O banco Itaú expressou sua preocupação com o cenário econômico do Brasil, recomendando aos investidores uma redução substancial na exposição a ações brasileiras, a menor dos últimos oito anos. A sugestão, dada em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (18), é para que os investidores moderados limitem sua participação em bolsa a apenas 5%, enquanto os arrojados devem manter apenas 7%. Para os conservadores, o Itaú sugere evitar qualquer investimento em renda variável.
“Estamos recomendando uma postura conservadora. A bolsa é um ativo real e, teoricamente, deve superar a inflação ao longo do tempo. Contudo, no curto prazo, a incerteza no país é grande”, afirmou Nicholas McCarthy, diretor de estratégia de investimentos do Itaú. Ele enfatizou a possibilidade de uma exposição nula, uma vez que a instituição já tomou decisões drásticas, como a redução de sua posição em títulos prefixados. No entanto, McCarthy acredita que seria difícil realizar a venda total de ações brasileiras, dado o histórico desse ativo no longo prazo.
O cenário fiscal do país, agravado por um pacote de medidas fiscais anunciado pelo governo, tem gerado incertezas. De acordo com os resultados do Questionário Pré-Copom (QPC), 78% dos analistas percebem uma piora na situação fiscal desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em novembro. As medidas fiscais impactarão em cerca de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, algo que não foi bem recebido pelo mercado, afetando as expectativas para o desempenho da economia.
A inflação é outro fator que preocupa. McCarthy projeta uma inflação de 5,5% para o final de 2024, superando a meta de 3%, com um possível aumento em 2025. Ele ressalta que, para o Banco Central, a resposta à inflação tem sido o aumento dos juros, com a Selic projetada para permanecer acima de 16% ao ano. “Esse grau de incerteza leva a um ciclo nervoso, fazendo com que tanto empresários quanto investidores estrangeiros hesitem em investir no Brasil, aguardando maior previsibilidade”, disse McCarthy.
Além disso, o Itaú também indicou que, diante da instabilidade no mercado de ações, seria mais seguro buscar opções de investimentos em ativos de menor risco, como papéis atrelados ao CDI e títulos de inflação. “Investir nesses ativos traz uma rentabilidade superior à inflação, o que é mais garantido no momento”, afirmou o executivo.
No crédito privado, McCarthy acredita que, apesar dos juros elevados, há algumas oportunidades, embora as empresas emissores de papéis possam enfrentar dificuldades. Ele também recomendou cautela com os fundos multimercados, que, segundo ele, têm mostrado desempenho melhor do que outros ativos de renda variável, embora de forma mais volátil.
“Os fundos multimercados vão continuar oferecendo boas oportunidades, pois os gestores têm experiência para lidar com as flutuações do mercado”.
disse McCarthy.
No panorama fiscal, o QPC do Banco Central revelou que 65% dos analistas acreditam que o impulso fiscal do governo terá impacto moderadamente positivo no crescimento do PIB em 2024, mas essa expectativa diminui para 2025, com 28% dos participantes prevendo um impacto negativo. A média de crescimento do PIB foi ajustada para 3,4% em 2025, demonstrando que as projeções continuam incertas, com o mercado se adaptando a uma realidade fiscal desafiadora.
Com essas análises, o Itaú busca orientar seus clientes a navegar em um ambiente econômico conturbado, onde a volatilidade e os riscos são cada vez mais presentes. A recomendação é clara: a cautela é essencial para proteger o patrimônio em tempos de incerteza econômica.