- O governo eliminou grande parte dos controles cambiais e permitiu maior liberdade para negociação do peso, que subiu 11% em um único dia
- Títulos soberanos tiveram um dos melhores desempenhos entre emergentes e ações como a da YPF subiram até 17%, impulsionadas pelo novo acordo com o FMI
- Apesar da euforia inicial, analistas alertam para os riscos da inflação e o desafio político de manter as reformas até as eleições de meio de mandato
O governo da Argentina deu um passo significativo em sua política econômica ao eliminar grande parte das restrições cambiais, permitindo maior liberdade para negociação do peso no mercado.
Com essa medida, a moeda local se valorizou fortemente, sendo negociada a 1.196 pesos por dólar nesta segunda-feira (14). Dessa forma, o que representa uma alta de 11% em relação aos níveis anteriores.
Paralelamente, os títulos soberanos argentinos tiveram uma das melhores performances entre os mercados emergentes, com os rendimentos das notas de referência com vencimento em 2035 caindo para 11,6% ao ano, segundo dados da Bloomberg.
A recuperação se estendeu também para ativos de empresas argentinas, como a petroleira YPF, cujas ações subiram 17% nos Estados Unidos. Contudo, registrando o maior avanço diário desde novembro de 2023.
A nova estratégia econômica integra o plano firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que inclui um programa de US$ 20 bilhões. O ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou que o país receberá uma primeira parcela de US$ 15 bilhões nesta terça-feira (15), após já ter garantido US$ 12 bilhões na última sexta (12).
Fim da “mistura de dólares” e liberação gradual
Outra medida emblemática foi o fim da regra conhecida como “mistura de dólares”, que obrigava empresas exportadoras a venderem parte das receitas no câmbio oficial, em vez de direcionarem tudo ao mercado livre.
Além disso, o governo eliminou o limite de US$ 200 por mês para a compra de moeda estrangeira por pessoas físicas. Dessa forma, aumentando a liberdade individual no câmbio.
As autoridades também prometeram acelerar pagamentos de dividendos acumulados e liberar importações de forma mais célere. A moeda agora pode flutuar dentro da faixa de 1.000 a 1.400 pesos por dólar, criando um ambiente mais previsível para investidores e empresas.
Os gestores de fundos, que pressionavam por mudanças há meses, reagiram positivamente. William Blair, gestor internacional de dívida de mercados emergentes, afirmou que a Argentina vive um “dos melhores momentos para acumular reservas”.
A percepção geral do mercado é de que o país finalmente iniciou uma normalização de sua política econômica, apesar dos riscos políticos.
Mercado avalia impacto das reformas de Milei
A recuperação dos ativos argentinos também reflete a expectativa de que o presidente Javier Milei consiga manter o ritmo de reformas econômicas estruturais até as eleições de meio de mandato, marcadas para o segundo semestre. A percepção de que ele conta com apoio suficiente no Congresso e apoio popular crescente reforça essa visão.
No entanto, analistas alertam que a inflação ainda representa um risco considerável. O próprio Milei afirmou que o governo precisa manter medidas duras por mais seis meses para conseguir reduzir os preços de forma sustentável.
A desvalorização do peso ao longo dos últimos meses impactou fortemente o custo de vida, e o sucesso do programa econômico dependerá da capacidade de controlar a inflação sem sacrificar o apoio popular.
Especialistas também apontam que a flexibilização cambial pode não ser suficiente para garantir a estabilidade econômica a longo prazo. Segundo a RBC Bluebay, “a mudança é um passo necessário, mas ainda há incerteza sobre a sustentabilidade da política de Milei”.
Ainda assim, os mercados receberam as medidas com entusiasmo, refletido na forte valorização de ativos e redução do risco-país. Resta saber se o governo argentino conseguirá sustentar o ritmo das reformas e consolidar os ganhos econômicos até as próximas eleições.