O mundo dos investimentos é retratado em filmes e séries de Hollywood há muito tempo. Contudo, o que poderia ser um atrativo para que o telespectador se interessasse pelo mercado financeiro, acaba reforçando estereótipos negativos e até gerando um certo ranço no público.
Em 87, por exemplo, era lançado o filme “Wall Street – Poder e Cobiça”. O próprio título da obra já induz a uma sensação negativa em relação à Wall Street. Na história, um jovem corretor (Charlie Sheen) trabalha no mercado de ações e consegue a atenção de um investidor bilionário de Wall Street, interpretado por Michael Douglas. Como estratégia, o personagem de Sheen lhe dá uma informação, que, até então, era sigilosa, a respeito das ações da companhia onde seu pai trabalhava. A informação privilegiada faz a dupla ganhar muito dinheiro. Com o sucesso inicial, eles seguem por caminhos tortuosos em busca de lucros na bolsa de valores, deixando de lado qualquer compromisso ético. Com isso, o filme dá a entender que o caminho do sucesso na Bolsa se dá por acesso a contatos influentes, tráfico de influência e obtenção de informações privilegiadas.
Outro filme com a mesma temática é “O Lobo de Wall Street”, de 2013. Neste,, o protagonista (interpretado por Leonardo Dicaprio) acaba indo trabalhar em uma empresa de fundo de quintal que lida com ações de baixo valor e alto risco. Lá, ele tem ideia de fundar uma companhia com este mesmo foco: as ações têm valores baixos, mas, em compensação, o retorno para o corretor é bem mais vantajoso, mesmo que o comprador assuma todo o risco. A empresa usa métodos antiéticos para ludibriar clientes e premiar funcionários, aumentando suas vendas, todos os personagens ficaram ricos usando esses artifícios e se tornam usuários de drogas e depravados sexualmente. O filme faz um retrato sobre as “maçãs podres” do mercado de capitais. Na verdade, os personagens não são investidores, são corretores (vendedores) de ações, e isso, de certa forma, cria uma imagem de que esse tipo de profissional só quer ganhar dinheiro às custas dos investidores comuns, que ficam com todo o risco nas costas. Apesar de ter sido baseado em fatos reais, a obra poderia ter mostrado o outro lado.
A série Billions, que faz muito sucesso na Netflix, mostra as “aventuras e desventuras” de Bobby Axelrod, um gestor de fundo de Hedge que usa e abusa de meios pouco éticos para obter retornos acima da média para o seu fundo de investimento. A série gira em torno das armações de Axelrod e das artimanhas que ele usa para escapar das garras do seu principal inimigo, o promotor de justiça Chuck Roades, que tem obsessão em ver Axelrod na cadeia.
Uma outra obra de sucesso, que vale destacar por se basear em fatos reais é o filme “A Grande Aposta”, de 2015. O longa mostra como o sistema financeiro é criativo em gerar ‘produtos’ rentáveis, mas que por uma “complexidade proposital” são dificilmente avaliados em profundidade por seus compradores. Esses títulos financeiros podres geraram a crise do Subprime de 2008/2009 uma das maiores crises financeiras da história. A mensagem que o filme deixa é “cuidado, fique de fora desse tipo de mercado”.
Outro filme baseado em fatos verídicos é o filme “O Mago das Mentiras”, que retrata a história de um famoso gestor de fundos, Bernard Madoff (interpretado por Robert De Niro) que foi responsável por uma sofisticada operação de pirâmide financeira que levou milhares de pessoas a perderem todas as suas economias.
Em diversos outros filmes nos deparamos com histórias que retratam o investidor antiético, golpes e tramoias corporativas com o intuito de enganar investidores e acionistas. O filme “Em busca da felicidade” é um sopro de ar fresco nesse deserto árido. Retrata a história real de Chris Gardner – que chegou a ser um sem teto – e como ele conseguiu obter sucesso como corretor na bolsa de valores como resultado de trabalho duro e dedicação.
É compreensível que Hollywood busque histórias dramáticas, de violência, golpes bilionários e crimes. Isso vende! Mas estas obras sobre o mundo dos investimentos distorcem a visão do público sobre como realmente é a Bolsa de Valores, como ela funciona e como é possível ser bem sucedido sem ser antiético ou criminoso. Com a democratização da informação e a popularização dos investimentos, o senso comum tende a mudar? Espero que sim! Afinal, sabemos que, com base em conhecimento e orientação profissional, os investimentos em ações são, sim, uma excelente alternativa para o investidor comum.
Por Vicente Guimarães, professor doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).