- A Gavekal considera o Brasil o mercado mais decepcionante de 2024, com queda de ativos e altos juros, impactando negativamente os investidores
- O mercado pode começar a precificar a eleição de 2026, mas os desafios econômicos estruturais permanecem, como o sistema tributário e excessivas regulamentações
- Apesar de juros elevados, ações e títulos no Brasil oferecem boas oportunidades, mas o risco de crise política continua a afetar a confiança
A Gavekal, uma das principais casas de análise e pesquisa do mercado financeiro, destacou o Brasil como o “mercado mais decepcionante” de 2024. Ainda, com uma série de fatores que têm corroído o valor de ativos, deixando os investidores em um cenário desafiador.
O cenário de queda sincronizada nos mercados acionários, juntamente com o prêmio de risco elevado embutido na curva de juros, tem gerado um ambiente sem alternativas viáveis para aqueles que tentam se proteger.
A análise, no entanto, foi detalhada em um relatório assinado pelo CEO da Gavekal, Louis-Vincent Gave, que não poupou críticas ao governo do presidente Lula. Contudo, cujas políticas fiscais têm sido responsabilizadas pela deterioração da situação econômica.
Frustração
De acordo com a Gavekal, o sentimento de frustração é palpável no mercado financeiro brasileiro, especialmente nos principais centros financeiros, como os corredores da Faria Lima, em São Paulo.
A culpa por esse quadro de desvalorização, segundo a Gavekal, tem sido amplamente atribuída à gestão fiscal do atual governo. Especialmente, os planos fiscais expansivos propostos por Lula.
Esses planos têm levado à correção generalizada de ativos. Como câmbio, títulos públicos e ações, resultando em uma “destruição de valor significativa” para os investidores.
Juros elevados
Em seu relatório, Gave questiona a atratividade dos investimentos em ações diante dos elevados juros dos títulos públicos, que atualmente apresentam rendimentos de cerca de 15% ao ano.
“Quem vai querer se incomodar com ações quando os juros de títulos públicos de dez anos do governo estão tão elevados?”, indaga o CEO da Gavekal, destacando que o alto prêmio de risco tem tornado o cenário especialmente desafiador para os investidores locais.
Apesar do quadro negativo, a Gavekal acredita que o mercado brasileiro já tenha precificado uma série de notícias ruins. E que, por enquanto, poucos eventos adicionais poderiam causar um estrago ainda maior.
No entanto, a casa de análise não descarta o risco de uma crise constitucional ou política, que poderia agravar ainda mais a situação do país. Nesse cenário, o impacto da política local no mercado financeiro continua a ser um fator de risco relevante.
Expectativas para 2025
Embora a Gavekal se mostre cética em relação ao desempenho do Brasil em 2024, a análise aponta para uma possível mudança nas expectativas do mercado a partir do fim de 2025.
A casa de análise acredita que o mercado pode começar a antecipar o cenário das eleições presidenciais de 2026. Assim, considerando que Lula provavelmente não se lançará à reeleição devido a questões de saúde e à sua idade avançada.
Neste contexto, a Gavekal sugere que os investidores poderão começar a apostar em uma possível mudança para a direita na política brasileira. No entanto, o que afirmam que “poderia trazer alguma esperança” de recuperação para o país.
Contudo, a Gavekal ressalta que tal mudança política, por si só, não será suficiente para resolver os problemas estruturais que o Brasil enfrenta. Ainda, como excessivas regulamentações, pensões generosas para funcionários públicos e um regime tributário arcaico.
Em relação ao desempenho das commodities, que historicamente têm sido um fator importante para a economia brasileira, a Gavekal adota uma visão mais positiva.
A casa de análise acredita que o Brasil seguirá altamente dependente do ambiente global de commodities, embora minimize o risco de um colapso nesse setor em 2025.
O desempenho firme das commodities de energia no início de 2025 e a sinalização da China de um crescimento econômico contínuo são fatores que podem trazer alguma estabilidade para o país.
Oportunidades para os investidores
Para os investidores, a Gavekal observa que, apesar de todos os riscos e desafios enfrentados pelo Brasil, ainda há oportunidades.
O mercado local de ações, por exemplo, apresenta múltiplos de P/L baixos, com muitas empresas negociando a preços atraentes e oferecendo dividendos elevados.
No entanto, o alto juro real no Brasil, que segue muito acima de outros mercados globais, limita o potencial de valorização das ações locais.
Como Gave destaca, é difícil imaginar um cenário de forte desempenho para as ações enquanto os juros permanecem tão elevados.
Além disso, a Gavekal aponta que, em termos de rentabilidade, os títulos do Brasil ainda se destacam. Assim, oferecendo um juro real superior ao de outros países com alta liquidez, como os Estados Unidos.
Os títulos brasileiros, especialmente em um cenário de alta dos preços do petróleo, tendem a apresentar um desempenho superior em relação às Treasuries americanas. No entanto, o que pode atrair investidores em busca de maior rentabilidade.
Entretanto, o cenário político e econômico do Brasil, se não passar por mudanças estruturais profundas, deve continuar a ser um desafio para os investidores em 2025.
O risco de uma continuidade de crises políticas e a persistência de uma alta carga tributária e uma burocracia pesada são fatores que ainda pesam negativamente sobre o país.
Em resumo, o Brasil está em um momento de grandes dificuldades econômicas e políticas, e os investidores locais têm sentido os efeitos dessa situação. Embora existam algumas oportunidades, especialmente no mercado de ações e no setor de commodities, o cenário geral continua desafiador.
Para os analistas da Gavekal, o Brasil de 2024 está longe de ser uma história de sucesso, e as perspectivas para o futuro imediato não são muito mais otimistas.