O dólar disparou novamente, alcançando a marca histórica de R$6,30 nesta quinta-feira (19), gerando novas especulações sobre o comportamento da moeda norte-americana. No entanto, Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), afastou a ideia de um “ataque especulativo coordenado” por parte do mercado financeiro. Durante uma entrevista coletiva para detalhar os dados do relatório de inflação, Galípolo afirmou que o movimento da moeda é resultado de “dinâmicas normais” do mercado, sem a existência de uma ação orquestrada.
“Eu acho que a ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem a situação atual. O que estamos observando é um movimento de mercado que tem várias causas e direções”.
explicou Galípolo.
Ele também destacou que o mercado financeiro não pode ser tratado como um bloco monolítico, com todos os agentes agindo no mesmo sentido, mas como um sistema de posições contrárias, onde há tanto vencedores quanto perdedores dependendo da direção dos preços.
Ainda no mesmo dia, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que entra em recesso nesta sexta-feira (20), afirmou que o BC está preparado para agir caso necessário, afirmando que o país possui “muita reserva” para enfrentar essas flutuações. Campos Neto também reiterou que não há intenção da autoridade monetária de proteger um nível específico de câmbio, mas de garantir a estabilidade do mercado.
No entanto, o economista também mencionou a existência de uma “saída atípica” de dólares no final do ano, algo que pode estar impactando a cotação da moeda. De acordo com ele, essa saída atípica não é incomum, especialmente em períodos de final de ano, mas que o BC está monitorando a situação de perto. “Se necessário, vamos atuar”, afirmou Campos Neto.
Apesar das declarações de Galípolo e Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou uma postura mais cautelosa sobre a possibilidade de ataques especulativos. Na véspera, Haddad comentou que não descartava essa possibilidade e afirmou que a Fazenda trabalha com os fundamentos econômicos para estabilizar a situação. “Esses movimentos especulativos são controlados pela intervenção do Tesouro e do Banco Central”, disse Haddad.
Em um cenário de incertezas no mercado, o Banco Central tem realizado intervenções para tentar conter a valorização do dólar. Na manhã de quinta-feira, a autoridade monetária fez duas operações de venda de dólares, totalizando US$ 8 bilhões, como parte de seus esforços para reduzir a volatilidade da moeda.
A alta contínua do dólar, que já fechou a quarta-feira (18) a R$6,26, é vista por especialistas como reflexo de fatores internos e externos. Enquanto o mercado observa as movimentações do governo e do BC, a expectativa é que novas intervenções possam ser necessárias caso a moeda continue sua escalada.
A situação fiscal do Brasil, com um crescente déficit e desafios no controle da inflação, também pesa no comportamento da moeda. Galípolo, no entanto, reafirmou que o governo tem se comunicado de forma clara e que tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto outros ministros compreendem a abordagem adotada pelo BC. “O presidente da República concorda com a nossa interpretação”, disse Galípolo, reforçando a ideia de que os movimentos de mercado devem ser analisados sem alarmismo, mas com cautela.