
O otimismo parecia tomar conta do mercado de criptomoedas nos últimos meses, impulsionado por uma mudança significativa em direção a políticas mais amigáveis à indústria cripto, especialmente nos Estados Unidos. Muitos investidores e empresas do setor esperavam colher os frutos dessa nova postura já no início do ano. No entanto, a realidade do primeiro trimestre de 2024 se mostrou bem diferente e não foi tão lucrativa quanto as expectativas sugeriam. Pelo contrário, foi um período de perdas significativas para muitas das principais companhias do setor.
Um exemplo claro dessa turbulência é a Coinbase, a maior e mais conhecida corretora de criptomoedas dos Estados Unidos. Suas ações na bolsa de valores sofreram o pior desempenho trimestral em dois anos. Entre 1º de janeiro e 31 de março, os papéis da Coinbase despencaram impressionantes 31%. Essa queda vertiginosa praticamente apagou todos os ganhos que a empresa havia acumulado no final do ano passado, um período marcado pelo entusiasmo em torno da agenda pró-cripto sinalizada pelo governo de Donald Trump.
Coinbase não esteve sozinha nessa maré baixa
Outras empresas importantes ligadas ao universo cripto também sentiram o golpe. A Riot Platforms, uma gigante da mineração de Bitcoin, viu suas ações caírem mais de 30% no mesmo período. A Core Scientific, outra mineradora relevante (que inclusive passou por dificuldades financeiras recentes), teve uma queda ainda mais acentuada, próxima dos 50%. O conglomerado cripto Galaxy Digital Holdings, liderado pelo conhecido investidor Mike Novogratz, também não escapou, registrando uma perda de 40% no valor de suas ações.
O desempenho negativo não se limitou às ações das empresas. Os próprios preços das criptomoedas também seguiram uma trajetória descendente. O Bitcoin (BTC), carro-chefe do mercado, perdeu cerca de 10% de seu valor desde o início do ano até o final de março, frustrando as expectativas de continuação da alta vista anteriormente. Essa queda generalizada acendeu um sinal de alerta no setor.
Mas o que está por trás dessa reviravolta negativa? A resposta parece estar menos ligada a problemas internos do setor cripto e mais conectada a preocupações macroeconômicas crescentes, ou seja, fatores que afetam a economia como um todo. Analistas apontam o dedo principalmente para a escalada da guerra comercial promovida pelo presidente Donald Trump. A implementação de tarifas abrangentes sobre produtos de alguns dos aliados mais próximos dos EUA gerou um temor generalizado entre os investidores. A preocupação é que essas tarifas (impostos sobre importação) aumentem a inflação (já que produtos importados ficam mais caros) e, consequentemente, desacelerem a economia a ponto de levar a uma recessão.
Michael Colonnese, analista de criptoativos do banco de investimento H.C. Wainwright & Co, afirmou à revista Fortune que a recente queda nos preços das criptomoedas é um “resultado direto” dessas preocupações macroeconômicas mais amplas, tanto nos EUA quanto no exterior. “As manchetes sobre tarifas têm sido um grande, grande vento contrário para os mercados não acionários e para os preços dos ativos digitais”, disse ele, usando a metáfora do “vento contrário” (headwind) para indicar uma força que dificulta o avanço.
Essa incerteza econômica não afetou apenas o mercado cripto, claro. O medo se espalhou por toda a economia, levando o S&P 500, um dos principais índices da bolsa americana, a fechar o trimestre com seu pior desempenho desde 2022. No entanto, o mercado cripto sofreu de forma mais acentuada do que os mercados tradicionais. Por quê?
Colonnese explica que as criptomoedas e as ações de empresas relacionadas são frequentemente vistas como “ativos de risco”. Isso significa que, em tempos de incerteza econômica, quando o medo aumenta, os investidores tendem a ser mais cautelosos. Eles buscam reduzir o risco geral de suas carteiras de investimento, e uma das primeiras atitudes é vender esses ativos considerados mais arriscados ou voláteis, como as criptomoedas.