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Dólar e Ibovespa: os dois irmãos que não se bicam

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Quando falamos da bolsa de valores estamos sempre falando da economia brasileira, mas você realmente entende como estes dois conceitos se relacionam? Hoje vamos falar um pouco sobre como o comportamento do mercado funciona na prática e entender melhor as verdadeiras relações entre as taxas de câmbio e o mundo dos investimentos.

Primeiramente, para entender de verdade os momentos para apostar no “exterior” ou no Brasil, você precisa entender a questão da balança de pagamentos e dos riscos.

A balança de pagamentos, como seu próprio nome indica, expõe a relação existente entre entradas e saídas. Ou sejam as importações e exportações. Neste contexto, o Brasil, desde a sua formação é um país de economia exportadora. Afinal, desde o período colonial nosso país é incentivado a ser um produtor de recursos e se destaca no setor primário (agricultura, à pecuária e ao extrativismo). Assim, estes produtos representam o Brasil no mercado global dos investimentos, e os investidores internacionais sabem bem disso.

Portanto, a economia brasileira atual depende destas relações de investimento para se manter competitiva, e uma taxa de cambia maior favorece nossa economia exportadora. (O que justifica a falta de incentivos governamentais para reduzir a taxa de câmbio). Afinal, a meta é vender um produto pelo maior preço possível, e a taxa de câmbio alta favorece esta relação da nossa balança comercial.

O principal fator que define a taxa de câmbio de uma nação, em uma política de câmbio flutuante, é a reserva cambial. Em outras palavras, o valor do dólar depende da quantia de dólar que existe guardado no banco central brasileiro, e isso é possível graças ao conceito da oferta e da demanda.

Para entender é bastante simples: se o governo tiver muitos dólares (oferta) e a demanda por esses dólares for constante, o governo consegue “vender” estes dólares por um valor menor.

Por isso, quando o Brasil possui uma grande quantia de dólares em suas reservas cambiais, o valor do dólar em relação ao real cai, pois, assim “existem” mais dólares ofertados que a demanda está exigindo.

Assim, para mudanças significativas aconteçam, se torna necessário que as reservas cambiais de dólar no Brasil aumentem. Contudo, isso apenas é possível com investimentos estrangeiros aqui no Brasil.

Neste contexto, se enquadra a relação de câmbio. Afinal, as expectativas do mercado funcionam como fator crucial para a variação da moeda. E entre alguns dos principais fatores que justificam a cotação do Dólar é a relação de risco.

O risco país é um indicador importante no mercado internacional. Ele indica a capacidade de um país cumprir com suas dívidas internacionais. Contudo, com as complicações da economia brasileira, o risco do Brasil aumenta, e assim o país se torna menos atrativo para investidores estrangeiros.

Considerando o cenário de crise no mercado global (com o gorila no meio da sala sendo o conflito entre Rússia e Ucrânia) o esperado seria uma valorização ainda maior da moeda americana. Isto é, considerando que à terra do Tio Sam seria o “lugar mais seguro” para os investidores.

Contudo, a Guerra tem como sua contra parte direta insumos básicos: alta demanda por alimentos, energia e derivados causa uma explosão de procura das commodities. O outro lado da moeda, é que as sansões da guerra afetam o mercado global de produção e de distribuição destes insumos. Ou seja, uma “chuva de compradores” e uma escassez de produtos, o resultado é a alta destes insumos.

Petróleo, Trigo… as principais commodities explodiram em valor de mercado, estabelecendo novos recordes de preço. Se tudo é uma via de mão dupla, o movimento causou um favorecimento da balança comercial de países exportadores como o caso do nosso Brasil. A alta entrada de Dólar, favorecida pelo movimento fortalece a balança cambial em prol do real, que aumenta seu poder de compra em um mercado altamente inflacionado da moeda americana.

Os irmãos que não se bicam

Assim, se você tem um olhar mais atento ao mercado já deve ter percebido uma relação. Afinal, se mais investidores estão trazendo “dinheiro para o Brasil” maior serão nossas reservas cambiais. Logo, mais dólar aqui, fica mais “barato” para comprarmos a moeda americana. E assim se inicia o ciclo:

Com a moeda americana valorizada, os investidores internacionais conseguem comprar uma maior quantidade de recursos do Brasil por um menor valor. No entanto, este movimento também acontece “ao contrário”. Considerando que a alta dos investimentos valorizam o real, a nossa moeda, e torna mais caro para investidores estrangeiros apostarem seus recursos no nosso mercado.

Este movimento cria diretamente uma correlação negativa entre a cotação do dólar e o índice ibovespa, o principal indicador da bolsa de valores brasileira.

Observe o gráfico acima. A correlação negativa indica que os dois indicadores apresentam sempre movimentos opostos. Afinal, a bolsa sobe com a alta de investimentos no Brasil. Já o dólar cai quando os investidores internacionais estão apostando no mercado brasileiro.

Esta relação te permite adotar uma série de estratégias de investimentos, inclusive considerando que os dois índices “são bons amigos” e criam um hedge natural, se protegendo mutualmente de movimentos no mercado. Colando em números, uma carteira alocada 50% em dólar, e 50% em IBOV, teria sempre um risco próximo a zero, pois os movimentos se corrigem.

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