Com um volume recorde de dry powder de US$ 3,7 trilhões (US$ 1,1 trilhão em fundos de aquisição), gestores de ativos têm um bom incentivo para voltar à ação após quatro trimestres de relativa inatividade. Eles também enfrentam uma crescente pressão para liberar o enorme excedente de empresas em suas carteiras, o que está atrapalhando o processo de captação de fundos.
Em 2023, temos visto uma forte recuperação dos mercados, com a alta de 16% do S&P 500 no primeiro semestre e o índice Nasdaq avançando 32%. A janela para IPOs foi aberta, permitindo que várias empresas apoiadas em private equity apresentassem ofertas públicas. A inflação está mais moderada em grande parte das principais economias do mundo (com exceção do Reino Unido) e os bancos estão saneando seus balanços. Diversos credores conseguiram se livrar de mais da metade das dívidas de alavancagem “penduradas” que assumiram antes de a economia desacelerar.
Adicionalmente, os fundos de aquisição alcançaram US$ 2,8 trilhões em ativos não realizados, causando escassez de liquidez para os limited partners (LPs), o que contribuiu para a queda abrupta na captação de fundos nos últimos 12 meses. Para LPs com problemas de caixa, a distribuição de capital está se tornando a nova taxa interna de retorno. Cerca de 60% dos LPs afirmam que preferem receber o dinheiro a reinvesti-lo em um fundo secundário liderado pelos general partners (GPs), mostrando que os LPs preferem liquidez em vez de um retorno ligeiramente maior de cada empresa da carteira.
Isso sugere que a prioridade da indústria nos próximos meses será reiniciar o giro de capital, aumentando as distribuições aos LPs, seja por meio de saídas, fundos secundários liderados, recapitalizações ou outras soluções de liquidez. Veja a seguir os detalhes sobre como essas movimentações se desenrolaram nos primeiros seis meses de 2023, de acordo com o relatório da Bain:
Investimentos: os fundos de aquisição geraram globalmente US$ 202 bilhões em valor de negócios durante o primeiro semestre de 2023, o que equivale a uma queda de 58% sobre o primeiro semestre de 2022. Se calculados de forma anual, tiveram uma redução de 41% em relação ao total de 2022. As 863 transações fechadas ao longo do primeiro semestre sinalizam uma queda de 29% ante o ano anterior, com adições representando uma parcela significativa do mercado global de aquisições – 9% do valor total das transações no primeiro semestre do ano e 56% do número total de transações;
Saídas: gestores de aquisições têm um acúmulo de ativos não realizados que vêm reduzindo as distribuições aos investidores. No primeiro semestre do ano, as saídas apoiadas por aquisições alcançaram US$ 131 bilhões – uma queda de 65% em relação ao mesmo período do ano anterior. Se calculados de forma anual, o valor das saídas segue uma tendência de queda de 54% e seu volume está 30% menor se comparado com 2022. Com cerca de 26 mil empresas em carteira nos fundos de aquisição por quase seis anos, os gerentes precisam desbloquear os US$ 2,8 trilhões em valor não realizado que elas representam. A maioria desses ativos está chegando ou já ultrapassou o período típico de cinco anos para uma saída de private equity. Quase um quarto deles foi mantido por mais de seis anos e mais da metade por mais de quatro anos;
Captação de recursos: após uma década de crescimento na captação de capital privado, com quase US$ 12 trilhões levantados desde 2012, conseguir recursos em 2023 tem sido desafiador. Os LPs continuam com uma grande quantidade de compromissos não financiados, fluxo de caixa negativo devido à queda acentuada nas saídas e desequilíbrio significativo entre oferta e demanda, já que quase 14 mil fundos de capital privado competem por um total de US$ 3,3 trilhões em capital. O valor global captado nos primeiros seis meses caiu para US$ 517 bilhões, uma queda de 35% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Se calcularmos de forma anual, ela apresenta uma redução de 28% em valor e 43% em termos de fundos fechados ante o total de 2022. Os dados de captação de recursos podem ser um indicador atrasado, o que pode tornar o cenário atual mais favorável. Outro sinal ainda mais promissor é o nível atual de oferta e demanda, com o aumento da concorrência pressionando os fundos a profissionalizar suas capacidades de captação de recursos.
Hora de atualizar
Neste momento, a abordagem mais prática é revisar a carteira e classificar as empresas do portfólio com base em seu desempenho e potencial de retorno. Movimentos como esses são a essência da criação de valor – aprimorados pela riqueza de novos dados e ferramentas de análise disponíveis para diagnosticar problemas e encontrar soluções.
Em um momento em que os LPs estão em busca de soluções de liquidez, os GPs devem encontrar maneiras de tirar ativos envelhecidos de suas carteiras, alcançando retornos aceitáveis. Ao mesmo tempo, precisam recalibrar a forma de impulsionar o valor das empresas que planejam manter no portfólio. Os fundos de private equity sempre encontraram maneiras de aproveitar as dinâmicas do final do ciclo a seu favor – mas sempre estão em movimento.