
- Risco de execução e sensibilidade do caixa seguem como principais pontos de atenção.
- Plano 2026-2030 prevê US$ 109 bi em capex e dividendos entre US$ 45 bi e US$ 50 bi.
- Premissas do Brent acima do consenso levantam alerta entre analistas.
A Petrobras (PETR4) apresentou, na noite da última quinta-feira (27), o Plano Estratégico 2026-2030. Ele definiu os investimentos de US$ 109 bilhões e uma política de dividendos entre US$ 45 bilhões e US$ 50 bilhões. A divulgação trouxe alívio inicial aos investidores, já que a redução do capex já estava no radar do mercado.
Ainda assim, análises mostram que parte das premissas usadas pela estatal, especialmente o preço do Brent, projetado a US$ 70, pode estar acima do consenso atual, o que reforça riscos para execução futura do plano.
Mercado vê plano positivo, mas ressalta impacto de premissas mais otimistas
O novo plano representa queda de 1,8% nos investimentos em relação ao ciclo anterior. A companhia também retirou da projeção os dividendos extraordinários, antes estimados em até US$ 10 bilhões, mantendo apenas a política ordinária. Para o mercado, essa postura indica busca por maior previsibilidade financeira.
O JPMorgan classificou o plano como positivo. O banco destacou que a Petrobras reforçou foco em projetos de maior retorno, especialmente no Pré-Sal, como os campos de Búzios, considerados ativos com “excelente economia e baixa taxa de declínio”. Segundo os analistas, a estratégia mantém disciplina e fortalece a vantagem competitiva da estatal no longo prazo.
Mesmo assim, parte dos especialistas vê margens estreitas para erros. Com menos espaço para dividendos extraordinários e com projeções mais sensíveis ao cenário internacional, a estatal passa a depender ainda mais da execução eficiente dos projetos.
Preço do Brent preocupa analistas pela sensibilidade do fluxo de caixa
A curva de produção revisada para cima foi um dos pontos que mais animou o mercado. Entretanto, analistas destacam que a Petrobras trabalha com Brent a US$ 70, valor superior ao preço atual e ao que muitos bancos projetam para os próximos anos.
O JPMorgan chamou atenção para o risco dessa premissa. Cada queda de US$ 10 no barril reduz cerca de US$ 5 bilhões no fluxo de caixa operacional anual. Isso aumenta a pressão sobre investimentos e eleva incertezas no cenário de preços mais baixos, como o atual.
A Genial Investimentos reforçou essa leitura. Em relatório, a casa alertou que a Petrobras usou premissas de US$ 63 em 2026 e retorno a US$ 70 entre 2027 e 2030, valores considerados otimistas diante da curva futura do Brent. O câmbio estimado em R$ 5,80 também foi visto como conservador demais para o ambiente atual.
Dividendos seguem fortes, mas execução e capex levantam dúvidas
Embora o dividendo ordinário projetado para o ciclo seja relevante, analistas afirmam que a previsibilidade depende da capacidade da Petrobras de executar o plano sem atrasos e sem pressão excessiva sobre o caixa. Parte dos investimentos ainda está em fase de avaliação, aumentando a chance de ajustes, sobretudo em momentos de queda do petróleo.
O CFO Fernando Melgarejo já havia alertado, na teleconferência do terceiro trimestre, que aportes não contratados poderiam ser adiados caso o Brent permanecesse pressionado. O cenário reforça a avaliação do Goldman Sachs, que manteve visão neutra diante do risco de projetos que podem não se materializar.
O Bradesco BBI destacou que o mercado reagiu de forma mais cautelosa por conta do volume elevado de investimentos no curto prazo. Para os analistas, a Petrobras buscou mostrar resiliência, mas isso tende a ser melhor recebido quando as premissas são mais conservadoras, o que não ocorreu no caso do Brent.