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Investidores e Gestores perdem otimismo em relação ao Brasil

O mercado financeiro brasileiro passou por uma transformação notável, testemunhou uma queda de 7% na bolsa e o dólar em seu valor mais alto.

Man using calculator to count income and outcome
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Nos últimos meses, o mercado financeiro brasileiro passou por uma transformação notável. Após recorde histórico do Ibovespa em 2023, abril registrou queda de 7% na Bolsa e dólar atingindo seu maior valor em 13 meses.

Muitos dos fundamentos macroeconômicos que anteriormente sustentavam projeções otimistas para 2024 se deterioraram. Agora, a incerteza persiste quanto à possibilidade de um cenário mais positivo se concretizar no futuro. O foco dos mercados neste ano é o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos. Os dados de inflação acima das projeções desmentiram as expectativas otimistas no final de 2023 para uma redução já em março de 2024 pelo Federal Reserve.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, considera que a euforia em torno de um corte de juros nos EUA em março foi precipitada. O mercado agora aguarda por um possível afrouxamento monetário em junho, julho ou setembro.

“Os dados de atividade econômica estão vindo mais fortes do que o mercado e os economistas projetavam. A inflação, que esperava-se que desse mais sinais de desaceleração, voltou a acelerar nos últimos dados do CPI e está em um patamar que ainda não dá segurança suficiente para o banco central norte-americano inicie ou sinalize um corte de juros”; Explica Sung.

As taxas dos títulos da renda fixa americana, as Treasuries de 10 anos, retornaram, portanto, a 4,5%, após cederem a 3,8% no final de 2023. Com a concorrência do investimento considerado um dos mais seguros do mundo.

O fluxo global de investidores migrou para os Estados Unidos. Até o início de abril, a saída de capital estrangeiro da B3 já totalizava US$ 22 bilhões, contudo, um dos principais motivos pressionando a má performance do Ibovespa.

No entanto, o cenário macroeconômico no exterior não foi o único pilar das projeções otimistas que desmoronou. Contudo, o tão discutido cenário fiscal brasileiro, que influenciou os mercados em 2023 e era considerado pelo menos sob controle, também sofreu deterioração.

Fiscal

Na segunda-feira (15), o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad alterou a meta fiscal de 2025 de superávit de 0,5% do PIB para déficit zero. Para alguns agentes do mercado, isso, contudo, sinaliza um fim para o novo arcabouço fiscal, já desacreditado por economistas e analistas devido à dependência do aumento de receita sem contrapartida de corte de gastos. A notícia abalou o mercado brasileiro, já afetado pela influência dos juros nos EUA e pelos ataques entre Irã e Israel no final de semana.

É um “choque sobre choque” como define Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos. “Sem a questão fiscal, talvez o cenário macro não pesasse tanto, ou vice-versa.”

“Em situações iniciais isoladas, o mercado prontamente encontra o novo equilíbrio. Mas o que está acontecendo é que já estávamos preocupados com uma coisa e chegou outra, são efeitos interligados”, diz Gardimam. “A percepção em relação ao Fed é um fator, mas o abandono do esforço fiscal, unido ao fato de que não existe qualquer tentativa de controle de gastos, também explica a mudança de parametrização”.

Com as mudanças fiscais no radar, o mercado brasileiro adotou uma postura pessimista. Os juros longos aumentaram e as taxas dos títulos do Tesouro Direto atingiram o “IPCA + 6%”, um indicador comumente associado a momentos de crise. O dólar subiu para o seu maior valor desde março de 2023 e, na terça-feira (16), ultrapassou os R$ 5,27.

O IBOV registrou uma queda de 1,41% nos três primeiros pregões da semana, acentuando, assim, a desvalorização anual para 7,46%, fechando em 124.171,15 pontos na quarta-feira (17).

Flávio Conde, head de renda variável da Levante Ideias de Investimento, destaca que a mudança na meta fiscal levanta preocupações sobre a relação dívida/PIB do país, o que levou os juros longos brasileiros a dispararem. O aumento das taxas futuras de juros impacta negativamente o preço dos ativos, mesmo que os fundamentos microeconômicos permaneçam inalterados. Conde ressalta que toda a frustração no mercado de ações resulta dessa instabilidade macroeconômica, levando a uma queda excessiva de muitas ações.