O Brasil está diante de um novo governo e o mundo diante de uma nova China. O mais recente Congresso do Partido Comunista elevou Xi Jinping a uma condição de centralização de poder desconhecida desde os tempos de Mao Tse Tung. Isso significa que lidaremos com uma nova estrutura de poder e uma visão de mundo vista de Pequim diferente do que estávamos acostumados até então.
Antes de nos perguntarmos qual a implicação para o Brasil deste profundo movimento, cabe destacar que a mudança política impressa por Xi Jinping tornou seu país ainda mais duro no diálogo com temas humanitários. A China se dedica a sufocar as liberdades civis em Hong Kong, reprimir muçulmanos de Xinjiang e a anunciar, para um futuro cada vez mais próximo, a anexação de Taiwan — pacificamente ou pela força.
Estes movimentos de Pequim têm encontrado resistências isoladas na comunidade internacional, uma vez que Xi Jinping imprimiu novo impulso no modelo global de dependência da economia chinesa, essencial hoje para diversas nações. Isto significa que os fluxos internacionais de comércio e as cadeias globais de valor precisam dialogar com Pequim para continuar alimentando sua indústria, agronegócio e comércio.
A China foi além, responsável por investir e desenhar projetos de infraestrutura ao redor do mundo, desde os países africanos, passando pelas Américas e Europa e naturalmente a Ásia. A compra de terras por todos os continentes também entrou na agenda chinesa. Isto significa que aos poucos seus investimentos e interesses passam a guiar também a agenda de diversas nações.
É neste ponto que entra o Brasil. Resta saber como nosso país irá se mover neste intricado jogo, em que surge um país responsável por violações humanitárias, mas que também responde pela maior parte de nossa balança comercial. Até que ponto os investimentos chineses em solo brasileiro afetam nossa soberania e nossa capacidade de decidir ao colocar os interesses de nosso país em primeiro lugar? Essas são questões que precisarão ser respondidas no curto prazo.
Para além disso, ainda é preciso entender o papel dos BRICS neste tabuleiro e o peso da Rússia neste contexto, em aberto conflito militar com a Ucrânia com o objetivo de tomar o controle do país. Se a China se mover no mesmo caminho em direção a Taiwan, será o momento do Brasil se posicionar e entender em que capacidade os BRICS podem estar dando respaldo a ações ilegais internacionais que violam as normas da Nações Unidas.
O país que emerge diante da consolidação de Xi Jiping é extremamente centralizado, com o claro objetivo de transformar a China em uma nação próspera, a maior potência da Ásia e do mundo, em termos econômicos, tecnológicos e militares. Logo, o caminho que o novo governo brasileiro deve trilhar com a China é sensível, pois há muitos interesses em jogo. Uma relação bilateral que deve ser negociada com extrema cautela, onde estão inseridos elementos comerciais, humanitários, multilaterais e de soberania. Um intrincado xadrez que deve ser jogado pelo Brasil no campo da diplomacia com inteligência, visão e o pragmatismo de uma nação que pretende voltar a liderar seu continente.
Por Márcio Coimbra, Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.