E finalizou afirmando que “daqui para frente, o tempo vai dizer”. Juntando tudo, as exposições são consistentes com a nossa visão de Selic alta por mais tempo, em contraste com a ideia de elevar ainda mais os juros.
Uma última alta de 0,50 ponto percentual e cessam o ciclo para avaliar o desenrolar dos seus efeitos sobre a atividade econômica e os preços. O corolário dessa estratégia é, a priori, uma desinflação mais lenta, um impulso “menos negativo” sobre o PIB e postergação do ciclo de cortes. Uma esperança implícita no Copom é que a descompressão dos diferentes choques inflacionários que o mundo vem sofrendo comece a acontecer no futuro próximo.