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Indústria alerta impactos de possível acordo Mercosul-China

Investimentos de R$ 826 bi estão em risco, segundo o setor, que teme uma enxurrada de importações chinesas e os efeitos de juros altos.

bolsas sobem com pmi industrial da china
bolsas sobem com pmi industrial da china
  • O setor industrial brasileiro planeja investir R$ 826 bilhões até 2027, mas até 60% desse valor está ameaçado
  • Um possível acordo comercial entre o Mercosul e a China pode resultar em um aumento significativo nas importações chinesas
  • Juros elevados e incertezas sobre a reforma tributária dificultam a confiança dos empresários em expandir a capacidade produtiva

O setor industrial brasileiro planeja investir cerca de R$ 826 bilhões até 2027, mas avalia que até 60% desse valor está em risco devido a uma combinação de fatores. Incluindo um possível acordo comercial entre o Mercosul e a China, que pode desencadear uma “avalanche” de importações do país asiático.

Além disso, o setor enfrenta desafios internos, como os juros elevados e as incertezas em torno da reforma tributária. Assim, que dificultam a confiança dos empresários em ampliar sua capacidade produtiva.

Nesta quarta-feira (25), empresários de sete setores industriais, reunidos pela Coalizão Indústria, expressaram preocupações durante um encontro com a imprensa. Embora tenham relatado crescimento no faturamento para este ano, eles destacaram que a alta ocupação das fábricas não se traduz em novos investimentos. O principal motivo apontado é o receio das consequências de um eventual acordo entre o Mercosul e a China, que pode prejudicar a competitividade da indústria brasileira.

“Acordo Mercosul-China não pode prosperar, porque sem o acordo já estamos vivendo um tsunami de importações da China, com um acordo desses, imagina o que pode acontecer?”, disse o presidente do grupo, Marco Polo de Mello Lopes.

A Coalizão, formada em 2018, representa 43% do PIB industrial do país. E, é composta por 14 entidades dos setores de transformação, construção civil e comércio exterior.

“Quinhentos bilhões (de reais) em investimentos serão paralisados de imediato”, acrescentou o executivo se referindo à eventualidade do bloco de países formado por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai fazer um acordo com a segunda maior economia do mundo.

Enquanto Uruguai e Paraguai se posicionam como os maiores entusiastas de um acordo com a China, com o presidente paraguaio declarando que seu país está “totalmente aberto” a negociações dentro do Mercosul, o Brasil adota uma postura mais cautelosa. Recentemente, autoridades dos países do bloco realizaram discussões com representantes chineses em Montevidéu, reforçando a possibilidade de avanços nas tratativas.

Medidas de proteção comercial

Mesmo com as medidas de proteção comercial implementadas pelo governo federal desde o final de 2023, que abarcaram setores como automóveis, aço e petroquímica, a avaliação dos empresários é que essas ações são insuficientes, tanto em velocidade quanto em profundidade.

Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a balança comercial de manufaturados do Brasil deve fechar 2024 com um déficit recorde de US$ 135 bilhões, superando o saldo negativo de US$ 108 bilhões em 2023.

Desde 2016, o déficit da balança comercial de produtos manufaturados do Brasil vem crescendo de forma consistente. Naquele ano, o déficit foi de US$ 44 bilhões, e a tendência negativa continua. Dessa forma, indicando a perda de competitividade da indústria nacional diante de fatores como a concorrência chinesa. Além das políticas comerciais ineficazes e a falta de incentivos para investimentos em infraestrutura e inovação.

“Não sei por quanto tempo resistiremos. Tivemos queda de 28% (no preço de importados) e eles já têm 50% de participação de mercado”, disse Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq.

“O governo poderia olhar cada segmento industrial e equilibrar o preço de importação. Não tenho concorrente, tenho alguém me roubando”, disse Costa. “O governo só tem que equilibrar as alíquotas”, acrescentou.

A Coalizão Indústria alerta que, sem uma mudança significativa no cenário, os próximos anos poderão trazer mais desafios para o setor.

Medidas mais firmes

O presidente da Abinee, Humberto Barbato, representante da indústria de eletroeletrônicos, destacou a necessidade de o governo brasileiro adotar medidas “bastante firmes”. Assim, afirmando que a incerteza atual afeta a confiança dos empresários em relação aos investimentos.

De acordo com Barbato, em 2020, o setor produziu 42,3 milhões de celulares no Brasil, mas esse número caiu para 32,3 milhões em 2023, refletindo a alta quantidade de aparelhos contrabandeados no mercado nacional. Ele observou que o mercado vendeu aproximadamente 10,9 milhões de celulares de forma não oficial, provenientes de importações via Paraguai, a preços até 40% inferiores aos da produção local.

Barbato enfatizou que esses dispositivos “não oficiais” representaram 25% das vendas totais de celulares no Brasil. Afirmando que “ninguém vai fazer investimentos significativos enquanto um quarto da indústria opera fora da legalidade”.