Ajuste

Selic pode subir 1 ponto

Mercado aposta em alta de 1 ponto na Selic, impulsionado por incertezas fiscais e inflação.

Arte: GDI
Arte: GDI

A poucos dias da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nesta quarta-feira (11), o mercado financeiro ajusta suas expectativas sobre a taxa básica de juros (Selic). Segundo dados recentes, a probabilidade de uma elevação de 1 ponto percentual já alcança 50%, consolidando-se como a principal aposta dos investidores. Caso essa previsão se confirme, a Selic encerrará 2024 em 12,25% ao ano, acima da estimativa de 12% divulgada na última pesquisa Focus.

Na semana passada, as chances de um aumento de 1 ponto percentual eram de apenas 5,5%. Após o anúncio de medidas fiscais do governo, incluindo cortes de despesas estimados em R$ 72 bilhões para 2025 e 2026 e uma proposta controversa de isenção do imposto de renda para rendas mensais abaixo de R$ 5 mil, o cenário mudou rapidamente. Na sexta-feira (6), a probabilidade subiu para 50%, enquanto a aposta em uma alta de 0,75 ponto caiu para 43,5%.

A falta de confiança do mercado nas medidas do governo impactou também o câmbio. O dólar ultrapassou a marca de R$ 6, impulsionado por incertezas fiscais e uma saída expressiva de capitais estrangeiros. Segundo analistas, essa alta pressiona a inflação e reforça a necessidade de um aperto monetário mais agressivo.

Especialistas apontam riscos

“O mercado percebe que os cortes de gastos anunciados pelo governo podem não ser suficientes para estabilizar a dívida pública no longo prazo”.

afirmou José Márcio Camargo, economista chefe da Genial Investimentos ao jornal Valor.

Ele também destaca que a proposta de isenção do imposto de renda tem potencial inflacionário. “Cerca de 90% dos trabalhadores brasileiros terão mais renda disponível, aumentando o consumo sem uma contrapartida na oferta de produtos e serviços. Isso tende a pressionar os preços”, avalia.

Gabriel Galípolo, próximo presidente do Banco Central, também contribuiu para reforçar a percepção de alta. Em recentes declarações, ele sugeriu que o ciclo de ajuste monetário ainda não atingiu seu objetivo de controlar as expectativas inflacionárias.

Impactos no mercado

A incerteza sobre a trajetória fiscal e monetária já afeta a dinâmica dos mercados. Além do câmbio elevado, os juros futuros dispararam, refletindo a maior percepção de risco. O governo, que esperava um “choque positivo” nas expectativas com as medidas anunciadas, enfrenta agora o efeito inverso.

Segundo cálculos do mercado, os investidores exigirão prêmios mais altos para adquirir títulos públicos, aumentando o custo de financiamento do governo. Esse movimento evidencia a pressão por juros mais elevados, mesmo que temporariamente, para conter os efeitos negativos.