Risco político e fiscal

Dólar dispara novamente e se aproxima de R$ 6,20

Apesar das ações do governo e do BC, o mercado continua cético quanto à capacidade de equilibrar as contas públicas.

Imagem/Reprodução
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  • O dólar subiu 1,70%, atingindo R$ 6,19, após a aprovação do pacote fiscal e intervenções do Banco Central
  • O mercado duvida que o pacote fiscal seja suficiente para equilibrar as contas públicas, com estimativas de economia abaixo das do governo
  • O Banco Central realizou leilões de US$ 30 bilhões em dezembro, mas o impacto nas oscilações do dólar é limitado
  • O Boletim Focus aponta que o dólar deve fechar 2024 a R$ 6,00, refletindo incertezas fiscais e econômicas

O dólar iniciou esta segunda-feira (23) com alta de 1,70%, cotado a R$ 6,19. O movimento dos primeiros minutos de negociação praticamente reverte as quedas registradas nos últimos dias. Assim, refletindo um cenário de expectativas mistas para a economia brasileira.

A valorização da moeda norte-americana acontece, em grande parte, pela aprovação do pacote fiscal no Congresso Nacional. E, ainda, pelas sucessivas intervenções do Banco Central para tentar controlar a volatilidade do câmbio.

Reação do mercado

Embora o pacote fiscal tenha gerado uma reação inicial positiva no mercado, a percepção de que ele não será suficiente para equilibrar as contas públicas persiste.

Para muitos analistas, o ajuste nas despesas, ainda que significativo, não resolve o problema estrutural de endividamento e falta de sustentabilidade fiscal no médio e longo prazo. Essa visão influencia diretamente o humor do mercado e, consequentemente, o comportamento do câmbio.

Na última sexta-feira (20), o Ministério da Fazenda divulgou suas novas estimativas sobre as medidas de corte de gastos previstas no pacote fiscal. No entanto, as mudanças feitas na Câmara dos Deputados e no Senado, juntamente com a revisão do PIB (Produto Interno Bruto), resultaram em um impacto negativo de R$ 2,1 bilhões no orçamento de 2025 e 2026.

Apesar disso, o governo calcula uma economia de R$ 69,8 bilhões nos próximos dois anos. Contudo, o mercado permanece cético quanto a esses números. Projeções da XP Investimentos apontam que a economia real será de cerca de R$ 44 bilhões, um valor abaixo das estimativas do governo.

Essa divergência entre as expectativas do mercado e as estimativas oficiais alimenta o sentimento de incerteza e reflete na instabilidade do câmbio.

Intensificação de intervenções

Outro fator que influenciou o comportamento do dólar na semana passada foi a intensificação das intervenções do Banco Central no mercado cambial. Para conter a alta da moeda norte-americana, o Banco Central realizou leilões bilionários de dólares, movimentando quase US$ 30 bilhões em dezembro.

Essas ações do BC são parte de uma tentativa de equilibrar a oferta e demanda no mercado cambial, mas o impacto delas tem sido limitado diante da fragilidade da confiança no equilíbrio fiscal do país.

Além das ações do Banco Central, o presidente Lula também procurou dar uma sinalização positiva ao mercado.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Lula se comprometeu a manter a independência do Banco Central, ao lado de Gabriel Galípolo, futuro presidente da instituição.

“Quero que você saiba que jamais haverá da parte da Presidência qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central”, afirmou o presidente, tentando acalmar os ânimos do mercado, que temia possíveis pressões políticas sobre a autoridade monetária.

Lula também afirmou estar atento a eventuais novas medidas fiscais, além do pacote aprovado recentemente, demonstrando preocupação com a situação fiscal do país. Contudo, essa postura ainda não é suficiente para convencer o mercado de que o Brasil está no caminho certo para recuperar a confiança e alcançar a estabilidade econômica.

Mercado financeiro

O Boletim, divulgado nesta segunda-feira (23), revela que o mercado financeiro ainda espera um dólar cotado a R$ 6,00 no final de 2024. Embora o número represente uma expectativa de estabilização, ele também reflete o ceticismo dos investidores quanto à capacidade do governo de lidar com os desafios fiscais e econômicos que ainda se apresentam.

Em resumo, o dólar em alta nesta segunda-feira é um reflexo de um cenário econômico que continua a exigir atenção.

O pacote fiscal aprovado e as intervenções do Banco Central oferecem alguma estabilidade momentânea, mas o mercado segue desconfiado de que essas medidas sejam suficientes para resolver a crise fiscal do país.

O resultado é um câmbio volátil e um clima de incerteza que continuará a afetar a confiança dos investidores e a economia como um todo nos próximos meses.

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