Energia bilionária

Maior hidrelétrica do mundo começa a ser construída na China; e pode turbinar ações da Vale e CSN na B3

Megaprojeto chinês de R$ 933 bilhões deve impulsionar demanda por aço e minério de ferro; analistas reagem com cautela.

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Crédito: Depositphotos
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  • China inicia construção da maior hidrelétrica do planeta com investimento de R$ 933 bilhões
  • Projeto pode elevar demanda por cimento, cobre, alumínio, aço e minério de ferro
  • Vale (VALE3), CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) estão entre os possíveis beneficiados na B3

A China deu início à construção da maior hidrelétrica do mundo, localizada no planalto tibetano, próxima às fronteiras com Butão e Nepal. O megaprojeto prevê cinco usinas em cascata, com capacidade de 300 bilhões de kWh por ano, o triplo da já imponente Três Gargantas. Com investimento estimado em US$ 167 bilhões (cerca de R$ 933 bilhões), a obra está prevista para durar uma década.

Embora o foco do projeto esteja em segurança energética e metas climáticas, o mercado já começa a reagir às possíveis consequências econômicas. Analistas veem impactos positivos nos setores de materiais básicos, especialmente para produtores de aço e minério de ferro, e parte dessas oportunidades pode bater direto na Bolsa brasileira.

Projeto gigante pode aquecer demanda por metais e cimento

De acordo com o Morgan Stanley, a hidrelétrica pode consumir entre 20 e 30 milhões de toneladas de cimento ao longo da execução. A Huaxin Cement, com fábrica a 400 km da obra, é uma das principais candidatas a suprir essa demanda. Além disso, siderúrgicas chinesas já começaram a receber pedidos ligados ao projeto.

A geração de energia e a construção de infraestrutura associada também devem elevar a procura por cobre e alumínio. A eletricidade produzida no Tibete será transmitida para regiões mais industrializadas, mas parte atenderá o consumo local, abrindo espaço para novos data centers e indústrias eletrointensivas.

Segundo a Genial Investimentos, esse movimento reforça a tentativa da China de reaquecer a economia por meio de investimentos em infraestrutura verde. Isso tende a beneficiar empresas exportadoras de commodities, como a Vale (VALE3), cujas ações já reagiram positivamente após o anúncio.

O Bradesco BBI também vê esse impulso com otimismo. Para o banco, o novo ciclo de obras pode sustentar o preço do minério de ferro, que segue resiliente mesmo com o desaquecimento do setor imobiliário chinês.

Vale, CSN e Gerdau estão no radar dos analistas

Ainda que o impacto direto nas empresas brasileiras seja limitado no curto prazo, analistas destacam possíveis efeitos indiretos sobre mineradoras e siderúrgicas listadas na B3. A Genial reforçou a recomendação de compra para Vale, com preço-alvo em R$ 64, apontando o cenário como favorável para o fluxo de caixa da companhia.

Já a CSN (CSNA3) e a Usiminas (USIM5), que também dependem da demanda chinesa, podem sentir efeitos positivos caso o consumo de aço suba. O BTG Pactual, no entanto, mantém uma visão mais cautelosa. Embora reconheça a dimensão do projeto, o banco estima que ele adicionará entre 1,4 milhão e 1,9 milhão de toneladas de demanda por aço nos próximos dez anos — volume ainda pequeno frente à produção global.

A Gerdau (GGBR4), por outro lado, continua sendo vista com bons olhos. Sua exposição ao mercado dos Estados Unidos reduz o impacto de oscilações na China e reforça a tese de diversificação geográfica como vantagem estratégica.

Apesar da expectativa com o megaprojeto, os analistas lembram que o excesso de capacidade global de aço ainda é uma barreira relevante. Isso limita altas mais consistentes nos preços das commodities e exige cuidado na hora de apostar no setor.

Otimismo no curto prazo, mas fundamentos seguem frágeis

O entusiasmo do mercado com o projeto tem impulsionado os preços do minério de ferro, que recentemente superaram os US$ 104 por tonelada. Para o BTG, no entanto, essa alta se deve mais a fluxos especulativos do que a uma mudança estrutural de demanda.

O banco continua com uma visão cética em relação aos fundamentos de médio e longo prazo. Para a equipe de análise, os preços devem retornar a níveis abaixo de US$ 90 por tonelada, o que pode pressionar os resultados de empresas como a Vale. Já no aço, o cenário global segue competitivo demais, dificultando recuperação ampla para Usiminas e CSN.

A expectativa de estímulos adicionais por parte do governo chinês ainda é um ponto de atenção. Se confirmada, essa nova rodada de incentivos pode renovar o fôlego dos mercados, mesmo que de forma temporária.

Nesse ambiente, os investidores precisam equilibrar o otimismo com a prudência. A exposição aos setores de materiais básicos pode ser vantajosa, mas exige acompanhamento constante das movimentações da China e das tendências globais de oferta e demanda.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.