
- Até 146 mil empregos podem desaparecer em dois anos com nova tarifa dos EUA
- PIB brasileiro pode encolher R$ 110 bilhões no longo prazo, aponta Fiemg
- Setores de carne, aço, calçados e madeira estão entre os mais afetados
O tarifaço de até 50% imposto pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros pode representar um duro golpe para a economia nacional. Nesse sentido, um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) estima a eliminação de 146 mil empregos e uma perda de até R$ 2,74 bilhões em renda das famílias já nos primeiros dois anos de vigência.
Desse modo, as estimativas ainda apontam para um recuo expressivo no PIB brasileiro: R$ 25,8 bilhões no curto prazo e até R$ 110 bilhões no longo prazo, caso as medidas sejam mantidas por mais tempo. As tarifas começam a valer nesta quarta-feira (6).
Emprego e renda sob ataque
A simulação da Fiemg projeta impactos diretos e indiretos na economia brasileira, especialmente nos setores que mais dependem das exportações para os Estados Unidos. Além das demissões, a redução da massa salarial preocupa, com reflexos sobre o consumo interno.
Além disso, a perda de renda calculada em R$ 2,74 bilhões poderá atingir especialmente trabalhadores de baixa renda, uma vez que setores como siderurgia, pecuária e indústria calçadista empregam em larga escala. Esses segmentos estão entre os mais penalizados pelas novas tarifas.
Portanto, a entidade destaca que as sobretaxas atingem produtos que já estavam sob tarifa de 10% desde abril. Agora, com o acréscimo de 40 pontos percentuais, cerca de 55% das exportações brasileiras para os EUA passam a ser impactadas.
Efeitos por setor e região
Os setores industriais mais afetados incluem siderurgia, máquinas e equipamentos mecânicos, produtos de madeira e calçados. No campo, o maior prejudicado é a pecuária, com destaque para a cadeia da carne bovina, que ficou de fora da lista de isenções americanas.
No total, o Brasil exportou US$ 40,4 bilhões aos EUA em 2024, valor que representa 1,8% do PIB nacional. Ademais, quase metade desse montante se concentra em três segmentos: combustíveis minerais, ferro e aço, e máquinas, todos fortemente atingidos pelas novas alíquotas.
Desse modo, a Fiemg afirma que, mesmo com a isenção de cerca de 700 produtos, o impacto líquido sobre a economia ainda será severo. O efeito sobre as cadeias produtivas pode ser duradouro, afastando investimentos e pressionando a indústria nacional.
Minas Gerais na linha de frente
Terceiro maior Estado exportador para os EUA, Minas Gerais também deve sentir os efeitos da medida. Em 2024, o estado enviou US$ 4,6 bilhões ao mercado norte-americano, mas apenas 37% dessa pauta será isenta das novas tarifas.
Além disso, produtos como ferro fundido, ferro-nióbio e aeronaves escaparam da sobretaxa, mas itens como café, carne bovina e tubos de aço seguem expostos. Segundo a Fiemg, o PIB mineiro pode perder R$ 4,7 bilhões no curto prazo, com mais de 30 mil empregos eliminados em até dois anos.
Em um cenário mais longo, de cinco a dez anos, os prejuízos em Minas podem ultrapassar R$ 15,8 bilhões e gerar a extinção de mais de 172 mil vagas. Portanto, os setores mais afetados coincidem com o perfil produtivo do estado, aumentando a vulnerabilidade regional.
Fiemg cobra ação diplomática
Diante do impacto previsto, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, afirmou que o momento exige maturidade institucional e ação coordenada do governo brasileiro. Ele criticou a decisão unilateral dos EUA e defendeu esforços para ampliar as isenções tarifárias.
“A imposição dessas tarifas, ainda que suavizada por isenções, foi tomada sem negociação. O Brasil precisa proteger empregos, empresas e sua competitividade internacional”, afirmou Roscoe em nota oficial.
Por fim, segundo ele, o Itamaraty deve intensificar as conversas diplomáticas com Washington para evitar que a crise comercial se aprofunde. Além disso, o setor produtivo pede apoio fiscal para compensar perdas e preservar investimentos em curso.