Dólar dispara e Lula culpa especulação: "Quem aposta no fracasso do real vai quebrar a cara"

Dólar sobe com tensão entre mercado e governo; Lula critica especulação e defende foco social

Foto/Reprodução: Lula foto oficial
Foto/Reprodução: Lula foto oficial | Foto/Reprodução: Lula foto oficial

Dólar sobe com tensão entre mercado e governo

O mercado financeiro reagiu negativamente nesta sexta-feira (29) ao anúncio do pacote fiscal do governo federal, considerado insuficiente para fechar as contas públicas. Paralelamente, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçaram o atrito com analistas financeiros, que apontam falta de prioridade no ajuste fiscal. O dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,51, uma alta de 1,2%, atingindo o maior patamar desde janeiro de 2022.
O plano apresentado pela equipe econômica foi criticado por sua abordagem tímida em relação ao controle de despesas. Apesar de indicar medidas para conter o déficit fiscal, o projeto foi ofuscado pela insistência de Lula em defender a isenção no Imposto de Renda para determinados grupos, uma promessa de campanha que, segundo analistas, dificulta o equilíbrio orçamentário.

“Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. Há uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o real. Não é normal o que está acontecendo”.

Disse Lula em entrevista à Rádio Sociedade no início de julho.

As declarações do presidente sobre o câmbio têm gerado volatilidade no mercado. Lula tem frequentemente apontado para a especulação como fator por trás da alta do dólar. Em um evento em 27 de junho, ele rebateu críticas sobre a influência de suas falas no câmbio.

“Eu dei entrevista, acabou, e vi a manchete de colunistas: ‘Dólar subiu por causa da entrevista do Lula’. Esses cretinos não perceberam que o dólar subiu 15 minutos antes da entrevista?”, questionou o presidente. Ele também alfinetou investidores que apostam na desvalorização do real:

“Quem aposta no crescimento do dólar e no fracasso do real vai quebrar a cara”.

Declarou o petista.

Apesar das críticas, os dados econômicos apresentados por Lula durante a mesma entrevista pintam um cenário misto. “O PIB está crescendo mais que a previsão do mercado, desemprego caindo mais que a previsão do mercado, massa salarial crescendo mais. 87% dos acordos salariais estão com ganho real”, argumentou.

Política social como prioridade

Lula tem reiterado que o foco de seu governo está na inclusão social e na melhora das condições de vida da população mais vulnerável. Durante uma reunião com empresários da indústria de alimentos em 16 de julho, o presidente justificou a política de aumento do salário mínimo e sua conexão com o Produto Interno Bruto (PIB).

“O povo mais pobre, o povo mais humilde, quando ele tem um pouquinho de dinheiro, ele não compra dólar; ele compra comida. Ele compra coisa para a família. É esse País que nós queremos que dê certo. É por isso que a gente aumenta o salário mínimo de acordo com o PIB”.

Afirmou Lula.

Mercado e governo em lados opostos

O atrito entre governo e mercado financeiro tem sido uma constante. Lula, em tom crítico, tem acusado o setor de perpetuar uma visão pessimista sobre a economia. “O mercado sempre precifica desgraça, está sempre torcendo para as coisas darem errado”, declarou o presidente em entrevista ao UOL, no final de junho.

Esse embate ocorre em meio a uma conjuntura econômica delicada, com o Brasil enfrentando pressões inflacionárias, desafios fiscais e a necessidade de atrair investimentos. Especialistas apontam que o discurso de Lula, aliado à percepção de incerteza fiscal, eleva o risco-país e dificulta a estabilização cambial.